sexta-feira, 4 de maio de 2007

Lula: ou hidrelétrica ou energia nuclear

Nessa matéria abaixo, publicada no jornal O Globo, o presidente Lula esclarece todo o dilema brasileiro sobre produção energética. Ou utilizamos o nosso potencial hidroelétrico ou teremos que lançar mão da energia nuclear, mais cara e possivelmente mais perigosa. O presidente fala com destemor e com certa raiva de todo o embróglio que está envolvido no licenciamento das duas hidrelétricas do rio Madeira. Ao largo estão deixando a confusão armada na Hidrelétrica do Estreito, com os índios Krahô e Apinajé protestando e um juiz federal embargando. A entrevista vale também pela matéria sobre os novos presidentes interinos do velho e dividido IBAMA e do novísssimo Insituto Chico Mendes de Biodiversidade, que, mal entrou, já foi para a berlinda. O Bazileu Margarido Neto, chefe de gabinete da Ministra Marina Silva, é homem muito competente e sério. Em seu depoimento no Congresso Nacional falou com sinceridade sobre as dificuldades do IBAMA licenciar dois grandes empreendimentos sem ter garantias de proteção ambiental. Merece respeito. Ele está numa posição muito delicada, no sacrifício, visto que os funcionários do IBAMA estão revoltados com o esquartejamento do órgão.

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Lula: ajuda até do Papa para licenças

Segundo presidente, alternativa a hidrelétricas são as usinas nucleares

Chico de Gois* e Henrique Gomes Batista


UBERLÂNDIA e BRASÍLIA. Num recado indireto à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o presidente Lula afirmou ontem, durante a inauguração da usina hidrelétrica Amador Aguiar II, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, que a única alternativa do país, se não quiser investir em hidrelétricas, é construir usinas nucleares. Lula descartou a possibilidade de investir em energia eólica, como defende a ministra, e pediu aos empresários para conversar com todo mundo, inclusive com o Papa, que visita o Brasil na próxima semana, para obter as liberações para a construção de hidrelétricas: - Precisamos todos conversar com o Ministério Público, com as entidades de meio ambiente, com as ONGs, com o Tribunal de Contas e, aproveitar que o Papa está vindo, e conversar com ele, porque o Brasil não pode parar por falta de energia.

O presidente enfatizou que os problemas são conhecidos e precisam ser enfrentados, seja do ponto de vista legal ou ambiental.

Ele citou as duas grandes hidrelétricas no Rio Madeira, Santo Antonio e Jirau, e destacou que o governo está trabalhando "de forma intensa" para vencer os obstáculos.

- Ou nós construímos energia através de hidrelétricas, ou através de energia nuclear, ou termoelétricas a óleo diesel, ou a partir do gás, que não temos e temos de importar.

Lula afirmou que, numa usina eólica de 100 MW, apenas 30% são utilizados. E alertou: - Quero chamar a atenção aqui, porque não dá para pensar em construir energia para tocar um país (usando) energia solar ou eólica. Ninguém vai entender que um país que tem um potencial hídrico como o Brasil, por exemplo, vá investir em usina a carvão, que é mais poluente e mais cara.

Lula defendeu o uso da energia nuclear: - Não tenho nenhuma dúvida de fazer o debate que tiver de fazer e os enfrentamentos que tiver de fazer. Vamos fazer usina nuclear, porque este país não pode ficar sem energia para oferecer à nação brasileira.

No mesmo dia, o Ministério de Minas e Energia deu um ultimato para que o Ibama libere o licenciamento ambiental para a construção das duas hidrelétricas até o fim deste mês. O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do órgão, Márcio Pereira Zimmermann, afirmou que, se o documento não sair até esse prazo, o leilão de energia para 2012, previsto para julho ou agosto, terá que contar com mais energia baseada em termelétricas, que utilizam carvão ou gás para produzir, o que polui mais.

- Temos que ter nosso planejamento energético.

Apesar do ultimato, o presidente interino do Ibama, Bazileu Alves Margarido Neto, anunciado ontem por Marina Silva, voltou a afirmar que não há previsão de prazos para que o órgão dê o licenciamento às usinas.

Em audiência na Câmara, Bazileu disse que ainda há problemas na questão da sedimentação do rio e na sobrevivência dos bagres amazônicos.

O questionamento do Ibama foi enviado ontem ao consórcio responsável pelo projeto de R$ 23 bilhões das duas usinas: Furnas e Odebrecht. Bazileu, contudo, deu indicações de que o projeto pode ser aprovado: - Precisamos aguardar as respostas do consórcio aos novos questionamentos, mas não posso afirmar que (o projeto) é inviável.

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