O artigo abaixo, publicado no Globo Online desta semana, trata de uma discussão importante sobre a presença de Ongs internacionais no Brasil e o nacionalismo brasileiro, principalmente de um segmento militar, que alega que as Ongs estão aí para marcar posição de seus países diante da Amazônia.
Os defensores absolutos de Ongs consideram tudo isso paranóia de militar atrasado e fazem gozação de tudo isso. Dão entrevistas a jornais americanos e europeus ironizando esse atraso.
Porém, não se precisa ser paranóico para se achar que há muita intervenção dessas Ongs em vários setores da sociedade brasileira. Não creio que elas tramem o desmembramento do território nacional, mas que acham que o Brasil está sendo irresponsável com a Amazônia, isso lá elas pensam. Também acham que se dessem a Amazônia para eles, eles a conservariam muito melhor. Até a desenvolveriam!
Também as Ongs brasileiras que tratam da questão indígena acham que se lhes fossem dadas as condições para tratar da questão indígena eles a tratariam muito bem. Só que essa experiência já foi feita muitas vezes e os resultados são pífios, senão negativos. Basta ver o quanto o CIMI já tentou cuidar de povos indígenas e, a não ser por aqueles que já vivem integrados, como os Xukuru, Truká e Pataxó, os resultados com os demais é desastroso. Haja visto o que fizeram com os Mynky, que hoje sofrem por terem vendido quase toda a madeira de seu território.
E a Igreja Católica tradicionai, isso nem se fala. Haja visto o que fizeram no Itiariti, como os Pareci, Nambiquara e Irantxe, com os Xavante e Bororo de São Marcos e com os Tukano e demais no alto rio Negro.
As Ongs que conseguem permanecer com os povos indígenas só o fazem a custa de muito dinheiro, como o ISA no alto rio Negro e no Posto Indígena Diauarum, e o CTI com os Krahô do Tocantins. Ademais têm que ficar constantemente falando mal da Funai e prometendo ser melhores. Mas quando chegam a dominar a Funai, como estão fazendo agora, abandonam todas as promessas e aproveitam para firmar posição com os índios, obter dados da Funai e angariar vantagens com os demais órgãos da União.
Vale a pena ler o artigo e analisar as questões levantadas. Veja que o artigo está meio ambíguo, sem se definir sobre o que acha das pretensões das Ongs. Porém, mostra a ambição delas em relação à Amazônia
_______________________________________________________
Amazônia: conservação ou colonialismo?
Dependendo do ponto de vista, o apoio financeiro à reserva natural no Rio Negro por parte do World Wildlife Fund pode ser tanto uma tentativa louvável para conservar a floresta amazônica – quanto o ponto de partida de um plano infame por parte de grupos ambientalistas estrangeiros para usurpar o controle do Brasil sobre a maior floresta tropical do mundo e passá-lo para o controle internacional.
Em 2003, depois de assinar um acordo com a WWF e o Banco Mundial, o governo brasileiro criou o programa de Áreas Protegidas da Região Amazônica. Desde então, um grande número de parques nacionais e reservas cobrindo uma área maior do que a de Nova York, Nova Jersey e Connecticut juntos foram incorporados ao programa e receberam uma infusão de novos fundos.
O objetivo do programa é montar um “um sistema central para ancorar a proteção à biodiversidade da Amazônia”, disse Matthew Perl, o coordenador da WWF na Amazônia, em junho, numa visita à área, um arquipélago de 400 ilhas esparsamente povoado ao nordeste de Manaus. “É parte da estratégia ganhar tempo, elevar cada área protegida a certos padrões de administração e captar recursos para o monitoramento e fiscalização”.
Mas esse esforço levantou suspeitas por parte de poderosos grupos políticos e econômicos brasileiros que querem integrar a Amazônia na economia do país através de represas, projetos de mineração, estradas, portos, extração de madeira e exportação agrícola.
“Essa é uma nova forma de colonialismo, uma conspiração aberta em que os interesses econômicos e financeiros agem através de organizações não governamentais”, diz Lorenzo Carrasco, editor e co-autor de “A Máfia Verde”, um polêmico documento antiambientalista de vasta circulação. “É evidente que esses interesses querem bloquear o desenvolvimento do Brasil e da região amazônica com a criação e o controle dessas reservas, que são todas cheias de minerais e de outros valiosos recursos naturais”.
Visões como essa são amplamente sustentadas no Brasil, independentemente de classe social ou regionalismo. Numa pesquisa feita com 2 mil pessoas em 143 cidades feita pelo principal instituto de pesquisa do Brasil, o Ibope, 75% dos entrevistados disseram que as riquezas naturais do Brasil poderiam provocar uma invasão estrangeira, e quase três entre cinco pessoas desconfiavam das atividades de grupos ambientalistas.
Vencer a batalha pela opinião pública no Brasil é crucial para qualquer esforço global de preservação do meio ambiente e, conseqüentemente, para controlar a mudança climática. O Brasil é o quarto maior produtor de gases responsáveis pelo efeito estufa; mais de três quartos dessas emissões vêm do desmatamento, e a maior parte vem da Amazônia.
Mas a noção de que os estrangeiros cobiçam a Amazônia vem há tempos sendo divulgada no Brasil, alimentada em parte pela ansiedade causada pelo tênue controle que o governo central exerce sobre a região. Essa preocupação foi exacerbada nos últimos anos pela Internet, que tornou-se cenário de documentos e declarações fabricados para convencer os brasileiros de que sua soberania está em risco.
Parte do material que circulou foi elaborado por grupos nacionalistas de direita favoráveis à ditadura militar que governou o Brasil de 1964 a 1985. Mas numa situação inusitada em que antigos adversários concordam, as organizações na extrema esquerda – até mesmo no Partido dos Trabalhadores do governo – também adotaram a noção de que existe um plano estrangeiro para tomar a Amazônia, assim como alguns segmentos militares na ativa.
“Tudo indica que as questões indígena e ambientalista são meros pretextos”, disse um relatório de inteligência militar recente, que foi enviado ao New York Times por um brasileiro que recebeu uma cópia e se mostrou preocupado com o ponto de vista expresso. “As principais ONGs são, na realidade, peças no grande quebra-cabeças em que os poderes hegemônicos estão engajados para manter e aumentar sua dominação. Certamente, elas servem de cobertura para esses serviços secretos.”
Na realidade, diz Perl, coordenador da WWF, sua organização espera simplesmente criar um cinturão ao redor da reserva natural através da criação de um grande “Bloco de Conservação do Rio Negro”. Ele disse que a idéia é proteger a reserva ajudando as reservas indígenas existentes, parques estaduais e reservas naturais ao longo das margens do rio para operar mais efetivamente.
Em 2012, disse Perl, sua organização e parceiros esperam colocar uma área maior que a Califórnia dentro do programa. Foi criado um fundo administrado por uma fundação brasileira que espera levantar 390 milhões de dólares e inclui doações do governo alemão entre outros.
Em meados dos anos 90, parte da área ao redor do arquipélago foi de fato declarada um parque estadual. Mas pouco foi feito para efetivar o decreto, e desde então o Ministério de Reforma Agrária do governo federal colocou 700 famílias de agricultores sem-terra no local e a marinha brasileira, soldados e a polícia montaram centros de treinamento na área protegida.
“Existem camadas e camadas de queixas, planos e mais planos, então essa área se tornou uma área de conflito”, diz Thiago Mota Cardoso, que monitora o parque para o Instituto de Pesquisas Ecológicas, um dos parceiros regionais da WWF. “É irônico que esse território pertença ao governo federal, e que ele não faça nada”.
domingo, 5 de agosto de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário