segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Veja diz que índios matam crianças

A revista semanal VEJA vem hoje com uma matéria pesada. Fala do caso dos índios Suruahá e uns missionários que vivem com eles e alardeiam um caso de uma criança que foi abandonada pelos pais e que os missionários pegaram para adotar e o Ministério Público não permitiu.

Esse assunto é muito complicado, mas merece a nossa atenção. Tem dados e perspectivas que não são colocados pela revista, pois toda a matéria foi feita pelo viés dos missionários.

De todo modo, dizer que a Funai não tem feito nada no caso em que crianças indígenas são abandonadas ou há infanticídio não é verdade. A Funai como instituição sabe desses casos, os condena e procura convencer as pessoas a abandonar tais hábitos, e a Funai como composta por indivíduos sempre interviu para salvaguardar as vidas das crianças.

São inúmeros os exemplos. Temos que tomar consciência deles e de tudo isso e fazer alguma coisa para encontrar uma solução.

Quando era presidente da Funai me encontrei com diversas autoridades eclesiásticas, entre elas Dom Luciano Mendes de Almeida e Dom Eugênio Sales para conversar sobre esse assunto e procurar uma solução. A conversa com Dom Luciano tinha avançado bastante, mas, infelizmente, ele morreu. Minha saída da Funai desmotivou os indigenistas que também estavam preocupados com o assunto e queriam encontrar um caminho.

A Antropologia, embora, pela visão do relativismo cultural, não condene práticas de infanticídio, ela é feita por seres humanos que sabem do valor da vida humana. Assim, o antropólogo tem que ter a sua consciência em harmonia com as coisas da vida. Sua interferência em casos assim é importante para si e também para um povo indígena que pratique esse costume.

Conheço diversos programas indigenistas que têm feito o possível para evitar a prática do infanticídio. O Programa Waimiri-Atroari e Parakanã vem fazendo um esforço prático e humanista para convencer esses povos a mudar esse costume milenar. E está obtendo resultados incríveis. Os Waimiri-Atroari já aceitam a presença de albinos e gêmeos, por exemplo. Os Parakanã, idem. Mas a atenção tem que ser constante, e esse Programa é capaz de manter o contato próximo e mutuamente confiável com esses povos indígenas.

Vamos persistir e buscar trazer uma visão humanista para resolver esse problema.

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