quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Xavante na mídia positiva

Eis uma matéria decente, favorável aos índios e bem escrita, que vem de um jornal eletrônico de Ribeirão Preto.

Trata do lançamento de um vídeo feito sobre a vida Xavante. O líder Suptó Buprewen Wa´iri é a principal figura do vídeo. Vale a pena checar e procurar ver o vídeo

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No Coração da Selva

Régis Martins

ÍNDIOS XAVANTES
Caçadores e sonhadores por natureza, durante muitos anos foram uma das etnias mais temidas em todo o país

Durante sete dias do mês de maio, um ribeirãopretano, munido de uma câmera fotográfica e outra de vídeo, registrou o cotidiano de uma das tribos que há meio século foi considerada uma das mais temidas das selvas nacionais.
Com o cacique Tsuptó Buprewen Wá’iri ao seu lado, o diretor e produtor Giorgi Denner se embrenhou na Serra do Roncador, no Mato Grosso, para conseguir imagens que revelam a luta dos índios xavantes para preservar sua cultura e seu território.
O trabalho resultou no documentário “Xavante, Guardiões da Serra do Roncador” que vai ser exibido amanhã a partir das 19h30 na sede do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) em Ribeirão Preto.
- Fizemos duas versões do documentário. Uma narrada em português e outra em xavante, para ser exibida na aldeia, informa Giorgi.

Hierarquia
Apesar da presença de telefones, motocicletas, antenas parabólicas, caminhonetes e até espingardas, o diretor afirma que a tribo xavante de Eteñiritipá tenta manter-se fiel à cultura de seus ancestrais.
- Poucos falam português e o respeito à hierarquia e aos mais velhos é surpreendente, revela.
Giorgi conta que os xavantes são extremamente tímidos e viviam se esquivando da câmera, principalmente as mulheres.
- Tive o cuidado de pedir autorização para todas as imagens feitas para não aborrecer ninguém, garante.
Apesar de todos os anos de devastação e ocupação do homem branco, o documentarista pode comprovar velhas teorias sobre o povo xavante: a de que são fortes e ainda grandes caçadores.
- Na aldeia, você vê mais as crianças e os velhos. Só fui ver os jovens guerreiros dentro da mata, argumenta.

Choque cultural
Giorgi nunca tinha visitado uma aldeia indígena e diz que o choque cultural foi imediato.
- É uma coisa inexplicável. Lembro que chorei três dias seguidos e mal conhecia dormir. Mas sempre acordava sempre disposto, ressalta.
O diretor estava hospedado a 100 metros da aldeia, num dos postos de atendimento aos índios. Mesmo assim presenciou reuniões com os líderes da aldeia, participou de danças tradicionais e chegou a provar comidas típicas.
- Comi peixe na brasa e até tartaruga assada, afirma.
E registrou cerimônias como a corrida de toras e a “Wai Wa”, ritual de preparação espiritual dos jovens.
- Foram mais de 15 horas de filmagens que acabei editando para 55 minutos, diz.

Ajuda de custo
O diretor e produtor bancou as filmagens e a edição praticamente do próprio bolso, conseguindo ajuda de custo para a viagem ao Mato Grosso de uma empresa particular.
- Agora, estou à procura de apoio para o pagamento de direitos autorais aos índios e produção de DVDs, diz Giorgi, que garante ainda que pretende enviar o documentário para festivais.
Amanhã, além da exibição do filme, vão estar em exposição várias fotos feitas pelo documentarista durante sua estadia na aldeia xavante.
- O que quero mostrar é que o índio é que o verdadeiro ambientalista. Tudo que ele faz está integrado à natureza. É ele que dá o exemplo para o mundo, finaliza.

Palavra de cacique
Xavantes são sonhadores por natureza
E ninguém melhor do que um legítimo xavante, para falar sobre a importância do documentário sobre os guardiões da Serra do Roncador.
O cacique Tsuptó Buprewen, de 42 anos, que está em Ribeirão Preto com o filho Waci Estrela para participar amanhã do lançamento do documentário, é só elogios.
- Ficou muito legal, enfatiza.
Tsuptó passou praticamente toda a infância em Ribeirão, onde aprendeu a cultura do homem branco. Seu português é perfeito.
- Meus “pais de criação” foram a professora Solange e o advogado José Claudio de Seixas que me ensinaram muita coisa, diz.
Apesar do amor a família adotiva, a saudade da aldeia falou mais alto. Aos 14 anos, resolveu voltar para a tribo Eteñiritipá, de onde nunca mais saiu.
- Sempre visito Ribeirão, mas nunca vou abandonar minha aldeia, ressalta.

População

Tsuptó conta que a população de sua tribo, que conta atualmente com 380 habitantes, aumentou consideravelmente nos últimos anos.
- Nós lutamos para preservar a raiz xavante e valorizar nossa identidade. O documentário é uma forma de mostrarmos isso ao homem branco, principalmente aos jovens, argumenta o cacique.
Tsuptó revela que o xavante é um sonhador por natureza. Mas não apenas no sentido romântico do termo. É através do sonho que a tribo planeja seu dia-a-dia.
- Os sonhos nos guiam porque são mensagens que não vêm por acaso. Quando dormimos, recebemos avisos, acredita.
O cacique trouxe o filho de 14 anos para Ribeirão Preto para mostrar ao adolescente os lugares onde passou sua infância. Waci, que nunca havia saído da aldeia, parece não ter gostado muito da vida do homem branco.
- Ele já quer ir embora porque sente muita falta da aldeia, diz o pai.

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