domingo, 5 de agosto de 2007

Entrevista com fazendeira da T.I. Raposa Serra do Sol

O jornal Folha de Boa Vista, de Roraima, dá continuidade ás suas matérias sobre a retomada do território da Terra Indígena Raposa Serra do Sol ao fazer uma entrevista com uma das "donas" de uma dessas fazendas que permanece na terra indígena.

É uma boa entrevista que mostra a posição das famílias dos fazendeiros, como estão pressionados e prontos para desistir. Ainda insistem que têm que receber uma terra equivalente e o valor real de seus investimentos.

Falta alguém dizer-lhes que eles são invasores e que passaram anos ganhando sem nunca pagar imposto ao estado de Roraima.

Essa situação ainda vai rolar por algum tempo. Mas estou contente dos índios terem tomado a dianteira do processo. Espero que o sacrifício seja o mínimo possivel.

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RAPOSA SERRA DO SOL - Índios continuam ocupando fazenda

Os indígenas continuam acampados no local e segundo os donos da fazenda, cada dia a quantidade aumenta
NEURACI SOARES

Os índios ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR) que ocuparam a fazenda União, na região do Baixo Surumu, na terra indígena Raposa Serra do Sol, continuam acampados no local. Segundo o proprietário da fazenda, Raimundo de Jesus Cardoso, conhecido como Curica, o número de índios instalados aumenta todos os dias.

Segundo a filha de Raimundo Curica, Luciana Cardoso, os índios afirmaram que irão fechar a estrada, não permitindo a entrada de não índios na área, assim que ocuparem todas as fazendas da região.

Segundo ela, seu pai quer sair da área, mas não irá aceitar os valores das indenizações que foram estipulados pelo Comitê Gestor. “As avaliações estão completamente fora da realidade. Em uma das fazendas do meu pai temos currais feitos com madeiras de qualidade, cercas de arame liso, além da casa e galpões. Não podemos aceitar os valores impostos, por serem bem abaixo do praticado no mercado”, explicou.

A produtora de arroz Izabel Itikawa, proprietária da fazenda Vizeu, localizada a 20 quilômetros da fazenda União, ocupada pelos índios, disse que os índios estão fazendo a ação de ocupação, confiados na operação que deverá ser realizada pelo Governo Federal.

“Nossa situação é crítica, pois estamos sendo ameaçados todos os dias. Os índios estão armados, ameaçando colocar fogo nas propriedades e ninguém faz nada. Nós não fomos treinados para guerrilha e nem queremos entrar em um confronto desse tipo. Queremos lutar por vias legais, mas os índios estão trabalhando em surdina”, destacou Izabel.

Ela declarou que os arrozeiros não estão agüentando mais a pressão e que estão gastando mais com ações judiciais do que com investimentos que geram renda para muitas famílias no Estado.

Outra alegação de Izabel diz respeito à falta de compromisso do Governo Federal com o Estado de Roraima. Para ela, o presidente Lula tem tratado Roraima com desdenho, cumprindo a lei como é do seu entendimento e não como deveria ser.

“O que o presidente nos diz sobre o que rege a Constituição Federal quando determina que seja resguardada de demarcação uma faixa de 200 quilômetros na área de fronteira do país? Como fica a Constituição e a defesa da soberania do país neste caso, aqui em Roraima?”, questionou Izabel.

A empresária finalizou reafirmando que não sairá de sua propriedade, a não ser morta. “Não queremos luta, mas não sairemos de dentro da nossa casa de graça. Se querem nos transferir daqui que nos instalem em uma área compatível a nossa, com condições para produção e paguem os valores reais das benfeitorias que temos”, enfatizou.

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