Editorial do jornal Diário de Cuiabá levanta o grande problema que aflige a saúde das populações indígenas brasileiras: a mortalidade infantil. E parece que em nenhum lugar é tão ruim quanto entre os Xavante.
Não dá mais para esperar que a Funasa tome uma atitude forte para resolver esse problema. Por enquanto, só dá desculpas.
Se a questão da mortalidade infantil é causada por questões culturais, cabe à Funasa encontrar soluções. Nem falemos da questão do infanticídio, pois, aí, cabe a todos encontrar soluções.
A Funai não é omissa em relação a esse problema. A Funai não tem condições para fazer nada, mas, em muitos casos, são funcionários da Funai que terminam resolvendo os problemas de urgência entre os índios.
Alô, alô, ministro Temporão, dá um tempo na Funasa e se intere do que está se passando! Cuide para que a Funasa tenha um alto sentido de responsabilidade e que não seja palco de influência política!
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Tragédia na aldeia
Da Reportagem
Pesquisas recentes do Ministério da Saúde revelam que, em pelo menos três regiões brasileiras - Norte, Sul e Centro-Oeste -, morrem mais crianças indígenas com menos de cinco anos do que índios adultos com mais de 65. Seria, quando nada, uma reversão da tendência natural, pois é comum, em todas as populações, que a morte ocorra na 3ª Idade.
A recomendação oficial, ao longo dessas pesquisas, é de que se devem tomar providências, pois não demorará muito para que a existência da população indígena no País esteja, definitivamente, sob sério risco.
Esse levantamento oficial, muito provavelmente, não leva em conta a situação de algumas aldeias existentes em Mato Grosso, onde o descaso dos organismos encarregados de promover a necessária assistência conduz esses locais, em ritmo acelerado, a uma verdadeira tragédia.
E o caso mais emblemático dessa situação é o da etnia xavante, no sul de Mato Grosso, retratado em reportagem especial deste Diário, domingo passado. Com efeito, a fome e as doenças de fácil prevenção continuam a matar crianças nas aldeias, mesmo após repercussão nacional e a promessa de ações de emergência por parte do Governo Federal.
Para se ter uma idéia, somente entre janeiro e julho deste ano, 56% das 84 mortes na faixa etária de 0 a 5 anos tiveram como causas a desnutrição (17 mortes), a insuficiência respiratória (18) e a infecção generalizada (13). Ademais, a taxa de mortalidade ficou em 97,5 por mil nascidos vivos. Conclusões: o índice é 15% maior do que o registrado em 2006 (84,1), supera em duas vezes a média dos povos indígenas e equivale ao triplo da taxa nacional. E o total de mortes entre janeiro de 2006 e julho de 2007, sem levar em conta a causa, chama a atenção: de uma população estimada em 13 mil índios, sendo três mil na faixa entre 0 e 5 anos, registraram-se 184 óbitos.
A Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que responde pelo atendimento médico nas 189 aldeias xavantes, sabe da existência dos problemas, porém desconhece as causas. Prefere, como revelou a reportagem, apontar "fatores culturais" para tentar explicar indicadores tão trágicos. Tese, por sinal, contestada por especialistas, que, de seu lado, apontam para aquilo que é um "mal crônico" na Saúde Pública: a falta de profissionais, sobretudo aqueles que, no caso dos índios, sejam capazes de entender diferenças culturais - e aprender com elas.
Há fatores culturais, na mesma proporção em que inexiste ação por parte da Funai, sempre omissa quando se trata da política indígena. O abandono a que os xavantes estão relegados é tão grande, que, só em 2004, por iniciativa do Governo do Estado, a Reserva Sangradouro, no município de Primavera do Leste, passou a contar com um ponto de atendimento médico fixo, com a inauguração de um Posto de Saúde.
É possível, conforme os especialistas, que a taxa real de mortalidade infantil nas aldeias seja ainda mais alta do que a admitida oficialmente. O que remete à suspeita de que a tragédia tem dimensões maiores do que a revelada pela reportagem.
"A tragédia indígena tem dimensões maiores do que se imagina"
terça-feira, 14 de agosto de 2007
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