No Rio de Janeiro tem de tudo. Vejam essa notícia que achei em um site, que pega o gancho da fala do Papa Bento XVI, e que demonstra os delírios dos cariocas para com a questão indígena. Até um sábio Yanomami eles acharam falando em Manu!
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Brasil: Índios ocupam museu abandonado desde outubro
Por Fabiana Frayssinet, da IPS [23/5/2007]
Vinte indígenas ocupam, desde outubro, o edifício abandonado do Museu do Índio, no Rio de Janeiro, para chamar a atenção para os “500 anos de resistência ao genocídio”, uma visão da história americana que ganha outro sentido à luz da nova postura do Vaticano sobre a evangelização colonial. As paredes do museu, cuja referencia é que “fica em frente ao portão 13 do estádio do Maracanã”, se misturam com as raízes das árvores centenárias e as ruínas do que até 20 anos atrás foi um imponente edifício art deco, construído no início de 1900.
A fumaça da panela de barro onde uma índia cozinha arroz e feijão no meio da sala central se ergue em espiral até as muitas fendas que filtram a luz no teto de madeira e telhas quebradas. Alguns ocupantes dormem em redes. Outros em tendas improvisadas que em nada lembra as ocas que muitos deixaram em suas aldeias. São indígenas e descendentes dos povos karajas, yanomamis, guaranis, pataxós. Querem que o governo federal lhes ceda o prédio para ali criarem um instituto de preservação e difusão da cultura indígena.
“A história foi contada pelos vencedores desde seu ponto de vista. É uma visão que congela os indígenas no século XVI”, disse à IPS Marize de Oliveira, professora de história em escolas públicas. “Hoje, os estudantes acreditam que vivemos no meio da selva ou que não existimos mais”, acrescenta a professora, integrante do Movimento Tamoio, um grupo que remete à primeira ação de resistência da etnia tupinambá contra os colonizadores portugueses, no século XVI.
Marize é descendente de guaranis, que povoaram uma extensa região do que hoje é a América do Sul e cuja língua é reconhecida oficialmente pelo Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela). Enquanto ela fala, um companheiro de ocupação, da etnia pataxó, da Bahia, pinta em sua pele desenhos e ideogramas de sua aldeia. Outro desenha traços que lhe lembram a selva onde deixaram seus pais.
O sábio yanomami Phe Kamen, da aldeia na fronteira entre Brasil e Venezuela, vive há oito anos no Rio de Janeiro, onde chegou para que sua mulher recebesse tratamento no Hospital do Câncer. Agora, viúvo, Kamen não teria motivos para ficar na cidade. Mas, antes de morrer, sua mulher pediu que ficasse para transmitir sua cultura através do Movimento Tamoio, cujos integrantes vivem no museu abandonado. “Minha religião é a da minha etnia, meu deus é Manu, é a natureza”, disse à IPS. “O amor está em tudo, os homens devem se amar”, diz elevando seu arco em direção ao teto do edifício.
Phe Kamen pede que através desta matéria chegue “um grito de alerta à humanidade pelas bestialidades que estão sendo cometidas. O homem perdeu sua essência em busca do dinheiro, ficamos com os rios secos, os animais morrem. Católicos, muçulmanos, protestantes, todos são caminhos que levam a Manu Dus, e devemos nos unir sem nos impormos com violência uns contra os outros, para salvar o planeta”, acrescenta em uma mistura de português e espanhol. É a religião que, segundo este “velho índio”, com se define, seus ancestrais transmitiram por mais de 500 anos. É ela que sobrevive, apesar de tudo.
quinta-feira, 24 de maio de 2007
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