quinta-feira, 31 de julho de 2008

Cotas Raciais I

Cotas Raciais
Parte I – Imitando os Estados Unidos

Mércio Gomes
Antropólogo, professor da UFF


O Brasil perdeu confiança em si mesmo! Eis a conclusão que podemos tirar diante da criação de cotas raciais para facilitar a entrada de negros e pardos na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Os desdobramentos dessa decisão, agora em vias de se tornar nacional e provavelmente ser aplicada nas universidades federais, como política social do novo governo, poderão produzir no Brasil aquilo que nunca tivemos, mas que os Estados Unidos têm com muita tradição: o espírito segregacionista. Resta-nos discutir se o preço da segregação das chamadas “raças” vale a pena para o Brasil, ou se não haveria outra solução que ajudasse a diminuir o fosso de privilégios entre as classes médias tradicionais e o povão brasileiro, mais negro e mais caboclo.

Discutir raça e preconceito no Brasil não é fácil nos dias de hoje. A tendência do brasileiro é evitar o assunto porque a ideologia predominante que diz que o brasileiro não é racista, que vivemos numa “democracia racial”, já não convence mais ninguém. Entretanto, dizer que o Brasil é racista, como se fora os Estados Unidos, é outra falácia. Então, somos o quê? Uma nova atitude de franqueza e auto-condenação é nos considerarmos hipócritas. Somos racistas, fingimos que não somos, mas na hora H discriminamos a quem consideramos de pele escura ou a quem nos parece abaixo de nossa condição social. Não é mole para sua auto-estima um povo se considerar ao mesmo tempo racista e hipócrita!

O sistema de cotas para ingresso na UERJ parece ser uma adaptação do modelo americano, chamado “Ação Afirmativa”, criado no início da década de 1970, com o intuito de compensar as condições negativas das minorias raciais nos Estados Unidos em relação à maioria dos brancos. O princípio que está por trás dessa ação reconhece o caráter discriminatório da cultura americana sobre suas minorias – negros, índios e descendentes de imigrantes mexicanos, que agora são chamados de afro-americanos, americanos nativos e americanos hispânicos – e considera que só pela força da lei é que esta relação de desigualdade poderia ser revertida. Assim, todas as instâncias públicas e privadas foram obrigadas ou estimuladas a dar oportunidades (de educação ou de trabalho) para essas minorias por um sistema de cotas equivalente às suas proporções demográficas. Assim, os afro-americanos, que compõem uns 12% da população geral americana, teriam direito a 12% das oportunidades.

O programa Ação Afirmativa foi implantado em toda a nação. Ao cabo de 30 anos criou em suas minorias raciais uma classe média que soube aproveitar as chances e hoje se perpetua como receptora das cotas. Filhos de afro-americanos que foram compensados no passado hoje recebem a mesma compensação. Os demais, os segregados em guetos e estiolados na pobreza, continuam a ver navios. Por outro lado, a segregação racial continua a existir nos Estados Unidos, agora não mais oficialmente, mas na prática cultural e nas atitudes. Exceto nas cidades mais cosmopolitas, nenhum branco vai a um bar freqüentado por afro-americanos em Nova Orleans, nenhum hispânico ousa entrar num bar de brancos no Texas, nenhum afro-americano distraidamente entra num bar de brancos descendentes de irlandeses em Boston. Não que saía briga de cara, mas não existe ambiente para confraternização. O desconforto inter-racial é permanente, não há papo entre brancos e negros, e quando a competição econômica se acirra, não raro explode em violência.

Os americanos tentaram o sistema de cotas por um motivo principal. Lá eles sabem quem é branco e quem é afro-americano ou hispânico ou americano nativo. Biologicamente, basta ter uma bisavó de alguma minoria racial para que alguém se considere membro do grupo. Mas, na verdade, a segregação racial é muito mais cultural. Uma pessoa é afro-americana porque se segmenta culturalmente como tal; nem precisa ser descendente, basta comportar-se como tal. Um afro-americano é reconhecido de longe pelo jeito de andar, pelo tom de voz, pelo gestual, pelo gosto de vestir, etc. Considerando-se que mais de 95% de cada grupo racial só se casa entre si, o que temos verdadeiramente é um sistema social de castas. O sistema de cotas, a despeito de suas intenções, vem perpetuando essa realidade americana.

E o Brasil? Deveremos seguir esse edificante exemplo americano? Haverá outros modos de trabalhar nosso racismo hipócrita? Uma vez mais, tudo depende da imaginação e da criatividade política. Eis o nosso desafio, o qual, modestamente, tentaremos dar nossa contribuição nos próximos artigos.

Publicado na Tribuna de Petrópolis, em 18 de fevereiro de 2003

6 comentários:

Anônimo disse...

Conheça VOZ, o site para quem tem algo a dizer

Caro Mércio,

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Anônimo disse...

shuayhsuahaysyuah
olha só, uma vez na vida concordo com o mercio shuaysyhayshah
essas cotas são ferramenta de dissociação social, discriminação e racismo. Criação de castas e de grupos antagonicos .

Importamos o que de pior os EUA tem.

Mas infelizmente a solução alternativa que eu proporia acho que o mercio não iria gostar shuyshauyshayua

Anônimo disse...

Isso é casta ? Isso é racismo ?
Voces são a favor das manobras do Departamento de Estado Americano em suas estratégias de dominação econômica?
Porra voces estão em cima do muro mesmo hem....

Anônimo disse...

Os E.U.A adotam as cotas nas universidades?

ana paula disse...

Oi eu estou fazendo um trabalho sobre isso.E queria sabe se os EUA adotaram ou ainda adotam as cotas para afro-descendentes nas universidades.

antonio jesus silva disse...

REVOLUÇÃO QUILOMBOLIVARIANA !
Viva! Chàvez! Viva Che!Viva! Simon Bolívar! Viva! Zumbi!
Movimento Chàvista Brasileiro

Manifesto em solidariedade, liberdade e desenvolvimento dos povos afro-ameríndio latinos, no dia 01 de maio dia do trabalhador foi lançado o manifesto da Revolução Quilombolivariana fruto de inúmeras discussões que questionavam a situação dos negros, índios da América Latina, que apesar de estarmos no 3º milênio em pleno avanço tecnológico, o nosso coletivo se encontra a margem e marginalizados de todos de todos os benefícios da sociedade capitalista euro-americano, que em pese que esse grupo de países a pirâmide do topo da sociedade mundial e que ditam o que e certo e o que é errado, determinando as linhas de comportamento dos povos comandando pelo imperialismo norte-americano, que decide quem é do bem e quem do mal, quem é aliado e quem é inimigo, sendo que essas diretrizes da colonização do 3º Mundo, Ásia, África e em nosso caso América Latina, tendo como exemplo o nosso Brasil, que alias é uma força de expressão, pois quem nos domina é a elite associada à elite mundial é de conhecimento que no Brasil que hoje nos temos mais de 30 bilionários, sendo que a alguns destes dessas fortunas foram formadas como um passe de mágica em menos de trinta anos, e até casos de em menos de 10 anos, sendo que algumas dessas fortunas vieram do tempo da escravidão, e outras pessoas que fugidas do nazismo que vieram para cá sem nada, e hoje são donos deste país, ocupando posições estratégicas na sociedade civil e pública, tomando para si todos os canais de comunicação uma das mais perversas mediáticas do Mundo. A exclusão dos negros e a usurpação das terras indígenas criaram-se mais e 100 milhões de brasileiros sendo estes afro-ameríndios descendentes vivendo num patamar de escravidão, vivendo no desemprego e no subemprego com um dos piores salários mínimos do Mundo, e milhões vivendo abaixo da linha de pobreza, sendo as maiores vitimas da violência social, o sucateamento da saúde publica e o péssimo sistema de ensino, onde milhões de alunos tem dificuldades de uma simples soma ou leitura, dando argumentos demagógicos de sustentação a vários políticos que o problema do Brasil e a educação, sendo que na realidade o problema do Brasil são as péssimas condições de vida das dezenas de milhões dos excluídos e alienados pelo sistema capitalista oligárquico que faz da elite do Brasil tão poderosa quantos as do 1º Mundo. É inadmissível o salário dos professores, dos assistentes de saúde, até mesmo da policia e os trabalhadores de uma forma geral, vemos o surrealismo de dezenas de salários pagos pelos sistemas de televisão Globo, SBT e outros aos seus artistas, jornalistas, apresentadores e diretores e etc.
Manifesto da Revolução Quilombolivariana vem ocupar os nossos direito e anseios com os movimentos negros afro-ameríndios e simpatizantes para a grande tomada da conscientização que este país e os países irmãos não podem mais viver no inferno, sustentando o paraíso da elite dominante este manifesto Quilombolivariano é a unificação e redenção dos ideais do grande líder zumbi do Quilombo dos Palmares a 1º Republica feita por negros e índios iguais, sentimento este do grande líder libertador e construí dor Simon Bolívar que em sua luta de liberdade e justiça das Américas se tornou um mártir vivo dentro desses ideais e princípios vamos lutar pelos nossos direitos e resgatar a história dos nossos heróis mártires como Che Guevara, o Gigante Osvaldão líder da Guerrilha do Araguaia. São dezenas de histórias que o Imperialismo e Ditadura esconderam. Há mais de 160 anos houve o Massacre de Porongos os lanceiros negros da Farroupilha o que aconteceu com as mulheres da praça de 1º de maio? O que aconteceu com diversos povos indígenas da nossa América Latina, o que aconteceu com tantos homens e mulheres que foram martirizados, por desejarem liberdade e justiça? Existem muitas barreiras uma ocultas e outras declaradamente que nos excluem dos conhecimentos gerais infelizmente o negro brasileiro não conhece a riqueza cultural social de um irmão Colombiano, Uruguaio, Venezuelano, Argentino, Porto-Riquenho ou Cubano. Há uma presença física e espiritual em nossa história os mesmos que nos cerceiam de nossos valores são os mesmos que atacam os estadistas Hugo Chávez e Evo Morales Ayma,Rafael Correa, Fernando Lugo não admitem que esses lideres de origem nativa e afro-descendente busquem e tomem a autonomia para seus iguais, são esses mesmos que no discriminam e que nos oprime de nossa liberdade de nossas expressões que não seculares, e sim milenares. Neste 1º de maio de diversas capitais e centenas de cidades e milhares de pessoas em sua maioria jovem afro-ameríndio descendente e simpatizante leram o manifesto Revolução Quilombolivariana e bradaram Viva a,Viva Simon Bolívar Viva Zumbi, Viva Che, Viva Martin Luther King, Viva Osvaldão, Viva Mandela, Viva Chávez, Viva Evo Ayma, Viva a União dos Povos Latinos afro-ameríndios, Viva 1º de maio, Viva os Trabalhadores e Trabalhadoras dos Brasil e de todos os povos irmanados.
O.N.N.QUILOMBO –FUNDAÇÃO 20/11/1970
quilombonnq@bol.com.br

 
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