segunda-feira, 14 de maio de 2007

Papa diz que índios não sofreram alienação cultural

Matéria da Folha de São Paulo, e também em diversos outros jornais, traz uma declaração do Papa Bento XVI que diz que os povos indígenas da América Latina não sofreram alienação cultural nem imposição cultural.

Por que o Papa usou o termo cultural e não religiosa? Sabemos que o Papa é um intelectual de peso, assim o uso da palavra cultural é de propósito para eximir a ação religiosa perpetrada em desfavor das religiões indígenas. Ele certamente conhece a história do cristianismo na América Latina, deve ter lido ao menos as primeiras cartas jesuíticas, e pode ser lembrado da famosa frase do Padre José de Anchieta, um dos primeiros missionários no Brasil (por volta de 1551 até sua morte em 1572), segundo a qual os índios só se convertiam á força da vara, isto é, pela imposição.

Na sua visão teológica, o Papa Bento XVI acredita que os povos indígenas estavam à espera de um salvador, assim, no fundo, ele acha que os índios viviam alienados e só com a vinda do cristianismo é que eles puderam se redimir. Aliás, este pensamento é generalizado para qualquer religião proselitista, não somente o catolicismo.

Houve protesto por essa declaração tanto por parte do CIMI, que pertence à Igreja, na ala da Teologia da Libertação, quanto da direção da Funai, por parte de seu presidente-substituto, ambas em agência de notícias online. Aliás, o CIMI, em outra matéria da Folha de São Paulo, disse que 1470 culturas indígenas foram destruídas no Brasil por conta da colonização. De onde tiraram esse número?

Espera-se agora que as organizações indígenas se posicionem a respeito da declaração papal.

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Catequisação de índios não foi imposição, diz Bento 16
Bento 16 diz que "voltar a dar vida às religiões pré-colombianas" seria um retrocesso

Pontífice faz ainda crítica ao machismo na América Latina e defende que mães recebam ajuda do Estado para cuidarem da família

DOS ENVIADOS A APARECIDA

Em seu último grande discurso no país, o papa Bento 16 defendeu a catequisação dos índios brasileiros e afirmou que "o anúncio de Jesus e do seu Evangelho não supôs, em nenhum momento, uma alienação das culturas pré-colombianas, nem foi uma imposição de uma cultura estranha".
A chegada dos europeus ao Brasil
Bento 16 disse que "a utopia de voltar a dar vida às religiões pré-colombianas, as separando de Cristo e da Igreja universal, não seria um progresso, mas um retrocesso", ou "uma involução a um momento histórico ancorado no passado". E atribuiu à "sabedoria dos povos originários" a "síntese entre suas culturas e a fé cristã que os missionários lhes ofereciam".
O discurso teve ainda novos ataques ao aborto, ao hedonismo, às "seitas" (igrejas evangélicas) e à dissolução da família e dos valores cristãos. Para ele, a "vida cristã" vive um "enfraquecimento" no continente.
Ao citar a família como uma das prioridades do trabalho do episcopado da região, criticou o machismo latino-americano. Disse que "em algumas famílias persiste ainda uma mentalidade machista", que ignora a "novidade do cristianismo que reconhece e proclama a igual dignidade e responsabilidade da mulher diante do homem".
Ao comentar essa fala, d. Antônio Celso de Queiroz, bispo de Catanduva, que participa da 5ª Conferência do Episcopado da América Latina e do Caribe, disse que o papa "reconheceu que a igreja tem uma dívida com as mulheres". Para ele, a ordenação de mulheres deve continuar sendo debatida.
O papa também defendeu o direito de mães receberem ajuda do Estado para cuidarem da família. Disse que "o secularismo e o relativismo ético", a pobreza, a instabilidade social, e "as legislações civis contrárias ao matrimônio", que "favorecem" os anticoncepcionais e o aborto, "ameaçam o futuro dos povos". Para ele, os latino-americanos vivem "um enfraquecimento da vida cristã" devido "ao secularismo, ao hedonismo, ao proselitismo de seitas".

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