Os economistas estão com tudo e não estão prosa. Estão feito baratas tontas fugindo de um spray venenoso, tentando entender a qualidade do spray, sua procedência e sua letalidade, e para onde elas, as baratas, e suas hordas de seguidores devem se refugiar. Para nós, leigos em economia, possuidores de mínimos estoques financeiros, mas não necessariamente vivendo da mão para a boca, mas que mal entendemos o que se dizia antes quando se falava em "alavancagem", "hipotecas subprime" e outros mistérios, o maremoto que ocorreu parece uma vingança divina à soberba dos grandes capitalistas e de seus mui bem pagos e mal-proféticos engabeladores. A desgraça, porém, é que as consequências reais começam a se manifestar, o desemprego bate à porta dos que trabalham nas indústrias de exportação e aos poucos vai minando os empregos da maioria que vive do setor de serviços.
A derrocada da economia americana, pela derrocada do motor propulsor dessa economia que foi o mercado de títulos imobiliários "alavancados" artificialmente, e a consequente falência dos bancos emprestadores tem alimentado os jornais e as revistas especializadas com todo tipo de análise sobre o porquê e o como da economia ter chegado ao ponto atual. Alguns desses economistas falam em nada menos que o fim do capitalismo, ao menos tal como se o entende até agora. Outros dizem que a retomada do capitalismo será feita em novas bases, com a presença mais direta do Estado em seu controle.
Se o que estamos vendo não é o fim do capitalismo, é ao menos o fim de uma etapa do capitalismo, aquilo que genericamente é chamado de "neoliberalismo".
O neoliberalismo econômico se caracterizou, em modesto resumo, por uma grande expansão da produtividade --devido ao surgimento de novas tecnologias (especialmente a informática e a robótica)--, uma extrema liberdade do mercado --por força de uma política de restrição da intervenção do Estado-- para ditar as regras do ganho, uma apoteótica exaltação do consumo --como retroalimentadora da produção--, e uma confiança desmesurada de que, deixando as coisas como estão e espalhando o sistema pelo mundo, tudo iria dar certo. De quebra, os países periféricos ao capitalismo deveriam adotar o modelo econômico dos países centrais e aí tudo iria dar no melhor dos mundos.
Parece que esse castelo de cartas que tanto brilhou por alguns 20 anos desmoronou quando o mercado de ações especificamente criado pelas hipotecas super-valorizadas alcançou seu limite subjetivo de aceitabilidade e confiança, a partir de onde não teve mais lastro para se retro-alimentar, e desminlinguiu. Os grandes bancos emprestadores de dinheiro lastreados nessas ações irreais foram se afundando rapidamente. Mesmo com a intervenção de inauditas somas de dinheiro, eles não se sustentaram. Sem ter dinheiro, sem confiança para rolar as dívidas dos outros, sem bases financeiras para manter o sistema de crédito do mundo, as grandes empresas devedoras também foram perdendo crédito e credibilidade. Também estão caindo, só se sustentando pela intervenção dos Estados. Em primeiro lugar, dos Estados Unidos, depois dos grandes países europeus e asiáticos, a China e o Japão.
De que vale hoje a China ter 2 trilhões de dólares guardados em sua caixinha de Pandora, se esse dinheiro não serve para circular no mercado de empréstimos e de rolagem de dívidas? Os chineses o estão guardando para comprar as coisas que ficarão baratas e solúveis pelos países afora, quando a economia mundial se equilibrar.
Bem, esse pequeno e claudicante resumo da derrocada do neoliberalismo econômico serve de base para analisarmos aquilo sobre o qual podemos falar com mais propriedade. Qual seja, a cultura.
O neoliberalismo econômico criou uma cultural neoliberal. Essa cultura se baseia em uma série de princípios que tomaram de conta e viraram moda intelectual nos últimos 30 anos. Falando do Brasil, desde o fim da ditadura militar, isto é, por volta de 1984.
A cultura neoliberal se caracteriza teologicamente por uma falta de fé no destino da humanidade; politicamente, por um falta de crença na utopia e contrariamente no compromisso por pequenas reformas; sociologicamente, pela valorização da individualidade, da competição, etc., em detrimento do sentido do coletivo e da cooperação; culturalmente, pela valorização da diferença extensiva em todos as escalas, isto é, pelo multiculturalismo; eticamente, ou etiquetamente, pelo "politicamente correto".
Todos esses aspectos precisam ser analisados para que possamos entender com mais segurança o quê é a cultural neoliberal. Afinal, temos falado muito nisso por esse Blog, especialmente sobre Ongs neoliberais. Elas vão precisar de mais esclarecimento mais adiante.
Entretanto, esta postagem serve apenas para falar um pouco do filme "GRAN TORINO", que acaba de entrar em circuito, o qual, no meu entender, representa a primeira tentativa de, em termos artísticos, sacolejar a força ética do neoliberalismo cultural, que é o tal de "politicamente correto".
O filme "GRAN TORINO" trata do final da vida de um velho americano conservador que é forçado a se relacionar com a minoria Hmong, um povo das montanhas do Laos e Vietnam que terminou se refugiando nos Estados Unidos ao fim da Guerra do Vietnã.
O velho conservador, representado pelo autor Clint Eastwood, é um polonês católico não praticamente que vê com maus olhos a chegada de novos vizinhos com cara de coreanos. Ele havia guerreado na Guerra da Coreia (1949-1953) e tinha mais motivos para odiar gente de olho puxado. Sua cidade, ou melhor, seu bairro é formado por gente branca, mas de diferentes procedências étnicas: italianos, irlandeses, poloneses, enfim, gente católica. O primeiro momento interessante é que essas etnias se tratam sem nenhum linguajar politicamente correto. As piadas de polaco burro, de italiano safado, de irlandês bêbado e estúpido correm soltas entre eles. É o mundo dos brancos grosseiros que não temem, acho que nem sabem, o que é politicamente correto. É evidente que este é o primeiro recado do filme. Viva a sinceridade e a sacanagem brincalhona.
Chegam os "gooks" e Clint Eastwood larga o verbo em cima deles. São uns merdas. Porém, passado alguns incidentes de bravura, fica amigo dos seus vizinhos porque protege um deles numa briga contra uma gangue de Hmong (vietnamita) que quer corromper seu jovem vizinho.
Durante todo o filme o linguajar politicamente incorreto corre solto. Agora são os Hmong que se acostumam com ele. A irmã do jovem protegido aceita tudo e até começa a fazer troça do próprio brancão polonês. É a nova inteligência do multiculturalismo.
O final não vou dizer para não estragar quem queira ver o filme. O que quero demonstrar é que o filme inaugura, pelo estilo heróico hollywoodiano, sem tirar nem pôr, o linguajar "politicamente incorreto". Ou, ao revés, o fim da aura do linguajar politicamente correto.
Agora vale de novo fazer piada de negro, italiano, japonês, chinês, irlandês, etc. Em breve virão filmes gozando viados e latinos.
Tudo vale. Mas por que isso tudo?
Acho que a mensagem do filme é que já chega de tratar as pessoas falsamente. Que as piadas étnicas não contêm só ódio e desfavor, e que evitá-las não trouxe grande avanços para a cultura americana. Que, se baixar a guarda e falar o que quiser, eventualmente, o nível de aceitação e confiança entre as pessoas de diferentes etnias pode vir a melhorar.
O multiculturalismo existe, ganhou seu espaço no mundo. Está certo. Os brancos de origem anglo-saxônica foram desafiados a obedecer o politicamente correto por remorso. Agora que todas, ou quase todas, as culturas e etnias já encontraram a fórmula antropológica de terem seu espaço no mundo americano mais amplo, pode-se relaxar, ser brincalhão, tirar sarro um do outro, que isso não vai desmerecer mais ninguém. Ao contrário, vai ajudar o mundo americano a ser mais real, mais sincero e mais amigável (friendly, pois não?)
Eis o que vi no filme "GRAN TORINO". Acho que representa o início do fim da ética balofa do politicamente correto.
Novamente, o heroi da mudança é o americano. É o novo tempo de Obama, o mestiço com nome de muçulmano que reivindica a sinceridade, o conhecimento e o amor como forma de união. E nós brasileiros estamos querendo imitar o que já foi.
sexta-feira, 27 de março de 2009
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2 comentários:
Caro Mércio,
Por mais retrógrada ou arcaica que possa vir a parecer, junto-me ao não mais Solitário de Apipucos para manter-me alerta, e transmitir certas ressalvas quanto a visão americana do mundo e das culturas não-americanas, as quais, diga-se de passagem, sempre forma tidas por eles como inferiores. Não é possível que alguém ainda conteste este fato. Me assombro quando ainda ouço alguém fazer menção ao 11 de setembro, sinalizando apenas as vítimas americanas. Ninguém ressalta as dores e os males que, até hoje os americanos continuam causando aos muçulmanos. Há pouco, lançaram no Brasil um filme que retratava os horrores sofridos por um grupo de turistas neste país.
Ora, conhecemos nossos problemas, e embora a trancos e barrancos, temos capacidade própria de encontrar soluções para tais. Não precisamos de intervenções, especialmente americana para nos ensinar como devemos proceder, e nos ensinar quel o melhor caminho a seguirmos. Uma nação que tem chacinas em escolas quase todo mês, são os maiores produtores de veneno para a atmosfera, dizimarem praticamente todos os seus nativos ( e ainda exibem com orgulho "O último Moicano", dentre outros do gênero), suas produções devem sempre ser recebidas com cautela. Para os que não concordam, meus pesares. Os americanos (com pequenas exceções) são xenófabos, etnocêntricos, egoístas. Eu, embora não esteja numa competição, tenho orgulho de reafirmar: SOU NORDESTINA, PERNAMBUCANA, EDUCADORA, ABORÍGENE ETNOCÊNTRICA, graças a Deus.
Gostei do comentário da Sunamita.
Eles são um dos maiores poluidores do planeta contra a natureza. São os maiores terroristas contra os povos, juntamente com Inglaterra, França etc...
E querem parecer que defendem a natureza e que são os mocinhos da ONU, com as propagandas e com as políticas do PNUD, BIRD, BID, UNESCO etc...
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