Mostrando postagens com marcador Yanomami. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Yanomami. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 7 de abril de 2010

De Roraima, um apelo por solidariedade


CONVITE


SOLICITAÇÃO DE APOIO AO POVO YANOMAMI E YE´KUANA
MANIFESTAÇÃO NA FUNAI DIA 07 DE ABRIL DE 2010 – QUARTA-FEIRA PRÓXIMA, 10:00 HORAS DA MANHÃ




A Terra Indígena Yanomami demarcada em 1991 e homologada pelo Governo Federal em 1992, continua até hoje invadida por fazendeiros na região do Ajarani e Repartimento e por mais de 2.000 garimpeiros em toda a Terra Indígena, e as autoridades não fazem nada para retirar os invasores.

Por isso iremos realizar uma Manifestação na frente da FUNAI no dia 07 de abril de 2010, Quarta-feira próxima, inicio às 10:00 horas da manhã e termino às 12:00 horas e necessitamos do apoio e divulgação de todos para fortalecer nossa luta contra os invasores da Terra Indígena Yanomami.


Caso queiram fazer uma faixa, cartazes podem fazer e trazer para a MANIFESTAÇÃO.

Agradece.


DAVI KOPENAWA YANOMAMI
PRESIDENTE – HUTUKARA ASSOCIAÇÃO YANOMAMI - HAY




_____________________________________________




Fotos do protesto feito pelos Yanomami ontem, em Boa Vista, diante da Funai


terça-feira, 2 de junho de 2009

Davi Kopenawa, líder Yanomami, é homenageado na Espanha


Davi Kopenawa Yanomami, um dos maiores líderes indígenas do Brasil, foi homenageado hoje, em Madrid, pelo comitê Bartolomeu de las Casas, da Casa de las Americas, que premia figuras excepcionais na defesa dos direitos indígenas da América Latina.

Davi é reconhecido no Brasil e no mundo pela luta travada na década de 1980 que resultou na demarcação do grande território Yanomami, no governo do presidente Collor de Mello. E também por sua visão filosófica e religiosa sobre o meio ambiente e o papel das culturas indígenas na sua defesa.
________________________________________


Líder ianomâmi recebe homenagem na Espanha

Da EFE, Espanha


Madri, 2 jun (EFE).- O líder ianomâmi Davi Kopenawa recebeu hoje uma homenagem em Madri por sua defesa dos direitos de seu povo e de outras terras indígenas no Brasil, em um ato no qual declarou que nasceu "para lutar" e que continuará o fazendo.

Chamado pela imprensa local de o "Dalai Lama da Amazônia", Kopenawa recebeu hoje uma menção honrosa do júri do Prêmio Bartolomé de las Casas, um prêmio convocado pela Casa América de Madri e pela Secretaria de Estado de Cooperação Internacional do Ministério de Assuntos Exteriores espanhol.

Este prêmio reconhece o trabalho a favor do entendimento com os povos indígenas e da proteção de seus direitos e valores.

Em entrevista coletiva em Casa América de Madri, o líder ianomâmi se mostrou "muito contente" e agradecido pelo prêmio.

Kopenawa é tido como um dos principais responsáveis por ter salvado o povo ianomâmi de sua quase extinção ao liderar uma campanha junto com a ONG Survival International e a Comissão Pró-Yanomami (CCPY) para conseguir a demarcação de suas terras, o que ocorreu em 1992.

Na década de 80, as áreas dos ianomâmis, espalhadas entre os estados de Amazonas e Roraima e a Venezuela, sofreram com a presença de milhares de garimpeiros em busca de ouro. Em apenas sete anos, 20% dos indígenas da tribo morreram.

"Eu nasci para lutar, para defender a meu povo", disse Kopenawa.

Apesar de as terras ianomâmis já terem sido demarcadas e reconhecidas oficialmente no Brasil, este povo indígena continua tendo "muitos problemas", segundo Kopenawa.

Para o líder ianomâmi, o Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva "deve olhar mais" para os povos indígenas.

Os ianomâmis enfrentam graves problemas de saúde, muitas vezes relacionados a doenças trazidas pelo homem branco, como a tuberculose.

Este povo indígena é um dos que menos tiveram contato com outras civilizações dentre os existentes no Brasil e ocupa uma das maiores reservas do país, com cerca de 9,6 milhões de hectares.

"Não somos políticos. Nossa política é não destruir a terra. Que nos deixem viver e proteger a natureza, que nos dá saúde e alegria", concluiu Kopenawa.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Menina Yanomami com hidrocefalia aponta conflito intercultural


Em Manaus, uma criança Yanomami, internada em um hospital por conta de uma hidrocefalia, em perigo de morte, está sendo disputada por diversas instituições.

Os pais, a Funai, a Ong indígena Coiab e até um antropólogo convidado a se manifestar querem que a criança e sua mãe retornem à sua aldeia, a 630 km de distância, para lá viver ou morrer, conforme for possível. Aceitam que a criança seja atendida por enfermeiros, mas na aldeia. A criança está internada há mais de seis meses e os pais estão cansados de viver em hospital.

Já o Hospital e o Conselho Tutelar acham que, se a criança for levada à aldeia, será "sacrificada", conforme também declarou o administrador da Funai, segundo as regras da sociedade yanomami.

Esse tipo de situação está ocorrendo em diversas partes do Brasil. Pode ser visto como um conflito intercultural, de difícil solução. Só a tolerância e a negociação é que podem resolvê-lo. Há algumas semanas, uma menina mordida de cobra, da região do alto Rio Negro, foi levada a um hospital em Manaus. O pai exigiu o acompanhamento do pajé da sua aldeia que, por sua vez, determinou a aplicação de algumas regras de resguardo, tal como a de que a enfermeira que a atendesse não se encontrasse menstruada, além de ele próprio fazer suas rezas. Nesse caso, tudo transcorreu bem por intervenção do próprio diretor do hospital, que viu a importância psicológica (do seu ponto de vista) na presença do pajé.

O atual problema é mais grave e mais difícil. Um juiz federal está decidindo que a criança deve permanecer no hospital.


__________________________________________

Caso de índia ianomâmi deficiente gera crise institucional no Amazonas

Especial para o UOL Notícias

A internação de uma índia da etnia ianomâmi em um hospital de Manaus está criando uma crise institucional no Amazonas. Os pais da criança querem retirá-la do hospital e levá-la para a aldeia. Nesta quinta-feira (16), porém, a Justiça Estadual concedeu uma ordem para que a menina, vítima de hidrocefalia (condição na qual há líquido cérebro-espinhal em excesso ao redor do cérebro e da medula espinhal), permaneça no hospital até ter alta. De outro lado, a Fundação Nacional do Índio (Funai) ameaça recorrer da decisão para garantir os direitos dos pais da menina. E em meio a tudo isso está o Conselho Tutelar, que teme que a criança seja sacrificada pelos pais quando retornar à aldeia, como parte de um ritual da etnia.

A criança chegou ao hospital levada pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e da ONG Serviço e Cooperação com o povo Yanomami (Secoya), que faz serviço de atendimento em saúde para os índios desta etnia.

A crise em torno da menina começou no início desta semana. Na última terça-feira (14), os pais da pequena ianomâmi de um ano e meio de idade foram ao Hospital Infantil Drº Fajardo, em Manaus, para tentar retirá-la do local. Ela está internada desde março com hidrocefalia, pneumonia, tuberculose e desnutrição.

Polêmica no Amazonas

Enfermeira cuida de bebê ianomâmi que está internada com hidrocefalia, tuberculose e pneumonia em hospital infantil de Manaus. O Conselho Tutelar da capital amazonense vai protocolar no Ministério Público Estadual pedido de suspensão dos direitos dos pais da criança, depois que três indígenas teriam tentado
levá-la de volta à aldeia sem autorização médica

A direção do hospital acionou o Conselho Tutelar que, diante das suspeitas de que a criança seria sacrificada por ser portadora de deficiência física, acionou o Ministério Público Estadual (MPE) pedindo a permanência da criança no hospital. Nesta quinta-feira (16), a juíza Carla Reis, da 2º Vara da Infância e da Juventude, concedeu pedido de providências ordenando que a menina fique onde está até que seu quadro clínico seja considerado satisfatório.

A decisão causou indignação do administrador regional da Funai em Manaus, Edgar Fernandes. "Ela (Justiça Estadual) não tem prerrogativa para julgar esse caso. Questões envolvendo índios têm de ser resolvidas na Justiça Federal. Vamos recorrer ao MPF (Ministério Público Federal) para interceder a favor da família", disse Edgar.

Para a diretora do hospital, Glória Chíxaro, o estado clínico da menina é estável, mas a interrupção de seu tratamento pode leva-la à morte. "O quadro dela, hoje, é estável, mas se for retirada do hospital, seu tratamento será seriamente comprometido e ela pode morrer na aldeia", disse completando que a menina será submetida a uma cirurgia para drenar o líquido de sua cabeça.

Edgar Fernandes discorda do entendimento da diretora e diz que o desejo dos pais da menina de levá-la para sua aldeia é legítimo e amparado pela Constituição Federal. "Os povos indígenas têm direito às suas próprias crenças. Os pais da menina não acreditam mais na medicina ocidental e querem que ela tenha os seus últimos dias na aldeia", explicou.

Para Fábio Menezes, conselheiro tutelar que acompanha o caso, retirar a menina do hospital é sentencia-la à morte. "Na cultura deles, quem tem deficiências deve ser sacrificado. Eles já disseram à Funai que irão fazer isso. A própria Funai já admitiu que isso pode acontecer", disse Menezes.

Sobre o possível 'sacrifício' da índia, a Funai divulgou uma nota explicando que esse tipo de ritual faz parte da cultura da etnia ianomâmi. "Gerar um filho defeituoso, que não terá serventia numa aldeia que precisa necessariamente de gente sadia (...) é um grave 'pecado', pois este não poderá cumprir o seu destino ancestral", diz a nota.

Ainda de acordo com o documento, para evitar o transtorno de ter um integrante deficiente na aldeia, quando a criança nasce, a mãe realiza um cuidadoso exame e se constatar que a mesma é portadora de deformidade, a mesma é 'descartada'.

Fábio Menezes diz que, apesar da decisão da Justiça Estadual, vai tentar impedir que ela seja levada de volta à aldeia. "Vou tentar uma reanálise do caso. Ela não pode voltar pra lá", disse.

Polêmica sobre infanticídio indígena mistura leis, valores culturais e saúde
O infanticídio entre indígenas é um tema que já gerou documentários, projetos de leis e muita polêmica em torno de saúde pública, cultura, religião e legislação. Ainda utilizado por volta de 20 etnias entre as mais de 200 do Brasil, esse princípio tribal leva à morte não apenas gêmeos, mas também filhos de mães solteiras, crianças com problema mental ou físico, ou doença não identificada pela tribo

Para o antropólogo Ademir Ramos, o caso mostra, de forma emblemática, o choque entre as culturas indígenas e a ocidental. "O não índio não está discutindo hoje a eutanásia? Essa é uma questão já resolvida para os ianomâmis. Eles precisam de gente saudável na aldeia. Uma criança com deficiência gera uma série de transtornos aos integrantes da tribo", disse o antropólogo.

A juíza Carla Reis defendeu sua decisão ordenando a manutenção da menina no hospital. "Eu estou analisando apenas o fato de ela se tratar de uma criança. Não entrei no mérito de ela ser indígena ou não. Pra mim, ela é apenas uma criança", disse.

A magistrada admite, porém, que a Funai tem argumentos para recorrer de sua decisão. "Se eles quiserem, podem argumentar que a Justiça Estadual não tem autoridade para decidir em casos envolvendo índios. Vai depender deles", disse.

Uma reunião entre Conselho Tutelar, Funai e o Ministério Público Federal (MPF) está sendo realizada na noite desta quinta-feira. O MPF ainda não se manifestou sobre o caso.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Yanomami da Venezuela reclamam do governo Chavez

Deu no New York Times!

Matéria sobre as relações entre os Yanomami (da parte da Venezuela) e o governo Hugo Chavez.

A matéria é feita por um jornalista com nome espanhol, pode ser venezuelano ou não. Mas é uma matéria típica do jornalismo americano, tanto pelo lado bom jornalístico, cheio de conteúdo e entrevistas, quanto pelo seu lado malicioso, indiciando o caso como culpa do governo.

Trata das dificuldades de relacionamento entre os Yanomami e o governo Chavez. Segundo a matéria, a saúde é um desastre entre os Yanomami. Morrem aos montes, apesar de um programa de saúde parecido com o da Funasa. Inclusive com auxiliares de enfermagem indígenas. As reclamações dos índios são idênticas dos dois lados. No Brasil, as Ongs também reclamam.

Mais desastroso ainda é a enganação que o governo parece fazer em relação aos índios. Segundo alguns líderes entrevistados, o governo faz muita propaganda de sua atuação indigenista, usa os índios como cartão postal de sua atuação social, mas não dá poder aos índios.

Que poder os índios querem? A matéria não trata disso.

Há um quê de malicioso na matéria. Mas há muita informação pertinente, sem dúvida. Ao menos em comparação ao Brasil, muita coisa parece equivalente e similar. Só que na Venezuela não há Ongs religiosas trabalhando entre os Yanomami. Foram expulsas pelo governo Chavez.

Aceitamos comentários comparativos.

_____________________________


Ianomamis acusam governo venezuelano de negligência

New York Times
Simon Romero
Em Puerto Ayacucho (Venezuela)

Três anos após o presidente Hugo Chávez ter expulsado missionários norte-americanos da Amazônia venezuelana, acusando-os de fazer proselitismo junto a tribos remotas para acobertar atividades de espionagem, aumenta aqui o ressentimento em relação àquilo que alguns líderes tribais chamam de uma negligência oficial que teria provocado a morte de dezenas de crianças e adultos indígenas.

Alguns líderes dos ianomamis, uma das maiores tribos que habitam as florestas equatoriais da América do Sul, afirmam que 50 pessoas nas suas comunidades na Amazônia morreram desde a expulsão dos missionários em 2005 devido à falta periódica de remédios e combustível, bem como à ausência de transporte confiável da selva para unidades de saúde.

O governo de Chávez repele essas acusações e afirma que nunca se investiu tanto em programas sociais para os ianomamis. O investimento é parte de um plano mais extenso com o propósito de garantir maior controle militar e social sobre áreas da selva amazônica que são tidas como essenciais para a soberania da Venezuela.

Os líderes ianomamis estão entrando em um debate político a respeito de como as autoridades reagem aos desafios na área de saúde pública enfrentados pelos ianomamis e outras tribos amazônicas. Em recentes entrevistas concedidas aqui, autoridades do governo insinuaram que os ianomamis podem estar exagerando as suas alegações com o objetivo de receber mais recursos do governo e reduzir a autoridade deste na Amazônia.

Enquanto isso, as queixas dos ianomamis são feitas em meio a preocupações crescentes na Venezuela em relação aos serviços de saúde às populações indígenas, após um escândalo em agosto devido à resposta lenta do governo a uma misteriosa doença que matou 38 índios waraó no nordeste do país.

"Este governo faz um grande show, afirmando que ajuda os ianomamis, mas uma coisa é a retórica e outra é a realidade", critica Ramon Gonzalez, 49, um líder ianomami da vila de Yajanamateli que recentemente viajou até Puerto Ayacucho, a capital do Estado venezuelano do Amazonas, a fim de solicitar a oficiais militares e médicos civis a melhoria dos serviços de saúde.

"A verdade é que a vida dos ianomamis ainda é considerada algo sem valor", acusa Gonzalez, que foi convertido ao cristianismo pela New Tribes Mission, um grupo da Flórida que foi expulso da Venezuela em 2005. "Os barcos, os aviões, o dinheiro, tudo isso é para os criollos, e não para nós", queixa-se ele, utilizando um termo que designa os venezuelanos que não são de etnia indígena.

Os líderes ianomamis oferecem uma imagem da tribo bem diferente daquela encontrada nos livros de antropologia, que muitas vezes a retrata em estruturas rousseaunianas habitadas por índios de faces pintadas e usando tangas.

Existem 26 mil ianomamis na Floresta Amazônica, na Venezuela e no Brasil, onde eles vivem como caçadores semi-nômades e cultivadores de culturas como a mandioca e a banana.

Eles continuam vulneráveis a doenças contra as quais tem baixa imunidade, incluindo enfermidades respiratórias e variedades de malária resistentes a medicamentos. Em Puerto Ayacucho, eles podem ser vistos caminhando pelas ruas cheias de automóveis, usando camisetas e calças jeans largas e manuseando telefones celulares.

No início desta década, a comunidade antropológica foi abalada pelas alegações feitas pelo escritor Patrick Tierney de que acadêmicos norte-americanos iniciaram e agravaram uma epidemia de sarampo que no final da década de 1960 matou centenas de ianomamis.

E alegações de negligência médica emergiram antes que Chávez expulsasse cerca de 200 missionários norte-americanos. Eles forneciam assistência de saúde aos ianomamis, com remédios doados pelos Estados Unidos, e transportavam os índios para clínicas em pequenos aviões, utilizando dezenas de pistas de pouso abertas na floresta.

O Nova Tribes, o mais famoso dos grupos expulsos, negou as acusações de espionagem feitas por Chávez, mas recusou-se a tecer comentários para esta matéria, citando as relações tensas entre a Venezuela e os Estados Unidos.

Gonzalez e outros líderes ianomamis forneceram os nomes de 50 pessoas, incluindo 22 crianças, que segundo eles morreram de doenças como malária e pneumonia depois que as forças armadas limitaram os vôos civis e dos missionários às aldeias dos índios em 2005. As forças armadas substituíram as operações dos missionários com a sua própria frota de pequenos aviões e helicópteros, mas os críticos afirmam que as missões militares são infreqüentes e não atendem aos casos de emergência.

Os líderes ianomamis dizem que tornaram a lista pública depois que a mostraram a autoridades de saúde e militares e receberam delas uma resposta fria. "Eles nos disseram que deveríamos ser gratos pela ajuda que já estão nos fornecendo", conta Eduardo Mejía, 24, um líder ianomami da aldeia de El Cejal.

O oficial militar responsável pelo transporte no interior do Estado venezuelano do Amazonas, o general Yomar Jose Rubio, da 52ª Brigada de Infantaria em Puerto Ayacucho, não respondeu aos pedidos para que fizesse comentários sobre o assunto. Mas outras autoridades daqui questionaram as alegações dos índios.

"Os missionários estavam na Amazônia havia 50 anos, criando em alguns lugares populações indígenas dependentes, de forma que a retirada deles tinha necessariamente que resultar em efeitos positivos e negativos", argumenta Carlos Botto, funcionário do Caicet, um instituto governamental de pesquisas especializado em doenças tropicais.

"Mas não podemos nos esquecer de que os ianomamis e outros grupos indígenas aprenderam como exercer pressão sobre o governo para receberem alimentos e outros benefícios", diz ele. "Isto não significa que não haja problemas em relação ao fornecimento de saúde a eles, mas é preciso ter cuidado com alegações desse tipo".

A disputa fez também com que as atenções se concentrassem em um programa inovador de governo criado no final de 2005, o Plano de Saúde Ianomami. Com uma equipe de 46 pessoas, ele treina alguns ianomamis para atuarem como agentes de saúde nas suas aldeias, e envia médicos à selva para que estes forneçam serviços de saúde em comunidades remotas.

"Temos 14 médicos na nossa equipe, sendo que 11 deles foram treinados em Cuba para trabalhar em áreas de selva", diz Meydell Simancas, 32, um especialista em doenças tropicais que dirige o programa em um complexo situado aqui que já pertenceu à New Tribes Mission.

Simancas afirma que mais de 20 ianomamis foram treinados para atuar como paramédicos, e que as estatísticas revelam que a atuação dos médicos provocou o aumento do número de vacinas aplicadas e dos programas de controle da malária e da cegueira dos rios em todo o Amazonas.

Os líderes ianomamis que reclamam da negligência reconhecem as boas intenções de Simancas. Mas eles afirmam que graves problemas persistem quanto à coordenação militar de acesso aos médicos e aos remédios. Tanto os ianomamis quanto os médicos do governo dependem das forças armadas para o transporte entre a cidade e a selva.

Simancas sugere que as alegações de que houve dezenas de mortes originaram-se na aldeia de Coshilowateli, onde um grupo de evangelistas norte-americanos, a Padamo Mission, lutou contra a expulsão, argumentando que os líderes não poderiam ser expulsos por terem cidadania venezuelana.

"Existem dados subjetivos que podem valer a pena investigar", afirma Simancas, referindo-se a Coshilowateli. "Mas eles tiveram origem em uma comunidade em situação de tensão política".

Michael Dawson, líder da Padamo Mission, nega que as alegações de negligência governamental tenham sido exageradas ou politicamente motivadas. Ele diz ainda que elas não tiveram origem em Coshilowateli, mas sim nas aldeias nas quais os ianomamis foram convertidos ao cristianismo por missionários que foram expulsos por Chávez.

"Para eles é fácil simplesmente colocar a culpa em nós, em vez de admitirem que não ajudaram muito os índios", critica Dawson, 53, que nasceu e foi criado entre os ianomamis. "Cada um dos nomes na lista é um caso verificável de emergência no qual foram feitos pedidos repetidos de ajuda até mesmo por meio de aparelhos de radioamadorismo".

Os líderes ianomamis denunciam aquilo que segundo eles é um comportamento generalizado das autoridades, caracterizado pela negligência e pela condescendência. "Eles colocam fotos dos ianomamis em toda parte, em panfletos turísticos, em saguões de aeroportos e até mesmo nas ambulâncias de Puerto Ayacucho", diz Andres Gonzalez, 38, um líder ianomami. "É assim que eles nos querem, em fotografias, sem posições de poder".

Enquanto isso, os ianomamis que conseguem ter acesso a tratamento de saúde aqui permanecem em uma instalação pobre, que já pertenceu aos missionários estrangeiros que foram expulsos em 2005. No quintal da instalação, mulheres cozinham mandioca em panelas de metal colocadas sobre uma fogueira, à sombra de uma mangueira.

Os homens estão deitados em redes penduradas em um barracão sem paredes. Pedro Camico, 36, conta que viajou de El Cejal até aqui, depois que um de seus filhos morreu de malária. O nome da criança, uma menina, não faz parte da lista de 50 mortos apresentada pelos líderes ianomamis. Ele fica ao lado do filho, Misael, de quatro anos, que também está com malária, mas que poderá se recuperar devido aos remédios que está recebendo.

"Tenho uma filha morta e um filho vivo. Mas o que importa é que estou aqui com ele", afirma Camico. "Sou um dos que tiveram sorte".

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Davi Yanomami protesta contra visita de deputados

Davi Yanomami e um pequeno grupo de seus patrícios vieram a Brasília protestar pela visita intempestiva que deputados da Comissão Especial pela Mineração em Terras Indígenas fizeram no começo do mês.

A matéria relata a indignação de Davi, mas também não deixa de soltar uma farpa a ele ao citar uma frase de um dos deputados dessa Comissão que diz que ele "fala muito para a imprensa internacional".

A questão da mineração em terras indígenas está sendo tratada com leveza demasiada por parte dessa Comissão. O Legislativo não pode se arvorar em fazer todo o reconhecimento sem a participação direta da Funai.

___________________________________________

Pajé luta contra mineração em terras indígenas
Líder diz que pode haver tragédia

Roldão Arruda, SÃO PAULO

“Não sou presidente, como o Lula, mas sou liderança do meu povo, que mora na floresta faz 500 anos, e mereço ser ouvido.”

A declaração, em tom de desabafo, tem sido repetida em Brasília nos últimos dias pelo pajé Davi Kopenawa, respeitado líder dos ianomâmis - grupo de 15.500 índios que habita uma vasta região de florestas, com 9 milhões de hectares, entre Roraima e Amazonas, na fronteira com a Venezuela.

À frente de uma pequena delegação, ele foi até a capital federal para falar sobre as dificuldades que seu povo enfrenta na área da saúde e, sobretudo, manifestar seu descontentamento com as ações dos deputados da comissão especial que analisa o projeto de lei nº 1.610/96, que vai regulamentar a mineração em terras indígenas.

De acordo com Davi, os parlamentares não estão preocupados em ouvir os índios, nem com o debate sobre a questão da mineração: “Querem fazer tudo escondido.”

O desembarque em Brasília - que começou na terça-feira e deve terminar hoje - é uma represália à visita que os deputados da comissão fizeram dias atrás a duas aldeias ianomâmis. “Ninguém gostou”, contou o pajé. “Eles foram sem avisar, o que é falta de respeito, e ainda levaram presentes, facas, terçados, coisas que não valem nada, para enganar os índios.”

Davi se opõe a qualquer proposta de mineração no território ianomâmi. Ele recorda a tragédia ocorrida em meados dos anos 80, quando 40 mil garimpeiros invadiram a região, levando doenças, violência e mortes. Também destaca que qualquer mineração implicará a construção de estradas e ameaças ambientais: “Quando abriram a Perimetral Norte, de Boa Vista a São Gabriel da Cachoeira, derrubaram florestas, sujaram os rios e trouxeram uma epidemia braba, chamada sarampo, que matou muita gente. Morreu até meu pai.”

Os ianomâmis constituem o grupo mais forte de oposição à liberação da mineração. Existem outros grupos que a apóiam.

No roteiro de visitas em Brasília, os ianomâmis incluíram o gabinete do deputado Édio Lopes (PMDB-RR), presidente da comissão que prepara o projeto de lei e responsável pela recente visita às aldeias ianomâmis. Ele disse ontem ao Estado que os índios foram avisados da visita e negou ter dado presentes às lideranças: “Levamos um coronel e um general conosco e ficamos o tempo todo em território militar, sem entrar nas aldeias.”

O deputado contou ter ficado impressionado com a influência de ONGs do Brasil e do exterior sobre as comunidades indígenas: “O Davi fala muito para a imprensa internacional.”

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Funasa passa por mais um constrangimento

Mais más notícias da Funasa. Desta vez, mais uma vez, mais uma décima vez, os Yanomami prenderam aviões e pessoal da Funasa em suas terras.

Ao mesmo tempo, está rolando uma tomada da Funasa em Manaus por parte de um grupo grande de índios do Amazonas, que só saem, dizem eles, se a Funasa mudar o sistema de atendimento e acabar com a proposta de municipalização da saúde.

É ver para crer o que a Funasa e o Ministério da Saúde vão fazer. Negociar, por certo. Arranjar mais uma verba extra para acalmar a situação.

Não sei como esse pessoal agüenta tanto constrangimento. Não sei como o ministro da saúde deixa as coisas como estão. Vai sofrer constrangimento após constrangimento até que, um dia, o governo vai ter que tomar uma atitude. Empurram com a barriga algo que não tem mais jeito.

Se não for esse ministro, será outro.

A matéria da Folha de Boa Vista traz uma lista de notícias sobre a Funasa e sua relação tempestuosa com os índios.

___________________________________________________________

YANOMAMI Índios retêm 3 aviões e fazem 10 reféns

FOLHA DE BOA VISTA - RR
Cyneida Correa

Três aviões da empresa Roraima Táxi Aéreo que estão prestando serviço para Funasa (Fundação Nacional de Saúde) foram apreendidos ontem por indígenas da etnia yanomami, na maloca Paapiú, no Município de Alto Alegre. Dez pessoas entre pilotos e servidores da Fundação estão mantidos reféns na comunidade.

Um sinal de rádio foi transmitido para outras malocas para que ninguém deixe aviões da Fundação que estejam com funcionários da Universidade de Brasília (FUB) retornar a Boa Vista. A ordem teria partido do tuxaua Arokona Yanomami, que exigiu comida e remédios para as tribos.

Os índios querem a presença do presidente da Funasa, Danilo Forte, pois afirmam estar "cansados de nada ser resolvido" a respeito da situação da saúde indígena. Estão detidos na aldeia seis funcionários da Fundação e os pilotos das aeronaves. As negociações estão paralisadas.

Esta é a segunda vez em menos de 40 dias que os indígenas apreendem aeronaves e servidores. No dia 4 de outubro, outra aeronave ficou retida na aldeia indígena yanomami, mas foram liberados no dia seguinte.

Segundo o presidente do sindicado da categoria, Rondinelle Rodrigues, os índios querem que a Fundação se pronuncie sobre a renovação do convênio de assistência à saúde básica que encerrou no dia 6 do mês passado.

"Os índios estão mais politizados e estão irredutíveis em liberar as aeronaves. Hoje tentaremos novamente, pois estamos preocupados com uma possível conseqüência internacional para este impasse. Passamos a manhã negociando, mas eles não mudaram de idéia sobre a liberação da aeronave", explicou.

O sindicato negou que houvesse qualquer tipo de acordo com as comunidades para pressionar a Funasa em relação à definição salarial da categoria. "Não temos acordo nenhum. Ficamos surpresos com o que houve porque estávamos esperando esse líder indígena em Boa Vista para participar de uma reunião ontem [domingo]", disse.

"A gente teme que essa atitude possa trazer danos a eles e esperamos que isso seja visto pelas autoridades em Brasília e que eles tomem atitudes para solucionar essa problemática", afirmou o sindicalista.

A Folha tentou por três vezes entrar em contato com a representante da Funasa, Célia Dias, que estava responsável por prestar esclarecimentos sobre a apreensão das aeronaves pelos índios. A chefe do Distrito Sanitário Yanomami passou a tarde em uma reunião na Fundação e até o fechamento da matéria não se pronunciou sobre a questão.

Retrospecto da situação da Funasa

2006

FEVEREIRO Servidores são impedidos de deixar a comunidade Wabutha

MARÇO Profissionais estavam há três meses sem receber salário; enfermeiros e médicos se recusam a ir para área

MAIO Índios da reserva yanomami prendem novamente servidores;

JULHO Cresce número de malária na reserva yanomami

OUTUBRO Índios yanomami enviam ofício ao MS pedindo empenho na saúde indígena

NOVEMBRO Malária na área yanomami quadruplica

2007

MARÇO Funasa libera 20 milhões para a saúde indígena

JUNHO Líder indígena critica atuação da Funasa em área yanomami

JUNHO Funasa inicia plano emergencial de combate à malária entre yanomami

SETEMBRO Profissionais de saúde da área yanomami se reúnem para discutir atraso salarial

OUTUBRO Índios yanomami retêm aeronaves e servidores

NOVEMBRO Aviões da Funasa são apreendidos por yanomami

NOVEMBRO Sindicato inicia paralisação na saúde

Funasa passa por mais um constrangimento

Mais más notícias da Funasa. Desta vez, mais uma vez, mais uma décima vez, os Yanomami prenderam aviões e pessoal da Funasa em suas terras.

Ao mesmo tempo, está rolando uma tomada da Funasa em Manaus por parte de um grupo grande de índios do Amazonas, que só saem, dizem eles, se a Funasa mudar o sistema de atendimento e acabar com a proposta de municipalização da saúde.

É ver para crer o que a Funasa e o Ministério da Saúde vão fazer. Negociar, por certo. Arranjar mais uma verba extra para acalmar a situação.

Não sei como esse pessoal agüenta tanto constrangimento. Não sei como o ministro da saúde deixa as coisas como estão. Vai sofrer constrangimento após constrangimento até que, um dia, o governo vai ter que tomar uma atitude. Empurram com a barriga algo que não tem mais jeito.

Se não for esse ministro, será outro.

A matéria da Folha de Boa Vista traz uma lista de notícias sobre a Funasa e sua relação tempestuosa com os índios.

___________________________________________________________

YANOMAMI Índios retêm 3 aviões e fazem 10 reféns

FOLHA DE BOA VISTA - RR
Cyneida Correa

Três aviões da empresa Roraima Táxi Aéreo que estão prestando serviço para Funasa (Fundação Nacional de Saúde) foram apreendidos ontem por indígenas da etnia yanomami, na maloca Paapiú, no Município de Alto Alegre. Dez pessoas entre pilotos e servidores da Fundação estão mantidos reféns na comunidade.

Um sinal de rádio foi transmitido para outras malocas para que ninguém deixe aviões da Fundação que estejam com funcionários da Universidade de Brasília (FUB) retornar a Boa Vista. A ordem teria partido do tuxaua Arokona Yanomami, que exigiu comida e remédios para as tribos.

Os índios querem a presença do presidente da Funasa, Danilo Forte, pois afirmam estar "cansados de nada ser resolvido" a respeito da situação da saúde indígena. Estão detidos na aldeia seis funcionários da Fundação e os pilotos das aeronaves. As negociações estão paralisadas.

Esta é a segunda vez em menos de 40 dias que os indígenas apreendem aeronaves e servidores. No dia 4 de outubro, outra aeronave ficou retida na aldeia indígena yanomami, mas foram liberados no dia seguinte.

Segundo o presidente do sindicado da categoria, Rondinelle Rodrigues, os índios querem que a Fundação se pronuncie sobre a renovação do convênio de assistência à saúde básica que encerrou no dia 6 do mês passado.

"Os índios estão mais politizados e estão irredutíveis em liberar as aeronaves. Hoje tentaremos novamente, pois estamos preocupados com uma possível conseqüência internacional para este impasse. Passamos a manhã negociando, mas eles não mudaram de idéia sobre a liberação da aeronave", explicou.

O sindicato negou que houvesse qualquer tipo de acordo com as comunidades para pressionar a Funasa em relação à definição salarial da categoria. "Não temos acordo nenhum. Ficamos surpresos com o que houve porque estávamos esperando esse líder indígena em Boa Vista para participar de uma reunião ontem [domingo]", disse.

"A gente teme que essa atitude possa trazer danos a eles e esperamos que isso seja visto pelas autoridades em Brasília e que eles tomem atitudes para solucionar essa problemática", afirmou o sindicalista.

A Folha tentou por três vezes entrar em contato com a representante da Funasa, Célia Dias, que estava responsável por prestar esclarecimentos sobre a apreensão das aeronaves pelos índios. A chefe do Distrito Sanitário Yanomami passou a tarde em uma reunião na Fundação e até o fechamento da matéria não se pronunciou sobre a questão.

Retrospecto da situação da Funasa

2006

FEVEREIRO Servidores são impedidos de deixar a comunidade Wabutha

MARÇO Profissionais estavam há três meses sem receber salário; enfermeiros e médicos se recusam a ir para área

MAIO Índios da reserva yanomami prendem novamente servidores;

JULHO Cresce número de malária na reserva yanomami

OUTUBRO Índios yanomami enviam ofício ao MS pedindo empenho na saúde indígena

NOVEMBRO Malária na área yanomami quadruplica

2007

MARÇO Funasa libera 20 milhões para a saúde indígena

JUNHO Líder indígena critica atuação da Funasa em área yanomami

JUNHO Funasa inicia plano emergencial de combate à malária entre yanomami

SETEMBRO Profissionais de saúde da área yanomami se reúnem para discutir atraso salarial

OUTUBRO Índios yanomami retêm aeronaves e servidores

NOVEMBRO Aviões da Funasa são apreendidos por yanomami

NOVEMBRO Sindicato inicia paralisação na saúde

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Urihi, Ong de antropólogos, em questão

Sempre achei que a Ong Urihi, que cuidava da saúde dos índios Yanomami, era de boa fé. Tinha um grupo grande de médicos e assistentes, e sobretudo tinha uma rede de apoio impressionante. Os aviões voavam pelos céus de Roraima a todo tempo.

Agora descobrimos porquê. Era formada por antropólogos e missionários bastante conhecidos e integrados com a rede de indigenistas ongueiros formada na década de 1990. Agora foi descoberto que eles receberam mais dinheiro do que qualquer outra. Só em 2002 foram mais de R$ 30 milhões.

Quanto será que receberam no governo Lula? Sei que quem os descredenciou foi o ex-presidente da Funasa, Waldi Camato, do PT de Goiás. Mas eles protestaram muito e vêm dizendo que tem aumentado a incidência da malária entre os Yanomami por causa de sua saída.

Por outro lado, parece que não têm nada a ver com o escândalo do coordenador da Funasa em Roraima, um indicado do senador Romero Jucá.

________________________________________________________________

Tucano investiga convênios de FH

O Globo

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) quer convocar representantes da organização não-governamental Urihi, criada para dar assistência aos ianomâmis, para depor na CPI das ONGs. Ele quer investigar convênios firmados no governo FH. Três meses depois de criada, em 1999, a ONG recebeu da Funasa R$ 8,7 milhões. Em 2002, o valor total era de R$ 33,8 milhões.

Entre os sócios-fundadores estão os antropólogos Bruce Albert, Alcida Ramos e o missionário católico Carlo Zacquini.

sábado, 27 de outubro de 2007

Davi Kopenawa fala para os gringos não comparem terras na Amazônia

Diversos jornais repercutiram uma matéria que vem de Londres sobre a passagem de David Kopenawa por terras européias. Parece que ele vem se saindo muito bem, fazendo denúncias de desleixo da Funasa, ameaças de madeireiros e mineradores e outras coisas mais.

O problema é que tudo indica que o Brasil é incapaz de qualquer coisa e que só a intervenção de europeus é que faz as coisas se moverem em nosso país.

Seja como for, nessa matéria o importante é que Kopenawa diz para os gringos não inventarem de comprar terras na Amazônia como se fosse para salvá-la. Kopenawa diz isso de boa fé e os gringos vão interpretar como quiserem.

____________________________________________________________

Amazônia à venda ameaça tribos

LONDRES. Compre 4 km² de floresta amazônica por R$ 200 e ajude a salvar o planeta. A campanha vem ganhando adesão de organizações que vendem a idéia como solução contra o aquecimento global. Cool Earth, World Land Trust e Amazon International Rainforest Reserve são ONGs à frente do projeto polêmico que levou a Londres o xamã Davi Kopenawa, líder da tribo ianomami, para protestar e pedir apoio ao primeiro-ministro britânico, Gordon Brown.

- Vim de muito longe para mandar uma mensagem: estou lutando pelo direito do povo ianomami de defender a própria terra - disparou Kopenawa, numa coletiva de imprensa organizada pela ONG Survival International.

Kopenawa e a organização internacional lutam pela ratificação da convenção 169 da Organizaçao Internacional do Trabalho (OIT), que delega aos povos indígenas o direito à terra onde vivem. O Reino Unido não assinou o documento da ONU com o argumento de que não há povos indígenas em seu território. Mas o líder ianomami lembrou a Brown que projetos britânicos como os da Cool Earth afetam a vida de quem mora na floresta:

- Se vocês assinarem essa lei, essas organizações vão ter de segui-la - disse. - A floresta não pode ser comprada. É a nossa vida e sempre cuidamos dela.

A fórmula é simples: através de ONGs locais, geridas por brasileiros, mas em muitos casos de mesmo nome da matriz estrangeira, as gigantes internacionais apóiam projetos de reflorestamento e financiam a compra de terras com o compromisso de acompanhar o manejo da área. A campanha está nos jornais britânicos: "Compre. Sim, compre enquanto é possível fazer negócio", diz matéria do The Times.

Quatro km² de floresta amazônica pode custar de R$ 200 a R$ 280, dependendo da ONG que vende. A Cool Earth detém cerca de 128 km² no Brasil e no Equador, enquanto a World Land Trust já comprou 1,4 milhão de km² de habitats que, alega, estão ameaçados no Brasil, Paraguai, Argentina, Belize e Índia. Já a americana Amazon International Rainforest Reserve diz ter como objetivo "comprar e proteger 160 milhões de km² na floresta amazônica nos próximos 20 anos".

Segundo a Cool Earth, uma área estimada em 200 milhões de km² é desmatada anualmente, acelerando o aquecimento global. A ONG afirma que cada 4 km² preservados deixam de liberar 260 toneladas de gás carbônico, ou "a mesma quantidade produzida por 10 famílias britânicas durante um ano". A organização defende, ainda, que o desmatamento da floresta amazônica "libera mais gás carbônico do que os Estados Unidos inteiros".

terça-feira, 9 de outubro de 2007

David Kopenawa denuncia mal atendimento de saúde na Inglaterra.

Desesperado diante da indiferença e da incapacidade indigenista da Funasa, David Kopenawa, com o prestígio angariado em fóruns internacionais, resolveu partir para a trajetória de jogar lama no ventilador.

Está na Europa, com apoio de diversas Ongs internacionais e brasileiras, para mostrar o caos da saúde em seu território. Mas também para mostrar o caos da saúde entre outros povos, como os Guarani. Já se vê de onde vem esse relatório que ele apresentará ao Parlamento Britânico.

Que coisa! Será que o governo Lula vai ficar indiferente a esses dois fatos? Um, que é de deixar prevalecer o caos da saúde entre os povos indígenas -- e não são só os Ianomami e Guarani que passam por tantas dificuldades de saúde, mas muitos povos indígenas pelo Brasil afora. E dois, engolir os ingleses e europeus posando de bonzinhos ao receber David, com toda a propaganda contrária ao Brasil que está sendo veiculada mundo afora.

Alguma coisa o nosso governo terá de fazer, e que não seja culpar o David Kopenawa!
_________________________________________________________

Líderes falam sobre saúde indígena no Brasil ao Parlamento britânico e querem marcar reunião com primeiro-ministro

Jamil Chade, Estado de São Paulo

Representantes dos ianomâmis vão denunciar ao Parlamento britânico a situação vivida pela tribo no Brasil e pretendem se reunir com o primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, para pedir que Londres tome atitudes para ajudar a proteger os direitos dos indígenas.

Na próxima semana, Davi Kopenawa Ianomâmi e seu filho, Dario, farão um tour pela Europa para emitir um alerta sobre as condições de saúde e apelar por ações concretas.

A viagem dos líderes indígenas está sendo organizada pela entidade britânica Survival International e incluirá também uma visita à Alemanha. Diante dos deputados britânicos, Davi vai expor pontos de um relatório que aborda a situação da saúde dos povos indígenas na floresta amazônica.

Segundo dados sobre as condições de saúde, não são apenas os ianomâmis que sofrem no Brasil. Uma das acusações é que muitos indígenas estão sendo obrigados a trabalhar na colheita de cana-de-açúcar e soja na Região Centro-Oeste. Mesmo assim, o que ganham não é suficiente para manter suas famílias.

No caso do povo indígena guarani, o relatório trará denúncias de má nutrição e acusará o governo brasileiro de não dar resposta adequada ao problema. Segundo a entidade, os problemas de saúde com os guaranis estão sendo notados tanto no Brasil como na Argentina.

Caso Brown não receba os líderes ianomâmis, a estratégia será entregar uma carta ao primeiro-ministro pedindo que o Reino Unido ratifique uma convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que prevê a proteção de direitos das tribos.

CLIMA

Com a nova onda de campanhas na Europa em função das mudanças climáticas, a Amazônia volta a ganhar a atenção da opinião pública. Deputados alemães e ingleses querem saber não apenas a situação dos indígenas, mas também o que está sendo feito em relação à exploração de madeira na região.

Na Organização das Nações Unidas (ONU), comitê avalia as reservas indígenas no Brasil. Já no Parlamento Europeu, reuniões estão sendo promovidas para debater o uso da floresta e eventual desmatamento para a produção de cana-de-açúcar.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Morcegos chupam sangue dos Yanomami

Bem, essa é uma notícia vinda do jornal de Boa Vista, Roraima. Parece uma crítica à Funasa, como sempre.

Será que os ambientalistas vão dizer que a população dos morcegos está em desequilíbrio e vêem chupar o sangue dos Yanomami?

E a raiva, como controlá-la?

_______________________________________________

Morcegos vampiros atacam aldeia indígena

Morcego ataca à noite e pode sugar o sangue da ponta dos dedos dos pés

CYNEIDA CORREIA

Onze indígenas da etnia yanomami da região de Auaris foram atacados por morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue) em Roraima. Eles vivem em três aldeias localizadas no meio da floresta amazônica, distante da civilização, e as maiores vítimas são as crianças e os idosos. Os morcegos vampiros mordem principalmente o alto da cabeça e os dedos dos pés de suas vítimas.

Os índios estão sendo atacados principalmente à noite. Como dormem em redes, muitas vezes sequer percebem o ataque e somente quando acordam com os pés ou a cabeça sangrando é que notam.

Os morcegos não mordem veia alguma tampouco sugam o sangue, pelo contrário, fazem uma ferida e depois lambem o sangue usando sua saliva anticoagulante para evitar que o sangue seque e pare de escorrer. O vampiro pode buscar sangue diversas noites na mesma vítima, por isso a pessoa pode ficar anêmica e morrer.

Além da possibilidade de alguns casos se tornarem fatais, os morcegos podem transmitir a doença da raiva (que ataca o sistema nervoso), o que tem preocupado os pesquisadores da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) que trabalham na região.

O biólogo Wilson Uieda veio a Roraima pesquisar os ataques e ministrar palestras aos funcionários da Funasa que devem tratar as vítimas no pólo-base que fica próximo das aldeias.

"Já ocorreram casos parecidos em 1999, 2005 e 2006, mas foram menos ataques do que estão ocorrendo hoje. Já houve registros de ataques a humanos com mortes no Pará e no Maranhão e estamos tentando evitar isso em Roraima, pois a repercussão internacional é muito grande", explicou o pesquisador.

Os morcegos são protegidos pela lei de crimes ambientais 9605/98 (Artigo 29), o que proíbe a matança ou qualquer forma de agressão.

DEFESA - O controle da raiva se dá basicamente com a vacinação periódica. Caso seja detectada a presença de animais suspeitos como morcegos deve-se procurar iluminar o local, colocar telas nos vãos e encontrar e exterminar a colônia onde os animais se reproduzem.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Garimpeiro também é ser humano

Essa matéria fala de um garimpeiro que se acidentou com um tiro de espingarda dentro do território venezuelano, provavelmente em terra yanomami, seus companheiros o trouxeram para o Brasil, dentro da Terra Indígena Yanomami, pediram ajuda da Funasa para sair para Rio Branco, que negou, passando a bola para a Funai, e só com os bombeiros é que o tal garimpeiro foi resgatado.

A família do garimpeiro vai acionar a Funasa por não socorrer um ferido. Será que alguém vai processar o garimpeiro resgatado e seus companheiros por invasão de território indígena?

__________________________________________________________

RESERVA YANOMAMI - Garimpeiro baleado é resgatado

Nonato Souza

José Fernandes foi ferido na perna esquerda

Depois de 15 dias ferido a bala na terra indígena Yanomami, o garimpeiro José Fernandes da Silva, 56, foi resgatado ontem pela equipe de salvamento aéreo do Amazonas, num helicóptero de combate da Força Aérea. Eles desceram na Base Aérea de Boa Vista por volta das 16 horas e em seguida o garimpeiro foi levado de ambulância até o Pronto Socorro Francisco Elesbão, onde foi internado.

José Fernandes foi ferido acidentalmente com um tiro de espingarda na perna esquerda no mês passado dentro de uma região de garimpo na Venezuela. Devido à dificuldade de atendimento no país vizinho, no mesmo dia alguns amigos iniciaram uma caminhada com ele dentro de uma rede por dentro da mata até entrar no Brasil. Na gruta Chico Velho, eles conseguiram contato via radiofonia com pessoas da República da Guiana que por sua vez mantiveram contato com os familiares do garimpeiro aqui em Boa Vista.

A família buscou ajuda na Fundação Nacional do Índio (Funai) e Fundação Nacional de Saúde (Funasa), mas não obteve apoio, segundo Danusa Silva, filha da vítima.

“O resgate do meu pai poderia ter sido feito há uma semana, mas por falta de boa vontade e mais ainda por total desumanidade, a Funasa não autorizou seu resgate, apesar de ter um helicóptero próximo ao local onde ele estava, na região do Surucucus, alegando que trabalha exclusivamente com indígenas e que não teria como justificar a despesa alta”, disse. A família pretende acionar a justiça contra a Funasa por omissão de socorro.

O resgate só foi possível depois que o Corpo de Bombeiros pediu ajuda à equipe de salvamento aéreo da Amazônia. O helicóptero decolou de Boa Vista ontem por volta das 11h. Em pouco tempo o garimpeiro foi retirado de uma clareira aberta na mata.

FUNASA – Em resposta às acusações, o coordenador da Funasa, Ramiro Teixeira, esclareceu que a autarquia federal não se omitiu no caso e afirmou ter tomado conhecimento do episódio no dia 31 de julho através de ofício encaminhado pelo Corpo de Bombeiros e encaminhou ofício à Funai, para que esta tomasse as medidas necessárias, uma vez que é o órgão competente para acompanhar casos ocorridos em território indígena.

“Em nenhum momento a Funasa foi omissa. Trabalhamos dentro do que determina a missão da fundação, que é o atendimento à saúde indígena e de saneamento básico”, disse. “O acompanhamento de um não índio que aparece baleado em terra indígena é de competência do Ministério da Justiça, da Funai e da Polícia Federal”, afirmou.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Índio Yanomami se recusa fazer transplante de fígado

Vejam essa matéria, trágica, sobre um índio Yanomami que se recusou a fazer um transplante de fígado. Tudo por força de sua cultura, que não aceita esse tipo de medicina.

Agora vai voltar para sua aldeia e morrer.

________________________________________________

Índio se recusa a receber transplante de fígado no AM

Agencia Estado

Um homem da etnia Yanomami, que estava internado desde fevereiro com cirrose hepática na Fundação Instituto de Medicina Tropical de Manaus se negou a fazer um transplante de fígado em Fortaleza (CE) marcado para amanhã e está voltando amanhã cedo para a aldeia onde mora, em Santa Isabel do Rio Negro, a 630 quilômetros de Manaus. Segundo a assessoria de comunicação da Fundação Nacional de Saúde no Amazonas (Funasa) não há como obrigar o indígena a fazer a cirurgia e que, se não realizada, ele corre risco de morte.

Ainda segundo a assessoria, foi formalizado um termo de responsabilidade para que um representante da Fundação Nacional do Índio (Funai) e o paciente, conhecido como Zico, assinassem um documento comprometendo-se com as conseqüências da interrupção do tratamento de saúde.
Segundo a assessoria, a família do indígena solicitou o cancelamento da viagem para Fortaleza, onde havia um órgão compatível à espera do paciente, alegando, após serem informados como ocorria um transplante, que as crenças culturais da etnia não aceitam "mudança de órgãos de um corpo para outro".

De acordo com os registros da Casa de Saúde Indígena (Casai), para onde são trazidos do interior do Amazonas indígenas que precisam de tratamento de saúde, Zico veio para Manaus em fevereiro deste ano. Em junho, médicos do Instituto Tropical solicitaram da Secretaria de Estado da Saúde (Susam) o Serviço de Tratamento Fora de Domicílio
(TFD) para o indígena, devido ao estágio avançado da doença. Considerando o alto risco de morte do paciente, a Susam marcou a viagem de Zico ao Ceará para o dia 17 de julho. Segundo a assessoria, o indígena voltará amanhã cedo de avião para Santa Isabel e de lá pega uma voadeira (barco motorizado) até sua aldeia.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Índios divergem sobre papel da ciência

Interessante a discussão realizada na corrente reunião da SBPC entre dois líderes indígenas, um Yanomami e outro Baniwa.

Um é contra abrir o conhecimento de seu povo à ciência, o outro acha que pode haver um bom intercâmbio entre a ciência do branco e a ciência do índio.

Um é David Kopenawa, Yanomami, cujo povo já sofreu muito por causa de doenças trazidas pela sociedade brasileia e pela venezuelana, e vem radicalizando seu pensamento contrário à presença de brancos.

O outro é um jovem Baniwa, cuja organização, a Foirn, do alto rio Negro, tem muito contato com Ongs nacionais, como o ISA, e internacionais, que a financiam.

Fica para cada leitor apreciar as argumentações e tomar posição, se quiser.

_________________________________________________

Caminhos do saber tradicional

Por Thiago Romero, de Belém

Agência FAPESP – Ciência interessa às sociedades indígenas? A pergunta serviu de título para uma mesa-redonda na 59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Belém, em que foram apresentadas opiniões opostas de representantes de etnias da região amazônica.

“O conhecimento indígena não é coletivo e nem público, por isso deve ter regras claras para ser acessado”, defendeu André Fernando Baniwa, diretor da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), que destacou ser a favor do avanço do conhecimento tradicional por meio de parcerias com pesquisadores “brancos”, desde que regras de conduta sejam discutidas antes dos estudos.

“Antigamente, os pesquisadores nos faziam questionamentos e, inocentemente, falávamos o que não devíamos. Então, começamos a analisar os benefícios que as pesquisas poderiam trazer para nossas comunidades e também quais os caminhos possíveis de seus resultados na sociedade, para entender que essa aliança é importante”, disse.

A Foirn, associação civil sem fins lucrativos fundada em 1987, representa cerca de 750 aldeias com mais de 35 mil pessoas, nos municípios de Barcelos, Santa Isabel e São Gabriel da Cachoeira, no noroeste amazônico.

Em parceria com o Instituto Socioambiental, a Foirn elaborou em 2000 uma série de regras de conduta para que os povos do rio Negro pudessem aprender a compartilhar experiências com cientistas, com procedimentos como, por exemplo, a exigência da justificativa, objetivos e procedimentos do estudo.

Segundo Baniwa, tais critérios foram estabelecidos para permitir a repartição dos benefícios das pesquisas de acordo com a Convenção sobre Diversidade Biológica e demais leis que regulamentam os trabalhos e metodologias científicas, além de garantir a publicação de artigos científicos em co-autoria de pesquisadores indígenas e não-indígenas.

“A atividade de pesquisa é importante para nossas comunidades e ajuda a valorizar as tradições culturais, auxiliando na gestão do território e em novas aplicações de saúde. Mas aprendemos a identificar o que é bom para nós e não mais aceitar tudo o que vem de fora das tribos”, afirmou Baniwa.

O pajé Davi Kopenawa Yanomami, da Comissão Pró-Yanomami (CCPY), apresentou um ponto de vista diferente: “Nosso criador é um só e deixou a ciência guardada debaixo da terra. Esse conhecimento, que é sagrado e por isso deve ser respeitado, não pode ser arrancado e nem destruído”.

Ele atribuiu boa parte das doenças que chegaram às aldeias ianomâmi nas últimas décadas aos “homens brancos” que ali estiveram. “Hoje, temos sérios problemas com malária, gripe e tuberculose que provavelmente foram transmitidas por missionários, garimpeiros e militares que freqüentaram nossas terras. Eu, como pajé, não posso mais permitir que isso aconteça”, disse.

“Muitos cientistas destruíram os recursos naturais de nossas terras sem nos pedir permissão. O pensamento do povo ianomâmi é diferente. Não estamos preocupados somente com nossos povos, mas com toda a população brasileira, que também precisa nos ajudar a preservar a Amazônia”, disse.

Os ianomâmis, conhecidos pela relevância em termos de proteção da biodiversidade amazônica, formam uma sociedade de caçadores-agricultores no norte da Amazônia, cujo território cobre aproximadamente 192 mil quilômetros quadrados em ambos os lados da fronteira Brasil-Venezuela. A população total é estimada em cerca de 26 mil indivíduos.

domingo, 24 de junho de 2007

Líder Yanomami não quer mineração em sua terra

Davi Kopenawa, um dos grandes líderes indígenas que surgiu na década de 1980, não quer que o governo passe uma lei de mineração. Teme que a mineração volte com força em sua terra, que sofreu enormemente na década de 1980 quando foi descoberto ouro e um presidente da Funai da época facilitou a entrada desses mineradores.

Os Yanomami sofreram muita na época, mais de 1.500, dizem, morreram de doenças epidêmicas, especialmente malária. Em 1993 os garimpeiros fizeram um ataque a uma aldeia yanomami, chamada Haximu, e mataram 14 pessoas, entre homens, mulheres e crianças. Ainda hoje há diversos garimpos na grande Terra Yanomami.

Quando presidente da Funai, sobrevoei parte da terra yanomami e constatei dois ou três garimpos. Em 2003 e 2005 fizemos duas grandes operações, com Polícia Federal e Ibama juntos, e diversos desses garimpos tiveram suas pistas de pouso explodidas. Mas, em pouco tempo, eles voltam, em geral caminhando por dentro da terra, a muito custo pessoal, para depois refazer as pistas de pouso e receberem mantimentos.

Cada garimpo é financiado por gente da cidade de Boa Vista, em Roraima. A Polícia Federal sabe disso e às vezes planeja prender essas pessoas e abrir inquérito. Por um motivo ou outro, as operações não acontecem. Nesse sentido David Kopenawa tem muita razão em desconfiar da capacidade dos brancos em proteger suas terras.

O triste é que ele termina botando a culpa em Lula, como se o presidente tivesse prometido que nunca apoiaria uma lei de mineração em terra indígena. Vejam essa entrevista do David Kopenawa nesse URL que vem de matéria do jornal Folha de São Paulo

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Carta dos Yanomami contra o projeto de mineração em terras indígenas

Os Yanomami liderados por Davi Kopenawa escreveram uma carta para ser levada ao presidente Lula e lida na primeira reunião do Conselho Nacional de Política Indigenista contra o projeto de mineração em terras indígenas. Os Yanomami têm toda a razão para protestar contra mineração em suas terras porque já sofreram muito por isso. Sua decisão em não aceitar mineradores em suas terras é totalmente legítima e, na verdade, está contemplada no ante-projeto de mineração em terras indígenas. Pelo menos no que eu, como presidente da Funai, trabalhei durante dois anos.

________________________________________________

Auaris, 02 de junho de 2007

Para o Excelentíssimo Senhor Presidente da República Luis Inácio Lula da Silva

Nós professores Yanomami reunidos no VIII Curso de nossa formação que está sendo realizado aqui em Auaris, Terra Indígena Yanomami, recebemos uma notícia que nos deixou muito preocupados. Essa notícia falava sobre a vontade do governo Federal de escrever um projeto de Lei sobre a abertura de todas as terras indígenas para a exploração das mineradoras. Esse projeto de Lei nº 1.610 que o Governo Federal quer enviar para o Congresso Nacional é uma grande ameaça para os povos indígenas de todo Brasil. A mineração vai trazer muitos problemas para as comunidades indígenas, problemas de saúde, ambientais e sociais.

Nós, professores Yanomami, somos contrários ao encaminhamento desse projeto para o Congresso Nacional. Antes desse projeto de lei ser encaminhado, o Governo Federal deve respeitar e consultar nós, povos indígenas.

Se esse projeto for aprovado, trará muitos problemas para todas as Terras Indígenas do Brasil. Quando as empresas chegarem na nossa terra, o que acontecerá? Primeiro haverá desmatamento da floresta, os rios serão poluídos, a caça se tornará escassa. Assim, as doenças como malária, tuberculose, diarréia e pneumonia, aumentarão.

A nossa terra já está homologada e registrada. Nós precisamos da terra para viver, pescar, caçar, fazer roça e construir as nossas casas. Nós já temos a nossa alimentação garantida, o que a natureza oferece para os filhos do patrimônio de Omama, criador do mundo. Nós não pensamos como vocês brancos pensam. Não queremos dinheiro, queremos que o nosso povo viva bem, feliz, com saúde.

Já existem muitos problemas de saúde nas Terras Indígenas. A mineração pode trazer mais problemas. A mineração destrói a floresta. Sem as árvores, a água empoça ajudando os mosquitos aumentarem em quantidade, aumentando a malária. A mineração vai trazer muitas pessoas para trabalharem na nossa floresta. Isso vai trazer mais doenças, a mineração vai estragar o alto da nossa serra e isso vai poluir todos os nossos rios, causando fome.

Com a chegada das empresas mineradoras, haverá muita violência, prostituição e a entrada das bebidas alcoólicas, como já aconteceu no passado na nossa terra. Por isso, quando recebemos essa notícia ficamos muito revoltados. Se as empresas chegarem, todo o povo brasileiro morrerá porque as Terras Indígenas são as únicas que estão preservadas.

Então, hoje nós não queremos sofrer mais quando as crianças começarem a ficar doentes por causa da malária. Nós povo Yanomami já vivemos esta situação nos anos 1980, quando os garimpeiros chegaram dentro da Terra Indígena Yanomami. Então a população foi diminuindo por anos seguidos até conseguirmos nos curar das epidemias. Nós não queremos passar mais dez anos morrendo mais do que nascendo. Por isso, nós todos Yanomami não queremos deixar entrar as empresas mineradoras na nossa terra.

Essa Lei que vossa excelência quer aprovar vai obrigar nós Yanomami àquilo que não queremos: deixar a mineração entrar na nossa terra.

Essa nossa terra é toda sagrada. Será que os brancos não percebem a importância da floresta viva?

Algumas pessoas disseram que o Brasil precisa se desenvolver porque existem muitos pobres. Por isso precisa explorar suas florestas, retirar minérios e abrir estradas. Mas desenvolver o Brasil não é destruir floresta. No passado, as florestas localizadas no litoral do Brasil foram muito exploradas e quase todas destruídas. Mas o Brasil, ele se desenvolveu? Os pobres acabaram no país? Todos são ricos e não têm fome? O Brasil está acabando com suas florestas, mas a pobreza continua.

Por isso nós professores decidimos escrever para o Senhor Presidente para manifestar nossa posição contrária a esse projeto de lei e ao seu encaminhamento ao Congresso Nacional.
 
Share