terça-feira, 15 de maio de 2007

Repercussões negativas das declarações do Papa Bento XVI

Notícias Papais 4

Nesta reportagem do Diário de Cuiabá saem novas entrevistas com líderes indígenas, inclusive os Makuxi do CIR, que têm uma ligação tão estreita com a Igreja Católica. Eles pôem o CIMI na fogueira das críticas ao Papa, e o seu conselheiro teológico, Paulo Suess, declara-se aborrecido com as declarações do Padre. Já alguns bispos desculpam a frase papal alegando que ele não veio ao Brasil para pôr uma camisa de força na Igreja.

Enfim, vale ler a matéria, bastante ampla.
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Declaração de papa ofende índios

Líderes indígenas disseram, ontem, ter ficado ofendidos pelas declarações "arrogantes e desrespeitosas" do papa Bento 16, de que a Igreja Católica os havia purificado, e que retomar suas religiões originais seria um retrocesso. Num discurso para os bispos latino-americanos e do Caribe no encerramento de sua visita ao Brasil, o pontífice afirmou que a Igreja não havia se imposto aos povos indígenas das Américas. Segundo o papa, os índios receberam bem os padres europeus, já que "Cristo era o salvador que esperavam silenciosamente".

Acredita-se que milhões de índios tenham morrido no continente americano em conseqüência da colonização européia, depois da chegada de Cristóvão Colombo, em 1492.

"É arrogante e desrespeitoso considerar nossa herança cultural menos importante que a deles", disse Jecinaldo Satere Mawe, coordenador-chefe da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).

Vários grupos indígenas escreveram uma carta para o papa na semana passada pedindo o apoio dele na defesa de suas terras e de sua cultura. Eles disseram que os índios vêm sofrendo um "processo de genocídio" desde a chegada dos colonizadores europeus.

Os conquistadores contavam com a bênção dos sacerdotes católicos, embora alguns destes depois tenham defendido os índios e muitos hoje estão entre os mais eloqüentes aliados dos índios.

"O Estado usou a Igreja para fazer o trabalho sujo na colonização dos índios, mas eles já pediram perdão ... quer dizer que o papa está voltando atrás com a palavra da Igreja?", questionou Dionito José de Souza, líder da tribo Makuxi, de Roraima.

Em 1992, o papa João Paulo II falou dos erros na evangelização dos povos nativos das Américas.

As declarações do papa Bento XVI não desagradaram só aos índios, mas também aos padres católicos que os apóiam em sua luta, disse Sandro Tuxa, que comanda o movimento das tribos do Nordeste.

"Repudiamos as declarações do papa. Dizer que a dizimação cultural de nosso povo representa uma purificação é ofensivo e, francamente, assustador", disse Tuxa.

"Acho que (o papa) tem sido mal assessorado", acrescentou.

O próprio grupo católico que defende os índios no Brasil, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), distanciou-se do papa.

"O papa não entende a realidade dos índios daqui, sua declaração foi equivocada e indefensável", disse à Reuters o padre Paulo Suess. "Eu também fiquei aborrecido".

"CAMISA DE FORÇA"

O presidente do Departamento de Comunicação da 5ª Celam (Conferência Geral do Episcopado Latino-americano), monsenhor Baltazar Porras Cardozo, arcebispo de Mérida (Venezuela), disse ontem o papa Bento 16 não veio ao Brasil para colocar uma "camisa de força" na Igreja Católica ou nas discussões da conferência.

"As palavras iniciais do sumo pontífice na 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano marcou um momento importante porque não foi o que muitas vezes se pensa: uma camisa de força que o papa veio pôr nos bispos que estão reunidos. Pelo contrário, veio apresentar um desafio à igreja, ao continente e aos seus pastores com grande sentido de valor e fraternidade. Ele fez uma grande reflexão que indica um grande conhecimento dos problemas do nosso continente de maneira bastante afetuosa", afirmou.

O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo de Mariana (MG), disse concordar "plenamente" com as palavras do monsenhor Baltazar.

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Notícias Papais 3

Nesta matéria de O Globo, Dom Geraldo Majella, ex-presidente da CNBB, defende a Igreja Católica quanto à discriminação de negros. Diz que 80% dos seus seminaristas são negros e ressalva, um tanto imprudentemente, que se alguma dúvida houvesse, que "eles são inteligentes". A questão indígena não é tocada, mas, no fundo, está respondendo aos críticos do Santo Padre.

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D. Geraldo Majella: 'No meu seminário 80% são negros e são inteligentes'

Arcebispo de Salvador nega que haja discriminação racial na Igreja

Adauri Antunes Barbosa e Flávio Freire

Enviados especiais APARECIDA (SP). Ao comentar o desequilíbrio existente no episcopado brasileiro, que tem apenas 11 negros em cerca de 400 bispos, o cardeal Geraldo Majella Agnelo, arcebispo de Salvador e ex-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), disse ontem que não há discriminação racial por parte da Igreja. Segundo ele, na Bahia, onde mora, 80% dos seminaristas "são negros e inteligentes".

- Não há, da parte da Igreja, discriminação. No Brasil, uma boa parte da população é de origem e tem sangue (africano).

Ainda que a cor externa, digamos, seja branca, existe uma presença africana. Mas não podemos deixar de tratar, de estudar, e ver se no Brasil ainda existe realmente preconceito. Os negros são muito inteligentes. Sou de Salvador e no meu seminário 80% são de origem africana e são inteligentes. Mas é um povo que ainda traz marcas do tempo da escravidão, aquela herança, e isso tem que ser levado em consideração para que sejam tratados bem - disse dom Geraldo Majella.

Dom Geraldo: João Paulo II já pediu perdão aos índios

O novo presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo nomeado de Mariana (MG), entrou na polêmica sobre a evangelização dos índios latinoamericanos. Segundo ele, os povos indígenas assumiram a fé cristã e a "reinterpretaram em uma perspectiva aculturada".

Mas, observou, o Papa João Paulo II já havia pedido perdão aos negros e aos índios pelos erros cometidos pela Igreja ao longo dos séculos: - Isso não quer dizer que o processo de evangelização que se fez no contexto da colonização não tenha tido também seus problemas, suas ambigüidades.

Inclusive o Papa João Paulo II pediu perdão aos negros e aos índios pelas falhas cometidas. Claro que o Papa Bento XVI não se colocou contra essa perspectiva de João Paulo II, mas ele chamou a atenção para um outro aspecto que é exatamente o processo que se deu ao longo dos cinco séculos de assimilação e incorporação na forma aculturada, como nós temos em tantas outras formas na América Latina.

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Notícias Papais 2

Neste matéria da Folha de São Paulo, antropólogos, historiadores e filósofos, além do coordenador da Coiab, fazem declarações contrárias à do Papa sobre a imposição cultural da colonização sobre os índios. Porém, a declaração papal é defendida por um bispo e sua crítica ao capitalismo e ao marxismo é apoiada por um teólogo laico. Enfim, o Papa veio para confundir. De minha parte estou lendo seu livro de entrevistas "Sal da Terra" para tentar compreender melhor suas posições. Alguém não pode ser tão conservador assim por motivos baixos. Ele merece ser lido com atenção já que vai influenciar a Igreja Católica pelos próximos anos.

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Índios e analistas criticam discurso do papa

Para historiador, Bento 16 também fez ataque ao Estado laico ao dizer que, sem Deus, ideologias do século 20 fracassaram
Bispo afirma que os padres missionários defenderam os indígenas; para filósofo, o marxismo e o capitalismo ignoram "indivíduos reais"

DA REDAÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Lideranças indígenas e especialistas criticaram ontem as declarações do papa Bento 16, na abertura da 5ª Conferência do Episcopado Latino Americano e do Caribe, de que o "anúncio de Jesus e de seu Evangelho" aos povos indígenas da América "não supôs, em nenhum momento, uma alienação das culturas pré colombianas, nem foi uma imposição de uma cultura estrangeira".

A antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, professora da Universidade de Chicago, afirma que aconteceu, sim, imposição cultural. Houve missionários que defenderam os índios da escravidão e tentativas de tradução de termos cristãos para línguas locais, ela diz. No entanto, a igreja reagiu a essa "indigenização" do catolicismo.

"Não bastava a mensagem, a interpretação da mensagem tinha de ser fixada também. Eliminaram se práticas como os catequistas indígenas, sem falar do clero indígena, que podiam "desvirtuar" a fé, interpretando a de acordo com suas culturas. O que é isso, então, senão imposição cultural?", diz.

Para o historiador Flávio Gomes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, "em várias partes da América portuguesa e espanhola, a igreja escravizou, legitimou a escravidão indígena e africana e impôs a fé cristã às sociedades indígenas".

Luiz Felipe de Alencastro, professor de história do Brasil na Universidade de Paris, se disse surpreso com as declarações. "O processo colonial foi de destruição da cultura ameríndia. Os missionários estavam a serviço de uma religião que havia incorporado os elementos autoritários e despóticos das monarquias européias."

Já o bispo auxiliar de Salvador d. João Carlos Petrini diz ser necessário contextualizar a ação da igreja no século 16.

Ele afirma que não foram os evangelizadores que cometeram os atos de violência e que é preciso compreender que não era possível fazer então a crítica de hoje à colonização. "Não foram José de Anchieta, Manuel da Nóbrega, franciscanos ou beneditinos que cometeram atos de violência. Alguns foram até ardorosos defensores dos direitos dos índios, como o bispo Bartolomeu de las Casas."

A declaração do papa foi criticada por lideranças indígenas. "É arrogante e desrespeitoso considerar nossa herança cultural inferior", disse Jecinaldo Sateré Mawé, coordenador geral da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira).

Por meio de sua assessoria de imprensa, o presidente da Funai, Márcio Meira, afirmou que a catequização dos indígenas brasileiros foi um processo de imposição, "muitas vezes pelo uso da força".
Estado laico

Sobre outro ponto da fala de Bento 16, o historiador Luiz Felipe de Alencastro afirma que o papa terminou por deslegitimar o Estado laico ao dizer que, sem considerar Deus e a moral individual, o capitalismo e o marxismo se mostraram promessas ideológicas falsas.

"Isso também desqualificou os governos republicanos laicos que criaram o esforço de uma sociedade democrática que não deixa o mercado agir de maneira totalmente livre."

Para o professor do Departamento de Teologia da PUC SP Luiz Felipe Pondé, no entanto, o papa tem razão em sua dupla crítica ao capitalismo e ao marxismo. "O capitalismo se alimenta do que há de mais baixo no ser humano, sua ganância. E o marxismo é uma tragédia, que alimenta o instinto autoritário e burocrático do homem, em cima de uma teoria que é pura metafísica", disse.
(CAROLINA RANGEL E RAFAEL CARIELLO)

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Notícias Papais: 1

A vinda do Papa, a fama de que é conservador e sua declaração de que não houve imposição cultural aos índios da América Latina provocaram uma série de comentários, desde a Venezuela até antropólogos, CIMI e os índios. Comecemos pela opinião do presidente Lula bastante generosa para com o Papa, mas sem citar sua declaração sobre a catequese, nesta matéria da Folha de São Paulo

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Presidente vê pluralismo em Bento 16 e critica quem o chamou de conservador
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao fazer ontem um balanço da visita do papa ao Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou o pluralismo de Bento 16 e criticou quem o rotulou de "conservador".

"Muita gente fala, escreve e dá palpite antes, dizendo que o papa era extremamente conservador e queria tocar apenas em temas conservadores quando, na verdade, o que aconteceu foi que o papa teve um comportamento de muito compromisso com as questões sociais."

Para Lula, Bento 16 teve a "sensibilidade" de atrair diferentes setores da sociedade brasileira. "O papa teve toda a sensibilidade de ouvir praticamente todos os segmentos da sociedade", disse. "A igreja convidou praticamente todos os setores da sociedade para participar da todas as atividades públicas do papa", completou o presidente, que voltou a falar da diversidade religiosa no país.

"Tem muitas religiões no Brasil e nós precisamos conviver com todas elas da forma mais respeitosa e mais democrática possível."

Ele comentou a visita de Bento 16 na edição de ontem de seu programa semanal de rádio, "Café com o Presidente".
Lula ainda afirmou que, em conversa com o papa, colocou a importância de uma integração religiosa na América Latina. "Nós estamos já há algum tempo falando em integração da América Latina, integração cultural, integração social, integração energética, integração de ferrovia, tudo. É importante que haja uma integração religiosa", afirmou.

Lula teve dois encontros com o religioso, na quarta e quinta passadas. Em nenhum deles, beijou a mão do religioso. Nas conversas, o petista tratou de juventude, família e programas sociais e ainda reafirmou ao papa que o Brasil é um país laico.

Tratada pelo papa logo no primeiro dia, a questão do aborto foi comentada pelo presidente ontem, em Jundiaí (SP). Lula disse que o governo não vai enviar ao Congresso projetos que alterem a legislação sobre aborto no país. "Na medida certa e no tempo certo, os congressistas vão se acertando e vão aprovando as coisas", afirmou o petista.

Concordata

O presidente não quis assinar, por ora, uma concordata -um acordo diplomático de "interesses comuns" entre a Santa Sé e o Estado brasileiro.

Ontem, no programa de rádio, o presidente sinalizou ter encarado com naturalidade as críticas de Bento 16 ao avanço da violência e do tráfico de drogas no Brasil. "Achei extremamente importante", disse.

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