quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Gringos preocupados com o cerrado

Diversos jornais americanos estão com matérias sobre o cerrado brasileiro. Saiu notícia daqui sobre sua destruição não somente pela soja e outros grãos, mas agora por causa da plantação de cana-de-açúcar.

O governo brasileiro e dos estados dizem que a cana só será plantada em capoeiras, isto é, em terrenos já desmatados, inclusive do cerrado.

Por outro lado, os jornais americanos dizem que o governo brasileiro e os empresários não querem ouvir críticas de outros países, pois consideramos que a questão da Amazônia ou do meio ambiente é nosso problema.

Leiam essa reportagem e decidam sobre o que acham do pensamento americano sobre como nos comportamos em relação ao meio ambiente. Cada vez mais haverá críticas ao Brasil.

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Etanol é nova ameaça ao cerrado

Para ambientalista, desflorestamento no bioma já está mais acelerado do que na Amazônia

Sabrina Valle, The Washington Post, Washington

Onças, araras azuis e tatus gigantes percorrem a paisagem do cerrado brasileiro, um vasto planalto onde as temperaturas variam de um frio cortante a um calor de rachar e arbustos e pastagens se alternam com florestas formando a diversidade de flora mais rica de todas as savanas do mundo. Tudo isso poderá acabar em breve. Nas últimas quatro décadas, mais da metade do cerrado foi transformada pela entrada de criadores de gado e plantadores de soja. E agora há nova demanda engolindo rapidamente a paisagem: a cana-de-açúcar, matéria-prima para o etanol brasileiro.

"O desflorestamento do cerrado está acontecendo numa taxa mais alta do que o da Amazônia", afirma John Buchanan, diretor de Práticas Empresariais da ONG Conservação Internacional. "Se a taxa persistir, toda a vegetação restante no cerrado deixará de existir até 2030."

As raízes da transformação estão na demanda por etanol, recentemente reforçada por uma lei que tramita no Senado americano que obrigaria o uso de 136 bilhões de litros de etanol em 2022, mais de seis vezes a capacidade de produção das 115 refinarias dos EUA.

O presidente George W. Bush, que propôs um aumento similar em seu Discurso sobre o Estado da União, visitou o Brasil em março e negociou um acordo para promover a produção de etanol na América Latina e no Caribe.

Empresas e investidores americanos - incluindo George Soros e gigantes do agribusiness como a Cargill - estão delimitando territórios no Brasil, na expectativa de um crescimento ainda maior na área de biocombustíveis.

"Já existe uma corrida pelo etanol brasileiro, e os anúncios do presidente Bush deram maior credibilidade ao processo", diz Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura brasileiro, que integrou a Comissão Interamericana do Etanol junto com o ex-governador da Flórida, Jeb Bush, em dezembro do ano passado.

PROBLEMA ANTIGO

Segundo o ministro interino do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, é preciso distinguir o histórico de ocupação do cerrado dos recentes desdobramentos do programa de biocombustíveis.
"O problema no cerrado não é recente, é de mais de uma década, com ações de ocupação que realmente preocupam", afirma. "Há consenso, pelos monitoramentos parciais já feitos, de que há de fato um processo acelerado de desmatamento, mas a relação direta com o etanol é absolutamente inapropriada, até mesmo porque as áreas de plantio de cana estão ocupando pastagens."

Segundo Capobianco, o ministério está implantando um acompanhamento detalhado do ritmo de desmatamento do bioma, como já é feito em relação à Amazônia e à mata atlântica, e terá ainda neste ano a primeira comparação pormenorizada, entre a situação de 2006 e de 2002. Além disso, afirma, o governo exigirá certificação socioambiental dos empreendimentos voltados à produção de etanol de cana.

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