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sábado, 22 de agosto de 2009

Apolima-Arara protestam na Funai de Rio Branco

Há duas semanas lideranças do povo Apolima-Arara, da região de Marechal Taumaturgo, estão acampadas em frente à sede da Funai, em Rio Branco, AC, esperando a assinatura da portaria de demarcação de sua terra.

Mais índios são esperados hoje. A questão dessa terra indígena é complicada. Os Apolima-Arara foram reconhecidos como indígenas só depois que foram retirados da terra dos índios Kampa, do rio Amônea, por ocasião da demarcação daquela terra indígena. Eles desceram o rio e se localizaram numa área que já estava parcialmente tomada por posseiros e madeireiros. Daí a complicação.

Segundo informações da Funai, o ministro Tarso Genro prometeu assinar a portaria de demarcação. É ver para crer.

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Cerca de 80 indígenas ocupam sede da Funai em Rio Branco

22 de agosto de 2009

Fonte: Portal Amazônia, com informações do Cimi


MANAUS - Indígenas do povo Apolima-Arara estão acampados na sede da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Rio Branco, Acre, desde 12 de agosto. Ontem (21), um grupo de 20 pessoas deve chegar para fazer parte da mobilização somando cerca de 80 indígenas.

Os manifestantes exigem a imediata publicação da portaria que declara a terra Arara do Amônia como tradicionalmente ocupada pelos indígenas. Outra reivindicação é a nomeação de um novo administrador da Funai local.

Desde o início de agosto o antigo administrador foi exonerado e até agora o órgão indigenista está sem administração. A última informação que os indígenas receberam é a de que o Ministro da Justiça, Tarso Genro, deveria assinar a portaria declaratória nesta quinta-feira (20). Cerca de dez povos diferentes estão presentes na manifestação.

Os Apolima-Arara vieram de sua terra localizada no Município de Marechal Thaumaturgo, vale do Juruá, distante mais de mil quilômetros da capital do Acre. A viajem até Rio Branco demorou cerca de dez dias. Eles se deslocaram por meio de canoas, barcos, carona em caminhão e, finalmente, andaram um grande trecho a pé.

Francisco Arara, cacique do povo Arara e um dos líderes da mobilização, destaca a insatisfação do povo e a urgência dessa portaria declaratória. “Nós precisamos dessa portaria para termos paz. Recebemos ameaças constantes de posseiros, caçadores e madeireiros. Dentro de nossas terras, temos lagos e nem podemos pescar porque sempre somos ameaçados”, diz.

O cacique ressalta que com a portaria, fica mais fácil proteger a terra. “Se regularizarem a nossa terra, não vamos deixar que façam extração ilegal de madeira ou mesmo caça predatória”, ressalta. Sobre as ações predatórias na área, várias denúncias foram feitas, mas, infelizmente, nenhuma medida foi tomada pelos órgãos responsáveis até o momento.

Luta antiga

A luta pela demarcação da terra indígena Arara do Amônia já se estende por mais de nove anos. Durante esse tempo muitos conflitos aconteceram na área e continuam acontecendo. Segundo o cacique Francisco Arara, eles não sairão da sede da Funai enquanto não for publicada a portaria declaratória. “Já temos o apoio de outros povos também insatisfeitos e que vão se juntar à luta”.

Dia 12, eles foram recebidos pelo administrador substituto, Julio Barbosa, que se prontificou em encaminhar um documento para a Funai em Brasília pedindo que ela acelere o processo e converse com o Ministro da Justiça. Além de acamparem na Funai, os índios esperam ser ouvidos pelo Ministério Público Federal. (RC)

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Geoglifos no Acre

Em diversas partes do Brasil há marcas de presença histórica e pré-histórica dos povos indígenas, seja de pinturas rupestres em itacoatiaras, seja de terraços e canais de escoamento de água.

No alto Xingu o arqueólogo americano Mike Heckenberger descobriu fortes evidências de presença de caminhos, canais e terraços que evidenciariam a existência, a cerca de 800 a 1000 anos atrás de uma sociedade hierarquizada, em forma de cacicato, naquela região onde hoje vivem os índios Kuikuro.

No Baixo Amazonas, especialmente na Ilha de Marajó e na região de Santarém, são grandes as evidências de sociedades densamente povoadas, com terraços construidos pelo homem onde se localizariam casas, possivelmente armazéns e templos.

Eis que, no Acre, há uns gigantescos geoglifos, de formatos diferentes, estimados em mais de 1.000 anos, sobre os quais se sabe muito pouco. Quem os teria feito? Onde estão as culturas que o fizeram? Quais os seus significados? Teriam sido feitos por inspiração ou influência da região andina, ou seriam de culturas autóctones na região?


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Marcas milenares deixadas por índios no Acre podem ser vistas pela internet

Globo Amazônia, por Iberê Thenório, em São Paulo

Círculos, quadrados e octógonos gigantes feitos há pelo menos mil anos marcam o chão do Acre. Desde a década de 1970, quando foram descobertos, eles intrigam os arqueólogos, que ainda não conseguiram entender para que eram usadas essas estruturas, chamadas de geoglifos.

Foto: Governo do Acre/Divulgação

Formas geométricas desenhadas há pelo menos mil anos. (Foto: Governo do Acre/Divulgação)

Os desenhos chegam a ter 100 metros de diâmetro, e sua borda é desenhada em grandes valas, de 12 metros de largura por quatro de profundidade. Por uma ironia, só se conseguiu descobrir esses desenhos por causa do desmatamento, que “limpou” grandes áreas, deixando evidentes as formas geométricas.

Geoglifos do Acre
O que são Formas geométricas, na maior parte círculos e quadrados, desenhadas no chão.
Que tamanho têm As linhas têm cerca de 12 metros de largura e quatro de profundidade. Os desenhos chegam a ultrapassar 100 m de diâmetro.
Onde estão No Acre, entre Xapuri e Boca do Acre.
Quantos são Até hoje, já foram descobertos cerca de 200, mas estima-se que haja dez vezes mais que isso.
Que idade têm Pelo menos 1000 anos.
Para que serviam Ainda não se sabe. Cientistas imaginam que eles poderiam servir para abrigar aldeias, plantações ou centros cerimoniais


Quando o primeiro geoglifo foi descoberto, não se sabia que as valas formavam um desenho, e que havia tantos ali. Hoje, com a ajuda de aviões e imagens de satélite, já foram identificados cerca de 200. “Acho que já descobrimos em torno de 10%”, estima o cientista Alceu Ranzi, integrante da equipe que descobriu os geoglifos.

Com a chegada dos mapas virtuais, que utilizam imagens de satélite em alta resolução, os desenhos ficaram evidentes, e até os próprios cientistas puderam encontrar mais estruturas desse tipo. Veja, abaixo, alguns exemplos de como os desenhos milenares se espalham pelo chão do Acre

Segundo Ranzi, ainda se sabe pouco sobre os geoglifos. Apenas um deles teve a idade investigada cientificamente, e descobriu-se que o desenho tinha 1250 anos. “Eles podem ser aldeias, plantações, centros cerimoniais...”, conjectura o cientista.

Uma das poucas certezas dos arqueólogos é que o povo construtor dessas estruturas tinha força de trabalho e tecnologia para fazer grandes obras, além de dominar as formas geométricas. “Nos geoglifos, há figuras compostas. Quando há um quadrado dentro de um círculo, ele é equidistante das paredes. Será que o conhecimento explode em regiões diferentes do mundo? Lá na Grécia e na Amazônia?”, questiona o pesquisador.

Turismo

A maior parte dos geoglifos descobertos está espalhada por pastos e plantações particulares. Segundo Ranzi, o Ministério Público do Acre está preparando uma resolução para que os agropecuaristas ajudem a proteger os desenhos, evitando criar gado ou passar tratores por cima das valas.

Foto: Governo do Acre/Divulgação

Muitos geoglifos são cortados por estradas. (Foto: Governo do Acre/Divulgação)

Para valorizar essas estruturas e estimular o turismo cultual, Ranzi sugere que sejam construídas algumas torres de observação na beira das estradas, onde as pessos pudessem subir e ver os desenhos de cima. “Há vários geoglifos que estão na beira do asfalto. Alguns são cortados bem no meio por estradas”, conta

domingo, 5 de abril de 2009

José Carlos Meirelles fala de sua vida de sertanista e dos índios que vêm do Peru


O sertanista José Carlos Meirelles deu essa entrevista para a revista National Geographic falando um pouco de sua experiência como sertanistas e de suas preocupações com a questão dos índios autônomos na fronteira do Acre com a Bolíva.


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Pela liberdade dos índios

National Geographic

A discreta cicatriz entre a barba e a bochecha esquerda concentra um pouco da história do sertanista José Carlos Meirelles dos Reis Júnior. Ele ganhou a marca nas águas do rio Envira, no oeste do Acre, em julho de 2004. Índios isolados lançaram flechas contra Meirelles enquanto ele pescava. Uma delas penetrou em sua face e saiu no pescoço. Meirelles correu. Mas o único tiro que deu com a arma que levava na mão foi para o ar - um grito de socorro para seus funcionários. No posto da Funai, ele pediu resgate ao Exército. Seis meses depois, recuperado, estava de volta à ativa. Não é dos índios, contudo, que vem a ameaça que mais o faz temer. Conflitos ainda piores se anunciam. Com a intensa atividade madeireira no Peru e a chegada de garimpeiros atrás de ouro, algumas etnias estão em fuga no território brasileiro protegido por Meirelles. Dos quatro povos isolados que se estima existirem na região, três foram fotografados em uma expedição aérea de fiscalização realizada há um ano. As imagens rodaram o mundo. Mas pouco se falou sobre as ameaças reais à sobrevivência desses indígenas. Com o aumento da pressão humana em torno das reservas, diz Meirelles, "infelizmente, o destino dos índios isolados não está nas mãos deles".

Quanto tempo ainda os índios isolados vão ter para escolher o momento de iniciar um contato com nossa sociedade?

Depende da pressão que eles sofrem em cada local. No caso da região do rio Envira, onde atuo, espero que ainda haja um bom tempo antes que aconteça esse contato inicial. A pressão sobre eles agora não é mais brasileira, ela vem do Peru, o que gera um problema novo para nós resolvermos. Creio que nestes últimos anos os índios descobriram, no caso particular dos entornos do rio Envira, que nós, da Frente de Proteção Etnoambiental Envira, da Funai, somos vizinhos diferentes daqueles que eles tiveram no passado e que os caçavam. Não nos temem como temiam seringueiros, madeireiros e garimpeiros. Já não mascaram tanto os vestígios quando andam perto de nossas bases, o que não significa, creio, que haja uma intenção de contato. Temos de ficar atentos a pressões externas e aos sinais que esses povos nos dão para que o futuro contato, se ocorrer um dia, seja o menos traumático possível para eles.

Um ano atrás, foram divulgadas fotografias feitas em uma expedição aérea coordenada pelo senhor. Quais são as conclusões desse trabalho?

O principal é que a terra deles foi demarcada sem nenhum problema, como era o nosso objetivo ao realizar o voo de reconhecimento. As fotos são do grupo que vive na cabeceira do rio Humaitá e nos igarapés da margem esquerda do rio Envira, em território brasileiro. Entretanto, outras fotos do mesmo sobrevoo nas quais aparecem duas malocas dos isolados do igarapé Xinane, oriundos do Peru, foram encaminhadas à Funai para pesquisa. Essas malocas não existiam em 2004, quando sobrevoamos a mesma região. A importância da divulgação é que as imagens podem ajudar a proteger esses povos. A opinião pública tem de entender que tais índios existem, e que temos o dever de garantir o direito deles de permanecer isolados.

Uma vez o senhor foi flechado e por pouco não morreu. Como é a aproximação desses indígenas do posto da Funai?

Eu já vi um bocado de índios da etnia masko piro, que andam pelas cabeceiras do Envira no verão. Uma vez a gente se encontrou sem querer pelas praias e eles correram atrás de nós. Outra vez eles apareceram lá mesmo no posto. Foi em 2004. Mais de 100 homens desse grupo invadiram a casa, mexeram em tudo e foram embora. Mas não levaram nada. Além deles, um outro grupo, o que aparece nas fotos divulgadas apontando flechas para o avião, uma vez invadiu a base e colocou fogo nos telhados. Havia dois trabalhadores no local, e eles tiveram de fugir, à noite, de barco. A ordem, quando acontece uma coisa dessas, é que todos no posto partam imediatamente. A gente tem um barco com motor, com combustível, sempre preparado para uma fuga de emergência.

Logo no início da carreira o senhor fez os primeiros contatos com o povo awa-guajá.

Essa história de que é o sertanista que faz o contato com o índio tem de ser revista. Na verdade, é sempre o índio quem faz o contato. É ele que vai até o branco. Chega uma hora em que o território está tão pressionado que eles não têm mais para onde correr. Foi o que aconteceu com o povo awa-guajá, que estava espremido pelos urubu-caapor e guajajara e pelos arrozeiros que não paravam de chegar ao Maranhão. Os awa-guajá do rio Turiassú fizeram contato com um caçador chamado Antônio Raposo, em 1972, e em 1973 conosco, da Funai, nas cabeceiras do Turiassú. Eles estavam acuados.

sábado, 4 de abril de 2009

Sertanista José Carlos Meirelles fala da situação crítica dos índios na fronteira com o Peru


Em recente passagem por Brasília, o sertanista José Carlos Meirelles, que há mais de 30 anos vive no meio da floresta acreana resguardando os direitos territoriais de diversos povos indígenas, foi entrevistado pelo Correio Braziliense e deu um depoimento sobre a situação extremamente crítica que está vivenciando no alto Rio Envira, na fronteira com o Peru.

Segundo Meirelles, cada vez mais grupos de índios que vivem no Peru estão se deslocando e fazendo moradia dentro de território brasileiro. Recentemente, 60 deles apareceram no Seringal Liberdade, onde os ribeirinhos acreanos criaram um lugar de culto, e amedrontaram todo mundo.

A matéria abaixo merece nossa atenção. Algo terá que ser feito em breve. Talvez o contato com alguns desses grupos ser fará necessário devido à sua expansão por territórios que pertencem a outros povos indígenas do Acre.

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Índios peruanos buscam abrigo no Amazonas

Funai afirma ter constatado a existência, no Amazonas, de índios isolados vindos da Reserva Territorial Murunahua. Quatro grupos estariam fugindo da devastação da região original no país vizinho

Edson Luiz - Correio Braziliense


Sertanistas calculam que, desde 2008, população já tenha crescido para 600 pessoas Sertanistas da Fundação Nacional do Índio (Funai) descobriram casualmente, por imagens do Google Earth, a entrada no Brasil de índios peruanos isolados, próximo ao Rio Envira, no Acre. O grupo ainda não foi identificado, mas a Funai acredita tratar-se de integrantes da etnia Pano, que estariam fugindo da devastação da Reserva Territorial Murunahua, no departamento de Pucallpa. Até agora, foram localizadas duas malocas com aproximadamente 60 pessoas. Uma outra tribo, provavelmente nômade, e também peruana, migrou durante o verão para um local que fica a 50km da cidade de Santa Rosa, às margens do Rio Purus. A estimativa é de que existam na região cerca de 600 índios arredios.

Os sertanistas já tinham informações sobre a entrada de índios arredios peruanos em território brasileiro, mas a certeza surgiu por acaso. “Um amigo me mostrou imagens do Google Earth de uma clareira no meio da floresta, em uma mesma região onde já havíamos ouvido gritos de pessoas por várias vezes quando passamos de barco em uma expedição”, afirma o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, responsável pela Frente de Proteção Etnoambiental Rio Envira, criada há 10 anos pela Funai. Segundo ele, as coordenadas indicadas pelo Google Earth foram localizadas por GPS e em seguida um sobrevoo no local, em abril do ano passado, confirmou a presença dos índios peruanos.

Os levantamentos feitos por Meirelles indicam que existem pelo menos três grupos indígenas isolados na região do Rio Envira, sendo que dois deles estão no local há vários anos. “Notamos que também está havendo um crescimento populacional”, conta o sertanista. A outra tribo está no Igarapé Xinane, e veio do Peru há pelo menos dois anos, quando começou a devastação de suas terras por madeireiros que atuam no Parque Nacional Alto Purús. A Funai não sabe exatamente como eles são, mas pelo tipo de maloca e alimentação, acreditam serem índios panos, que deram origem a várias etnias brasileiras que também vivem próximas à fronteira.

Um quarto grupo foi localizado próximo ao município acreano de Santa Rosa, mas seria uma outra etnia, provavelmente Mashco-Piro, que são nômades. Eles migram e passam uma temporada em várias regiões. Atualmente, a tribo ocupa uma área localizada entre os Rios Envira, Iaco e Chandless — os dois últimos afluentes do Rio Purus. O deslocamento ocorre principalmente durante o verão, quando as chuvas diminuem na Amazônia brasileira. “Por volta de 1910, Felizardo Teixeira, um cearense amansador de índios arredios que vivia no Acre, descreveu como eram os índios da época, e as características são as mesmas dos peruanos e de outras etnias isoladas da região”, observa Meirelles.

Cultivo
A exceção fica por conta das moradias. Enquanto que o grupo vindo do Peru habita duas malocas coletivas, com 60 a 70 pessoas, os outros que já estavam no local têm residência individual. Os moradores da área do Rio Purús, por sua vez, têm malocas espalhadas e de arquitetura diferente e cobertas de palhas novas, o que indica que são recém-chegados. Os roçados também são diferenciados, mas o cultivo de milho, banana, mamão e mandioca é comum entre todos. Um dos grupos, entretanto, produz algodão para a confecção de mantas e redes.

No sobrevoo feito por Meirelles no ano passado, ele pôde observar crianças entre índios adultos em antigas malocas, já identificadas, mas não viu nenhuma pessoa no grupo oriundo do Peru. A suspeita é de que todos se esconderam quando ouviram o barulho do avião. “Quando fogem é sinal de que tiveram experiência traumática no passado, principalmente com fatos relacionados a madeireiros”, explica Meirelles. Segundo ele, nas outras tribos, os moradores não se intimidaram com a aeronave e atiraram flechas para o alto.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Yawanawá em ascensão demarcam sua terra no Acre




No estado do Acre, os índios Yawanawa, liderados pelo cacique Biraci Brasil, estão comemorando a demarcação da ampliação de sua terra, chamada Rio Gregório. Essa terra indígena fica no rio do mesmo nome que desce no rio Juruá.

Outro dia recebi um recado por um amigo comum, Felipe Milanez, em que Biraci agradece o esforço que nós fizemos para a demarcação dessa terra indígena, com a participação inclusive do governo do estado. Agora a proposta de homologação poderá ser enviada ao presidente da República, que será ratificada.

As comemorações pela demarcação foram realizadas na semana passada, com a presença de diversas autoridades estaduais, gente do CIMI e da FUNAI. Biraci Brasil tem uma grande capacidade de agregar amizades e apoios, na somente no Acre, mas em todo o Brasil.

Os Yawanawa vêm avançando no seu desenvolvimento étnico de um modo especial e cuidadoso. Querem estabelecer uma educação diferenciada, isto é, com aspectos da cultura brasileira e da cultura indígena. A foto ao lado mostra a alegria de dois jovens Yawanawá com o uso do computador em sua aldeia.

domingo, 28 de setembro de 2008

Índios do Acre reclamam do trabalho das Ongs

O relacionamento entre Ongs indigenistas e os próprios povos indígenas está chegando a tal ponto de desconforto que os índios começaram a denunciá-lo.

Vejam essa matéria retirada de um jornal de Cruzeiro do Sul, estado do Acre, e repercutida pela Coiab, a principal instituição indígena do Amazonas.

Parece aos índios que as Ongs foram criadas para ajudá-los a assumir seu potencial político, econômico e social na sociedade brasileira. Mas, ao longo de mais de vinte anos de atuação, a maioria das Ongs só tem deixado os índios mais dependentes, seja delas próprias, seja da FUNAI. Às vezes essa dependência é financeira, pois as Ongs neoliberais saem à frente e conseguem recursos para as organizações indígenas. Às vezes a dependência é ideológica, quando as Ongs neoliberais ditam o modo das organizações indígenas pensarem e atuaram.

Autonomia econômica, autodeterminação política estão longe de serem alcançados pelos povos indígenas e suas organizações.

O problema é sério, haja visto a repercussão dessa matéria entre as organizações propriamente indígenas.

Porém não é totalmente culpa das Ongs. Elas não são capazes de atender o que pretendem os índios porque lhes falta aquilo que também falta ao órgão indigenista brasileiro. Uma visão de futuro, de relacionamento paritário, equilibrado e digno entre os povos indígenas e a sociedade brasileira. Elas, as Ongs, se distinguem da FUNAI e do Estado brasileiro porque se pretendem mais importantes, mais sábias e mais corretas. Não são uma coisa nem outra.

Mais humildade nessa relação por parte de todos: das Ongs, das instituições indígenas e do Estado, dos antropólogos, dos indigenistas e dos índios.

O mundo está em mudança e pode mudar de um modo muito ruim para os povos indígenas. A cobrança está vindo aí, primeiro pelos fazendeiros e políticos locais que estão a exigir participação nos destinos políticos dos povos indígenas e determinar políticas públicas; depois pela exigência do Estado. Aí ficará muito difícil para os índios.

Uma nova visão do relacionamento interétnico brasileiro é o que precisamos. Um novo indigenismo está na ordem do dia. Um novo papel do Estado brasileiro tem que ser construído.

Por isso é que é necessário convocar uma nova Conferência Nacional dos Povos Indígenas.

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Indígenas denunciam ONGs oportunistas

Em Cruzeiro do Sul, os catuquinas que moram próximos à Estrada BR-364 não conseguem mais acreditar em ninguém. Uns chegam e dizem que o bom é isso, que tal coisa é ruim, outros chegam dizendo o contrário.

São oito instituições que trabalham com eles, mas, mesmo assim, eles vivem em condições precárias. Os grupos se aproximam deles para por interesse no sapo campô. Eles levam o conhecimento e não deixam nada em troca. Esse foi um exemplo dado pelo líder indígena Sabá Manchiner, para mostrar oportunismo de algumas organizações não-governamentais (ONG)

Esse tipo de organização tornou-se um lucrativo meio de vida. São inúmeros projetos destinados aos povos indígenas. Essas entidades recebem recursos do mundo inteiro apenas levantando, mesmo que na teoria, a bandeira “pró-índio”.

Segundo o líder, não há transparências na gestão desses grupos. Ele disse que os índios não sabem sequer quais os projetos em que estão envolvidos. “Falta transparência. Não há nenhum tipo de prestação de contas com os indígenas”, declarou.

Os pesquisadores ligados a essas intuições, quando não visam ao lucro diretamente, têm interesses nos conhecimentos dos povos indígenas. A contribuição deles é mínima. Eles são os mais beneficiados com essa relação desequilibrada – aprendem muito, ensinam pouco.

Parte das aldeias não recebe nenhum benefício, mas, sem muito medo de errar, deve existir algum projeto quem empenhe suas etnias. Os índios sabem dos recursos, mas não têm acesso aos programas desenvolvidos”, detalhou Sabá.

Dois caminhos

Os índios acreanos estão no meio de uma bifurcação: se optarem por permanecer em suas aldeias, conservando suas tradições, como os tão noticiados “índios isolados”, o risco é virarem seres folclóricos, preservados num museu natural.

“Todo o mundo tem opinião sobre a vida dos índios, menos eles mesmos. Essa é a situação em que se encontram os tão famosos ‘povos da floresta’”, desabafou o líder.

Caso queiram trilhar pelo segundo caminho, deixando suas terras para viverem na cidade, imersos numa cultura alheia, os problemas serão ainda maiores, como o alcoolismo e a miséria. “Se um índio busca melhoria de vida para ele e para os outros, logo é taxado como autoritário e contra o sistema”.

“Acredito que é possível permanecer sendo um povo, obtendo outros conhecimentos, sem se apropriar do conhecimento alheio, tendo respeito e equilíbrio entre as culturas. O que não pode acontecer são os indígenas serem obrigados a ficar isolados só como propaganda.

Quando tudo começou

Sabá Manchineri lembrou que, na década de 1980, quando surgiram as primeiras ONGs, o discurso deles era capacitar os índios para terem autonomia e condições de executarem seus próprios projetos. Mas o que acabou acontecendo foi o contrário, os pesquisadores se especializaram na cultura indígena nos conhecimentos tradicionais, ganharam dinheiro e foram embora. “Os índios não ficaram conhecimento sequer para relatar seus problemas”, salientou.

A saída proposta pela liderança é o incentivo a políticas mais claras e a líderes indígenas que possam gerir seus próprios recursos e lutar pelo diretor dos grupos indígenas. “Precisamos de preocupações verdadeiras”, finalizou.

Survival International arrecada euros em nome de índios isolados

Um exemplo da ação da ONGs ligadas às causas indígenas é esta matéria de Altino Machado.

“A pretexto de proteger os índios isolados da fronteira Brasil-Peru, vítimas dos madeireiros peruanos que invadem e destroem suas terras, a Survival International lançou uma nova campanha mundial para obter a doação de euros para a organização e o envio de cartas ao presidente peruano Alan Garcia em apoio aos indígenas”.

“Survival, cuja sede funciona em Londres, não explica como o dinheiro da arrecadação será transformado em ações de proteção de etnias que vivem isoladas e se defendem das ameaças basicamente com arco e flecha. A organização sugere doações que variam de 6 a 100 euros. Mas o contribuinte tem a opção de fazer doação mensal, trimestral e anual de valores maiores, optando por tornar-se sócio ou não”.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

José Carlos Meirelles abre o jogo sobre os índios autônomos e as mazelas da Amazônia

José Carlos Meirelles, o grande sertanista paulista-acreano, fala tudo sobre a questão dos índios autônomos do Brasil, em especial dos índios do Acre. Fala também com grande conhecimento de causa sobre as carências da Funai, do pouco caso que se lhe dá, e do modo como a Amazônia vem sendo explorada.

Vale a pena ler essa entrevista. Parabéns à Folha de São Paulo!


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ENTREVISTA DA 2ª/JOSÉ CARLOS MEIRELLES

Há 37 anos na Funai, sertanista reclama da estrutura do órgão e da falta de recursos

Decisões sobre Amazônia são tomadas no "Sul maravilha"
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O SERTANISTA José Carlos Meirelles, 60, alerta que índios isolados, como os que vivem no Acre e vieram ao conhecimento público em fotos divulgadas na semana passada, correm sério risco. "Eles podem não desaparecer fisicamente, mas vão desaparecer culturalmente se a situação continuar como está." Para Meirelles, são os próprios índios isolados que não querem contato, seja com homens brancos ou índios aculturados.
O sertanista, que trabalha na Funai (Fundação Nacional do Índio) desde 1971, reclama da falta de estrutura do órgão e dos parcos recursos disponíveis: "Plantamos tudo que comemos, porque, se for comprar, o dinheiro não dá. O que gastamos por ano é uma merreca, além de que os índios não são eleitores."
Queixa-se ainda do fato de as grandes decisões sobre a Amazônia serem chanceladas, segundo ele, "no Sul maravilha, sem consultar o povo daqui [da floresta]".

Paulistano, Meirelles largou a engenharia para trabalhar na Funai. Membro do Departamento de Índios Isolados do órgão desde a sua criação, em 1988, e coordenador da Frente de Proteção Etno-Ambiental do rio Envira, no Acre, o sertanista falou à Folha na última sexta-feira à noite, por telefone, da cidade de Feijó (AC). Contou rindo como levou uma flechada no rosto, mas mudou a voz e se esquivou de comentar sobre um dos traumas de sua vida, quando, para sobreviver, precisou matar um índio.

FOLHA - É possível haver grupos indígenas autônomos que nunca tiveram contato com a sociedade?
JOSÉ CARLOS MEIRELLES - Não existe nenhum grupo indígena que não tenha tido contato. Esses índios sabem da existência dos homens brancos, eles já viram e usam instrumentos de ferro encontrados em acampamentos de madeireiros. Eles não querem é contato, mas claro que sabem da nossa existência.

FOLHA - Os índios isolados correm risco de desaparecer?
MEIRELLES - Eles correm sério risco. Podem não desaparecer fisicamente, mas vão desaparecer culturalmente se a situação continuar como está. Sabemos de alguns índios isolados que sofrem pressão, mas não temos como acolher todas as demandas. Temos pouca gente e pouco dinheiro. Não são só os índios [que estão ameaçados], mas todo o povo da Amazônia, inclusive os brancos. Tudo é decidido no Sul maravilha, em Brasília, sem consultar o povo daqui. O pacote chega pronto, acham que somos um bando de idiotas e fazem um monte de trapalhadas. Tem que se desenvolver a Amazônia, mas com racionalidade. E os índios isolados são os mais fracos, porque dependem literalmente do ambiente onde vivem.

FOLHA - Como é a relação desses índios isolados com os aculturados?
MEIRELLES - Eles também não têm contato, alguns grupos são até inimigos. Quando se encontram, eles se matam.

FOLHA - Há conflitos entre eles?
MEIRELLES - Sim, aqui no Acre houve uma guerrinha entre índios isolados e não isolados. Esses povos eram inimigos tradicionais. O problema é que os índios não isolados repetem o discurso dos brancos: índio bravo não é gente, é bicho. Os aculturados, na maioria das vezes, têm mais preconceito em relação aos isolados do que nós.

FOLHA - A Funai quer um controle epidemiológico no entorno das áreas onde vivem os povos autônomos, já que eles têm baixa imunidade. Como está a saúde deles?
MEIRELLES - Por enquanto vai bem. Monitoramos o território, mas eles andam muito. Se pegam um facão dos brancos com o vírus da gripe, e esse vírus vai para a aldeia, faz um arraso. Vai morrer muita gente. A idéia é boa, uma das maneiras de se resguardar esses povos é proteger a saúde do entorno. Estará sendo evitada a contaminação pelos índios de uma doença que tem características que eles nem conhecem, como gripe e sarampo, coisas que eles ainda não têm.

FOLHA - Há uma situação de violência contra os índios no lado peruano, principalmente por parte de madeireiros. Como está no Acre?
MEIRELLES - Aqui os madeireiros ainda não chegaram. Ainda. Do outro lado a coisa pega. Quase 90% do mogno exportado para o mundo sai da região, há milhares de madeireiras, legais e ilegais. Estão matando índio adoidado. Quem mora do lado de lá corre para cá, porque se ficar vai morrer. Ou corre ou morre, essa é a política indigenista deles.

FOLHA - Mas aqui também há muitos problemas.
MEIRELLES - Há problema por todos os lados. No norte de Mato Grosso há confusão por causa da madeira, da soja. Em Roraima é a questão da Raposa/ Serra do Sol. Aliás, a temporada de caça à raposa está aberta. Tivemos a idéia de colocar esses índios na mídia [com a divulgação das fotos] porque há muita gente que acha que eles não existem. E também porque, pelo que está acontecendo na Amazônia, é só uma questão de tempo para essa desgraceira chegar aqui. Só falta chegarem os madeireiros de Rondônia e acabarem de desgraçar com o resto. Se não houver essa campanha na mídia, a Amazônia que eu conheci vai acabar.

FOLHA - Os sobrevôos para monitorar os índios não são freqüentes, como o sr. disse. Falta estrutura para trabalhar?
MEIRELLES - Gostaria que [os sobrevôos] ocorressem duas vezes por ano, mas falta dinheiro, é muito caro. O Estado brasileiro repassa pouco dinheiro para a Funai, e recebemos ainda menos para os índios isolados. Trabalhamos com poucos recursos, plantamos tudo que comemos, porque, se for comprar, o dinheiro não dá.
O que gastamos por ano é uma merreca, além de que os índios não são eleitores. Precisamos de uma estrutura melhor, mais pessoas trabalhando. Moramos na base, passamos o ano lá, de vez em quando vamos para a cidade [de Feijó]. Só tem um rádio velho, não tem internet, não tem telefone. Acontece alguma coisa, morremos por lá mesmo. A Funai não treinou gente nova nesses anos todos, esses caras que mexem com índios isolados estão todos como eu, uma sucata velha, com 60 anos. Estou treinando meus filhos porque eles nasceram no mato, já estão aqui.
Depois ainda vão dizer que sou um déspota. A Funai não é como o Ministério de Minas e Energia, que faz barragens, descobre mina e dá lucro.

FOLHA - Como surgiu o interesse do sr. pelos índios?
MEIRELLES - Sempre gostei de mato, de natureza. Fazia engenharia mecânica quando levei acidentalmente um tiro de um irmão em uma caçada. No hospital descobri que não era nada daquilo que eu queria para a minha vida. Escapei da engenharia, do tiro e fiz o concurso para a Funai, em 1970, no tempo da ditadura brava. Saí da selva daí e vim aprender na daqui com os índios.

FOLHA - Pensa em sair da floresta?
MEIRELLES - Ainda tenho lenha para queimar, o problema é que na minha profissão dependemos muito do físico. Já estou com 60 anos, o físico já está começando a reclamar, dores nas costas... Vai chegar uma hora em que terei que parar. Daqui a mais três anos talvez esteja na hora, quem sabe mudar de lugar e escrever minhas memórias, sei lá.

FOLHA - O sr. foi flechado certa vez. O que aconteceu?
MEIRELLES - Quando fui flechado, não existia a base de proteção [aos índios]. As pessoas subiam o rio para pescar, retirar madeira, só que mataram alguns índios. Eles acham que nós, brancos, somos como eles, poucos. Logo após a morte desses índios, saí de casa em um domingo, para pescar, e levei uma flechada na cara. Devem ter pensando que eu matei algum índio irmão. Os índios isolados nos vêem como invasor. Quando alguém faz algo contra eles, viramos saco de pancada, pois moramos mais perto.

FOLHA - Houve um episódio em que o sr. matou um índio...
MEIRELLES - Essa é uma história de que não gosto de falar. Foi um acidente de percurso.

FOLHA - O que aconteceu, os índios cercaram o sr. e sua família?
MEIRELLES - Foram outros índios [não os isolados] e em outra situação. Ainda não trabalhava com índios isolados. Quase fui morto, se não tivesse feito isso não estaria agora conversando com você. Foi uma questão de auto-defesa, mas é uma história antiga e que ainda me incomoda muito.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Listen and find out how an uncontacted Indian village was sighted from an airplane

This is a podcast post in English about the news of a group of Indians who was seen by the Brazilian indigenist José Carlos Meirelles, in the state of Acre, near the border of Brazil with Peru.

Four pictures of the Indian village sighted from an airplane can be seen in the post two places below this one.

boomp3.com

Povo Indígena autônomo é visto no Acre por Meirelles





José Carlos Meirelles, um jovem estudante de engenharia de Ribeirão Preto que deixou a faculdade em 1973 para ser indigenista, vem trabalhando nos cafundós do Acre há 30 anos, desde que saiu do Maranhão (onde contatou o primeiro grupo do povo Awá-Guajá, em 1973-74).

Seu trabalho tem sido simplesmente guardar as fronteiras brasileiras e as terras onde vivem três ou quatro dos 16 últimos povos indígenas que vivem autonomamente do Brasil. Em agosto de 2004 ele foi atacado por um grupo desses índios, chamados de Masko, enquanto pescava perto de sua casa no alto rio Tarauacá. A ponta da flecha atravessou sua boca e foi se alojar a meio centímetro de sua cervical. Sobreviveu, foi transportado de helicóptero para Rio Branco, sarou sua ferida e, meses depois, estava de volta ao seu posto indígena.

Meirelles é um dos últimos cinco ou seis grandes sertanistas da atualidade. Como Rielli, como Jairo, como João Lobato, sua vida é passada quase toda na solidão da floresta conversando com os índios ou com as árvores, os rios ou os pássaros.

Pois bem, Meirelles vinha notando que os índios Masko estavam ficando mais ousados e chegando mais perto do seu posto. A razão disso parece ser a pressão que eles e outros índios do Peru vêm sofrendo dos madeireiros que estão deitando e rolando nas florestas do Peru.

Há dois meses Meirelles convenceu o governador do Acre a lhe emprestar um avião para ver onde estariam esses índios. Qual não foi sua surpresa quando avistou uma bela e interessante aldeia, só que não dos Masko, mas de um povo relacionado à cultura Pano. Sua aldeia está cercada de roças de bananas e mamões e tem um formato raro.

O fotógrafo que ia com ele tirou dezenas de fotos. Meirelles foi a Brasília para mostrar ao presidente da Funai, que lhe deixou esperando duas horas e não o atendeu. Aí resolveu convocar seus amigos da mídia de Rio Branco e mostrar o que tinha visto. As fotos foram publicadas em jornais e blogs e só agora a grande imprensa as notou e resolveu publicá-las.

Viva Meirelles pelo amor que tem aos índios!

Viva esse povo maravilhoso que, espantado, mas com coragem, atira flechas ao grande pássaro de ferro!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Acre, um estado especial para os povos indígenas


O Acre é um estado especial por muitos motivos.

O maior é que um enclave da cultura nordestina no meio da Amazônia. É bastante diferente do Pará e do Amazonas. Mantém esse espírito apesar da entrada de imigrantes vindos do sul do Brasil. Foi esse espírito que deu um Chico Mendes e uma Marina Silva.

O segundo maior é que vem tratando a questão indígena de um modo muito especial.

Praticamente os índios do Acre estão prescindo da atuação da Funai, a não ser para garantir a demarcação e a defesa de suas terras. Os índios falam português bem, conhecem o mundo ao seu redor, e mantêm suas tradições. Além do mais, conseguem produzir uma economia interna melhor que a maioria dos povos indígenas no resto do país.

Nas últimas administrações do PT, desde Jorge Viana e prosseguindo com Binho Marques, os índios vêm usufruindo de atitudes muito positivas. Uma secretaria de assuntos indígenas é comandada por um índio.

Lembremos que até 1978 os povos indígenas do Acre eram desconhecidos pela Funai. Viviam no meio da população rural, no meio dos seringais ou na periferia das cidades. Foi um indigenista excepcional, José Porfírio de Carvalho, que abriu o primeiro escritório da Funai em Rio Branco e começou o processo de garantir as populações indígenas a assumirem suas condições indígenas, diferenciadas das condições dos demais brasileiros. Foi ele que demarcou a primeira terra indígena. Junto com jovens antropólogos e indigenistas, como Terry Aquino e Luiz Macedo, começou o processo de reconhecimento dos povos indígenas e demarcação de suas terras. Hoje quase todas as terras indígenas estão demarcadas e garantidas.

A matéria abaixo trata do II Fórum de Povos Indígenas promovido pelo Governo do Estado do Acre.

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Termina nesta segunda-feira o II Fórum dos povos indígenas

Documento será enviado às autoridades estaduais como resultado do encontro

Diego Pintro, Rose Farias e Viviane Teixeira, Agência de Notícias do Acre


Mais de 45 representantes das 35 comunidades indígenas do Acre participam do II Fórum dos Povos Indígenas, desde o último sábado, 19. O evento encerra nesta segunda-feira 21. Na abertura do encontro, o governador Binho Marques destacou a importância da autonomia indígena na construção de um plano para que o governo financie projetos nas áreas de educação, saúde e produção.

O empoderamento, segundo Binho Marques, faz com que as pessoas coloquem em prática a autonomia, capacidade e riqueza cultural. A cada ano o Governo do Estado se reúne com as lideranças indígenas para avaliar o que foi desenvolvido ao longo do ano anterior e traçar novas metas para o ano seguinte. O maior desafio do encontro de trabalho deste ano é fomentar a elaboração de um Plano de Desenvolvimento Comunitário para as comunidades indígenas.

O II Fórum faz parte da programação da Semana do Índio, realizada pelo Governo do Estado, através da Assessoria dos Povos Indígenas e instituições parceiras, com a proposta de articular estratégias de políticas públicas de sustentabilidade para os povos indígenas, a partir da troca de conhecimentos, da identificação das temáticas prioritárias e da definição de critérios práticos e integrados entre os diversos atores sociais. Durante os três dias do Fórum, foram trabalhados os eixos temáticos: garantia de segurança alimentar, fortalecimento e valorização cultural e serviços básicos de qualidade para todos.

De acordo com o assessor indígena do governo, Francisco Pinhanta, o mais importante é participação efetiva das comunidades no processo de discussão das políticas indígenas. "Somente assim as políticas terão sustentabilidade", ressaltou. O representante do povo Yawanawa, Joaquim Tahska, disse que a realização do Fórum demonstra a sensibilidade do Governo do Estado na busca de diálogo aberto, visando garantir a execução das políticas públicas voltadas à população indígena do Acre.

Semana indígena - A Semana do Índio começou na última sexta-feira, 18, e termina nesta terça, 22, com a realização de uma mesa redonda, às 15 horas, no Auditório da Biblioteca da Floresta Marina Silva. O tema será Educação Indígena: Avanços e Perspectivas Futuras.

Além da mesa redonda, a Biblioteca realiza, às 18 horas, no Espaço Povos da Floresta, a abertura da Exposição das Publicações Indígenas da Mostra de Vídeos dos Realizadores Indígenas, que segue até o dia 04 de maio. A exposição é resultado de uma parceria entre a Biblioteca da Floresta e a Comissão Pró-Índio do Acre. Os vídeos apresentados mostrarão um pouco do modo de vida, cultura, crenças e tradições das populações tradicionais.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Antonio Macedo, indigenista acreano, solta o verbo

O indigenista Antonio Macedo faz profissão de fé e cobra da Funai e do governo aquilo que lhe foi prometido. Finalmente, um funcionário da Funai que não teme vingança.

É isso aí Macedo!

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Antônio Macedo


Indigenista cobra respeito e compromisso do presidente da República e do Congresso Nacional com a causa indígena e o indigenismo no Brasil

Se o salário dos indigenistas brasileiros está uma vergonha nacional, o funcionamento da FUNAI não podia está melhor

Sou Sertanista da FUNAI atuando no Estado do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia a cerca de 32 anos. No decorrer do exercício desta profissão junto aos indígenas destas regiões de fronteira já comi o pão que diabo amassou e ainda não consigo ver respeito das autoridades com a causa indígena e o indigenismo deste nosso país.

Embora este fato não suprima o mérito da atuação, o indigenismo infelizmente não conseguiu até o presente organizar-se em categoria e talvez por isto não tenha alcançado o merecido respeito da classe governante do país.

Cadê a Reestruração da FUNAI? Cadê o Plano de Carreira Indigenista? E o que foi feito da medida provisória que contemplaria os dois itens anteriores? O que na verdade vão fazer de nós e de nossos sofridos anos de trabalho em área de risco?. Sou um daqueles que aposta numa FUNAI cada vez mais forte e mais atuante e calçada por uma política indigenista prospera e sustentável. Um dia, igualmente a todos os servidores públicos quero me aposentar condignamente e convicto de que os povos indígenas brasileiros reencontraram a alto estima e o orgulho de ser brasileiro.

Cadê o governo popular que elegemos neste país? Onde ele se encontra? Este governo é mesmo mais um daqueles que se omite, que faz de conta que não ver e nem ouve? Onde esconderam ou porque desprezam a valorização da plurietnia e a importância da diplomacia indigenista brasileira?

Muitos de nossos companheiros já até perderam a vida embrenhada na luta em defesa dos direitos indígena e, nem assim, conseguiram alcançar respeito e valorização da profissão. Já estamos cansados de falar que falta respeito, compromisso e valorização do indigenismo no Brasil e alguém tem que dar uma resposta objetiva e sustentável para esta questão tão importante neste país.

A lei promete e infelizmente os homens não cumprem

A Constituição Federal promulgada em 05 de outubro de 1988, na conformidade do que foi estabelecido no artigo 67, a União concluiria a demarcação das terras indígenas do Brasil no prazo de ‘’cinco anos’’. Infelizmente tal meta não foi atingida havendo ainda hoje muito a ser feito para atingir este objetivo e com isto dar segurança e tranqüilidade aos 220 povos indígenas de 610, terras indígenas onde vivem cerca 400.000 índios, primeiros habitantes deste país.

Nos velhos tempos do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) os sertanistas e indigenistas eram utilizados para pegar os índios na floresta e entrega-los aos seringalistas nos barrocões para serem utilizados na condição de mão-de-obra escrava. O sertanismo era feito de forma indutiva junto a estes povos indígenas e deu no reino de expectativas e ilusões que se observa existir no universo da vida dos povos indígenas deste país. Isto não é justo, é colonização escancarada.

Missão e competências da FUNAI

A Fundação Nacional do Índio - FUNAI, subordinada ao Ministério da Justiça, é o organismo instituído pelo Governo Federal brasileiro, através da Lei nº 5.371 de 05.12.1967 com a finalidade de, em todo o território nacional, defender, proteger, assegurar os direitos originários dos povos indígenas “estabelecer as diretrizes e garantir o cumprimento da política indigenista no Brasil conforme estabelece o termo ‘’cuidar.”

Quando realmente vai-se concluir este trabalho de reconhecimento, demarcação e regularização fundiária das terras indígenas no Brasil?. Porque tanta demora, tanta avaliação e julgamentos se na verdade se trata de direitos originários destes povos indígenas?.

Tenho atualmente 55 anos de idade, nasci na colocação Bagaceira do Seringal Transval no Rio Muru – Município de Tarauacá – Estado do Acre no dia 07 de maio de 1952. Cresci na Aldeia Caucho da Terra Indígena Kaxinawá do Igarapé do Caucho. Eu não conhecia as leis mas achava estranho o governo do meu próprio Estado naquela época não reconhecer a existência e os valores dos povos indígenas com quem convivíamos desde criança.

Finalizando, afirmo que os indigenistas brasileiros esperam do Presidente Luis Inácio Lula da Silva e do Congresso Nacional agilidade e coerência na aprovação da medida provisória que contempla os Itens: Plano de Carreira Indigenista e Reestruturação da FUNAI e do senhor atual Presidente da FUNAI cobramos a imediata implantação oficial da Administração Executiva Regional da FUNAI no Vale do Juruá acreano.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Protesto no Acre contra Funasa

ìndios do Acre protestam por má liberação e corrupção na distribuição das verbas da Funasa. Assim as coisas acumulam demais!

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Entidades indígenas acreanas defendem liberação de recursos destinados a saúde nas aldeias.

A Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá, no extremo norte do estado do Acre, alega que 80 % dos recursos liberados pelo Governo Federal para ações de saúde preventiva nas aldeias não chegam ao seu destino.


De acordo com a entidade o dinheiro repassado à Fundação Nacional de Saúde e depois destinado às prefeituras locais para a execução de programas voltados para o bem está das comunidades tradicionais acaba sendo desviado ou retido pela burocracia do tramite legal de liberação da verba.

É por isso que a entidade defende uma nova estrutura na cadeia de liberação do dinheiro destinado à saúde indígena, de maneira que o repasse seja direto ao conselho deliberativo indígena para ele decidir onde, como e quando será usado o dinheiro. “O que nos queremos é acabar com está cadeia burocrática e criar um sistema onde o próprio índio possa dizer o que quer”, declara o técnico em saúde indígena José de Anchieta.

Os caciques acreanos culpam a burocracia pela falta de assistência médica nas aldeias e apontam uma série de problemas enfrentados, hoje, pelos 16 mil índios que habitam o estado do Acre. “Nos não termos um agente de saúde permanente nas aldeias, temos problemas de saneamento básico, e ainda sofremos com doenças simples que poderiam ser evitadas se os nossos povos tivessem a devida saúde preventiva nas aldeias”, denuncia o lidere nukini Luiz Carlos.

A proposta do novo modelo de estrutura para a política de liberação de recursos, destinados aos serviços de saúde nas aldeias, foi apresentada nesta terça-feira ao secretario de saúde do Acre, médico Osvaldo Leal Junior durante uma reunião com 16 caciques da região do vale do Juruá. “A gente concorda com o posicionamento deles e vamos abraçar esta bandeira”, afirmou o secretario.

A proposta elaborada pelos próprios índios será entregue ao presidente do Senado Federal Tião Viana, no próximo dia 30, durante sua estadia em Rio Branco , para ele articular em Brasília a aprovação do Ministério da Saúde.

Santa Rosa do Purus harmoniza índios e não índios

Comecemos o dia com uma matéria agradável, porque as demais que se seguem são chatas e aborrecedoras.

Um intelectual do Acre assina na Página 20 uma crônica de sua visita à cidadezinha de Santa Rosa do Purus onde índios e não índios convivem bem e em harmonia.

Vale a pena conferir. Valeria a pena ler mais sobre essa situação tão benfazeja.

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Kennedy Santos

PAGINA 20

Santa Rosa do Purus

Fiz a cobertura de um trabalho do Saúde Itinerante em Santa Rosa do Purus e fiquei impressionado com o que vi na cidade. Índios e brancos convivem em uma harmonia que poucas vezes pude perceber em outras cidades. Fiz essa crônica, que aliás, é a minha primeira.

Quando conheci Santa Rosa do Purus, ainda era uma pequena vila ligada ao município de Sena Madureira. Tinha sete casas e 12 famílias que viviam basicamente da caça e pesca, não havia hotel. Portanto, foi uma estadia rápida.

Para se chegar lá, era necessário percorrer até 12 horas em uma voadeira ou três dias de batelão (barco grande de madeira que transporta grande quantidade de gente ou mercadoria) pelo rio Purus. De avião pequeno, esse mesmo percurso era feito em mais de uma hora e meia.

A Vila era um lugar pouco conhecido dos acreanos, não havia investimento do poder público, energia elétrica, água encanada, farmácia telefone, escola. Havia apenas uma rua, que por não haver veículos, era usada como pista de pouso para pequenas aeronaves e ficava ao lado das casas.

Hoje, 15 anos depois, Santa Rosa do Purus é muito diferente.

O processo de transformação começou em 1992. Um decreto transformou a Vila Santa Rosa em município.

O que mudou? Na estrutura física da cidade muita coisa.

A Vila se transformou em cidade, cresceu. Chegaram os investimentos, escolas, prefeitura, câmara de vereadores, núcleo da universidade, quartel da polícia, luz elétrica, telefone e até a pista de pouso mudou para um lugar mais seguro.

O que não mudou? A gentileza e sensibilidade de seu povo. São guerreiros, de atitudes.

Olhando de cima vemos o grande rio Purus. Ele corta majestosamente o grande mar verde de floresta. É nesse instante que percebemos o diferencial desse lugar.

São mais de trinta aldeias e três etnias: Jaminawá, Kaxinawá e Kulina que têm uma convivência harmoniosa de encher os olhos, de dar inveja aos ditos “civilizados”.

Mais de 50% da população é de índios, na cidade eles estão por toda parte. Os que não são índios compartilham os espaços com a naturalidade que só o povo da Amazônia tem. Santa Rosa do Purus sempre foi e nunca vai deixar de ser uma grande aldeia.

Para mim, não existe outra palavra que defina o sentimento que essa cidade e seu povo têm pelo próximo: Respeito. É assim que índios e brancos convivem na cidade de mais difícil acesso do Acre, sem preconceito.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O Acre na frente

As coisas acontecem no Acre diferente de outras partes do Brasil. Na questão indígena, o Acre parecia não ter índios até 1975, quando lá apareceu o indigenista José Porfírio de Carvalho e começou a dar condições aos índios, que viviam misturados no meio da população cabocla, a se assumirem como tais e a terem suas terras reconhecidas.

Depois foram acreanos que continuaram esse trabalho.

Hoje os Kaxinawa, os Yawanawa, os Apurinã e outros têm bastante autonomia na organização de suas sociedades e no modo de exercer soberania em seus territórios.

A matéria abaixo trata do movimento político dos Kaxinawa no município onde vivem, onde são políticos e administradores. Vamos torcer para que continuem assim.

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Huni kuins decidem tomar em suas mãos a obra de construção de um futuro baseado na cultura tradicional

Juracy Xangai, da Revista 20

Os 1.180 índios kaxinawás, auto-denominados huni kuin (povo da noite) estão trabalhando para transformar os 110 mil hectares de suas terras banhadas pelos rios Tarauacá e Jordão numa área em que o desenvolvimento sustentável e a preservação de sua cultura seja uma prática autêntica e verdadeira.

Para isso, os moradores das três terras indígenas que se complementam decidiram formar uma verdadeira república indígena liderada pelo vice-prefeito do município de Jordão, Siã Kaxinawá, o qual fazquestão de destacar que: "Lamentamos aparecer no Índice do Desenvolvimento Humano (IDH) como o segundo pior município do Brasil no que se refere à qualidade de vida de nossa população. Isto é conseqüência de más administrações passadas, o que vem sendo corrigido nestes últimos anos com ações promovidas pelos governos federal, estadual e municipal, mas é preciso tempo e muito trabalho para que os efeitos disto seja percebdio de forma mais concreta", explica Siã.

Apesar dos números apresentados pelo IDH, os quais Siã não contesta, mas faz questão de lembrar que esse índice não leva em conta a cultura tradicional e a qualidade de vida das famílias que embora não dispondo de energia elétrica, água encanada e esgoto, passam seu tempo tranqüilo entre os afazeres diários, sem violência, sem fome, portanto, felizes em seu modo de ser.

Por conta disso, os huni kuin liderados por Siã que representam praticamente metade da população do município decidiram que trabalhando em parceria com o prefeito Hilário de Melo iniciam uma jornada de ações que garatam melhorias na qualidade de vida da população que vive nas 28 aldeias do município.

"Ao contrário de muitos que pensam que a solução para nossos problemas está em aprender a viver como os brancos, nós entendemos que precisamos dominar a tecnologia sem abrir mão de nossa história, nossos usos e costumes, nossa língua, em fim, de nossa cultura tradicional que há milhares de anos garante a sobrevivência e qualidade de vida à nossa gente".

Embora defenda com firmeza a identidade cultural e religiosa da nação huni kuin, Siã é enfático ao afirmar que : "Para conquistarmos nossos desenvolvimento sustentável dos pontos de vista econômico e ambiental de um modo socialmente justo, também defendemos que não mais haja discriminação entre as pessoas dos diferentes grupos humanos para que possam viver com liberdade e igualdade que garantam uma vida digna para todos nós".

Neste governo huni kuin são as lideranças de cada comunidade que defendem e executam as decisões coletivas através de programas comunitários de desenvolvimento. Professores indígenas lideram o esforço coletivo para acabar com o analfabetismo bilíngüe (português e o hãtaxa kuin).

Agentes de saúde indígena e médicos trabalham de mãos dadas com a medicina tradicional melhor traduzida na ação indispensável das parteiras que trazem ao mundo os mais novos habitantes da floresta e pelos pajés verdadeiras bibliotecas de sua história e rituais que garantem a saúde do corpo e da alma.

Agentes agro florestais indígenas cuidam da floresta e trabalham pelo desenvolvimento sustentável, seja pela criação de sistemas agro-florestais que proverão a fartura de frutas e madeiras nobres, como também pela criação extensiva de tracajás e outros animais silvestres que ajudarão a diminuir a pressão da caça predatória sobre a natureza.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Peru prejudica Amazônia brasileira

Esta matéria, vinda do Acre, demonstra o quanto o Peru, com sua pequena capacidade de administrar a Amazônia, está prejudicando o Brasil e os povos indígenas do estado do Acre, inclusive os autônomos.

A matéria não fala sobre o Parque do Javary, situado no estado do Amazonas, de onde madeireiros peruanos invadem e retiram madeira que é lavada no Peru e depois transportada rio abaixo para ser vendida em Belém.

O Exército brasileiro sabe disso, a Funai já fez diversas acusações e denúncias ao MRE, ao Gabinete Militar, enfim ao Ministério da Defesa, mas o Peru não dá jeito na situação. Os índios autônomos dessa região vão sofrer invasões e ataques. Aí será tarde para todos.

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Peru contribui para desmate em aterritório acreano

Retirada de madeira aconteceu com a permissão do governo do país

Anselmo Forneck divulgou resultados oficiais contidos no relatório

RENATA BRASILEIRO

Um sobrevôo na região fronteiriça do Estado identificou que ao longo de quatro anos os madeireiros do Peru fincaram aqui cerca de 70 pontos de invasão, todos com a intenção de retirar ilegalmente a madeira do Acre.

O que não se podia esperar, no entanto, é que o governo daquele país consentisse com a ilegalidade, liberando aos madeireiros uma carta que estabelece a área de permissão para desmate, que não só atinge a fronteira com o Acre como também invade as terras do Estado por vários hectares.

A confirmação veio a partir de um relatório feito pelo Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis (Ibama) durante a Operação Fronteira, que propõe reprimir e combater ilícitos ambientais.

No dia último dia 17, a equipe, composta por fiscais do Ibama, policiais federais, homens do Exército e do Comando de Operações Táticas da PM, saiu de Cruzeiro do Sul em aeronaves com destino à comunidade Foz do Breu, localizada na Reserva Extrativista Alto Juruá, no município de Marechal Thaumaturgo.

Na região a equipe instalou uma base e constatou a invasão através de cartas cartográficas do Exército Brasileiro e GPS. A operação abrangeu Marechal Thaumaturgo, atendendo a comunidade Foz do Breu, da Reserva Extrativista Alto Juruá e da Área Indígena Ashaninka.

"Nessas áreas chegamos ao conhecimento de que os madeireiros estavam com 21 concessões dada pelo governo peruano para o desmate dentro do território acreano", declarou o superintendente do Ibama no Acre, Anselmo Forneck.

Forneck admitiu que o Ibama não tem condições de proteger a fronteira de forma eficaz, já que ela representa cerca de 340 quilômetros. "Teríamos que ter pelo menos dez equipes, fixadas em dez postos nessa região, para tentar impedir as invasões", completou.

Diante da situação, ele disse que o relatório feito em conjunto com os órgãos deverá ser apresentado ao Ministério do Meio Ambiente para que o órgão busque negociações com o governo peruano no que diz respeito ao controle de invasões.

Na prática, o Ibama quer que o Peru não conceda mais permissões abusivas de desmate em terras acreanas e com isso contribua para o monitoramento. É cabível ainda, neste caso, que seja estabelecida uma faixa de proteção na qual sejam proibidos o desmate dentro de uma área de cinco quilômetros para dentro do Estado e cinco quilômetros dentro daquele país, a contar da fronteira, segundo Forneck.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Índios do Vale do Juruá dizem que querem mais Funai. Para quê?

Vejam essa notícia vinda do Acre. A organização dos índios do rio Juruá, no Acre, chamada Opirj, reclama que a Funai os abandonou e que é um descalabro. E agora o novo presidente prometeu criar novas administrações, inclusive uma em Cruzeiro do Sul.

Para que querem a Funai? Para a demarcação de terras e reconhecimento de novos índios, para fazer documentos. Ora, não há mais tantas terras para serem demarcadas na região de Cruzeiro do Sul, e se o posto indígena foi abandonado, deve-se ao modo como foi tratado há muitos anos. A criação de uma nova administração é uma quimera e não seria a solução por isso. Então tem algo de errado em toda essa análise.

O interessante é que todas as notícias de mudanças da Funai estão vindo do Acre...

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Funai foge da crise ampliando de 45 para 61 as Administrações Regionais

Posto da Funai está abandonado em Cruzeiro do Sul (AC)

Os dias de desgoverno e de política de aldeia arrasada da Fundação Nacional do Índio (Funai), um dos órgãos mais conturbados do governo federal, estão contados. É o que promete o presidente da fundação, Márcio Meira, que está prestes a apresentar, junto com sua equipe, um plano de reestruturação do órgão que contará com um plano de carreiras para seus servidores e mudanças radicais em suas Administrações Regionais nos estados, que passarão de 45 para 61 unidades.

Devido ao estado lastimável do órgão na maioria dos estados, onde lideranças indígenas transformaram as Regionais em verdadeiras capitanias hereditárias sob controle de algumas famílias de povos tradicionais, as mudanças virão através de uma medida provisória, a ser apresentada pelo governo ao Congresso Nacional.

Uma das novas Regionais a serem criadas pela Funai vai se situar no município de Cruzeiro do Sul, capital do Vale do Juruá acreano, onde fotos publicadas recentemente pela agência Kaxiana mostram que a sede do Posto Indígena do órgão naquela região, que detém uma das maiores concentrações de índios na Amazônia, se encontra fechado e foi totalmente tomado pelo mato.

Fachada lateral da Funai tomada pelo mato

Pelas fotos e pelo relatório de denúncias divulgado pela Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (Opirj), se pode perceber que a única representação oficial da Funai naquela região amazônica, que concentra 29 das 34 terras indígenas daquele estado, com a população de 12.880 índios que habitam em dezenas de aldeias ao longo de 2,6 milhões de hectares de floresta, está há muitos meses completamente abandonada e coberta pelo mato por todos os lados, mostrando a quem for a Cruzeiro do Sul que a Funai simplesmente sumiu da região.

“O posto deixou de ser procurado pelos índios e hoje mais parece uma estação ecológica de poeira. Sem nenhum exagero, a floresta tomou conta de toda a área do posto e trepadeiras, além de cobrir a sede do posto, atingem o alto do mastro das antenas de comunicação do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) e da própria Funai”, assinala o documento da Opirj.

Segundo o documento da Opirj, “a situação de descalabro e a desmoralização pública porque passa o órgão de indigenismo oficial em nossa região” foi denunciada, “em diversos momentos” para o administrador Regional da Funai no Acre, o índio Antônio Apurinã, “que nunca deu resposta”.

A ausência da Funai no Vale do Juruá, segundo lembra a organização indígena, está deixando sem atendimento muitas demandas da região grande concentradora de índios na Amazônia. Entre elas, estão os serviços de homologação, declaração, demarcação, revisão de limites e outras pendências da situação fundiária de terras indígenas. Além disso, faltam trabalhos de reconhecimento ético dos povos indígenas isolados e de reconhecimento de direito originário sobre territórios indígenas.

A Funai também precisa ajudar os índios a tirarem os documentos de identificação pessoal e os que possibilitem a eles terem acesso a benefícios sociais como auxílio maternidade, aposentadoria e auxílios ao tratamento de doenças fora do domicílio, entre outros. Isso sem contar o apoio do órgão oficial para o atendimento das demandas de saúde e educação dos índios.

A saída e a omissão da Funai na região do Juruá talvez seja um dos motivos para duas aldeias dos índios Kaxinawá, no município de Jordão, terem sido apontadas, em estudo realizado recentemente pela Universidade Federal do Acre (Ufac), como campeãs nacionais indígenas de subnutrição crônica entre crianças e jovens.
 
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