Hoje o dia começa com uma noticia que o Correio Brasiliense chama de triste.
É a história de Aniceto, um dos mais respeitados líderes xavantes, perambulando por Brasília sem nenhum apoio da Funai.
A matéria relata que Aniceto, há poucos dias, estava conversando com o presidente Lula. Agora está dormindo no relento. Quer atenção da Funai e ela não lhe dá.
Todos os servidores da Funai conhecem Aniceto de longos anos. Todos o respeitam, das secretárias aos indigenistas que já trabalharam com os Xavante. Mas Aniceto quer conversar com o presidente e este lhe vira as costas.
Aniceto faz interessantes observações sobre o plano de reestruturação que vem aí. Diz que a Funai vai se distanciar do índio. Não podia ser mais preciso.
Eis um dos dramas da atualidade. O outro é o Plano de Carreira chinfrim que querem empurrar nos funcionários goela abaixo. Outro é o domínio das Ongs sobre a Funai.
Quem vai acordar e resistir?
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Funai alega problemas burocráticos e deixa cacique Aniceto Tsudzavéré, 80 anos, vagando pelas ruas de Brasília em busca de comida e hospedagem. Três semanas atrás, o índio se encontrou com Lula
Paloma Oliveto, da equipe do Correio
Em setembro, Aniceto contava a Lula, no Teatro Nacional, as agruras do povo xavante. Na terça-feira, quase dormiu em uma parada de ônibus
Há três semanas, o cacique Aniceto Tsudzavéré conversava, em Brasília, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há dois dias, perambulava pela Asa Sul, procurando um lugar para dormir. Um dos líderes xavantes mais reconhecidos no Brasil e no mundo, o cacique não conseguiu que a Fundação Nacional do Índio (Funai) fornecesse alimentação e hospedagem para ele. Não fossem R$ 30 doados pelo cineasta Armando Sampaio Lacerda, diretor do filme Juruna, o Espírito da Floresta, ele teria passado a noite no pátio externo da Funai ou em alguma parada de ônibus. Aniceto tem 80 anos.
O cacique chegou à capital às 9h30 de terça-feira para conversar com o presidente da Funai, Márcio Augusto de Meira. Viajou 10 horas de ônibus, desde Barra do Garças (MT), onde mora, na reserva São Marcos. Veio relatar a situação de seu povo que, segundo Aniceto, passa fome e enfrenta problemas de saúde, como desnutrição. Ele mesmo não está bem. Fumante, o cacique pegou pneumonia dupla. Por causa da viagem cansativa, sente dores pelo corpo. Mas não tem dinheiro para comprar remédio.
Aniceto sente-se desrespeitado. "Eu não sou qualquer um", repete. Juntamente com Mário Juruna, morto em 2002, o cacique foi um dos responsáveis pela homologação da reserva. Na década de 1970, percorreu a pé os 633km que separam Barra do Garças de Brasília. Veio conversar com o então presidente, general Emílio Garrastazu Médici. Furou a barreira de seguranças e conseguiu que o ditador militar assinasse o decreto de homologação da área, que tem 188 mil hectares. "Naquela época, os fazendeiros invadiam nossa terra para fazer pasto. Os bois comiam nossa plantação", recorda. Hoje, diz o cacique, não há problemas com produtores rurais. "O problema é a Funai", acusa.
O xavante, que deve ir embora de Brasília hoje, diz que deixa a capital entristecido. "Na terça-feira, passei o dia inteiro nessa Funai, tentando conseguir dinheiro para comer e um lugar para dormir. Meu corpo todo está doendo." Ontem, acompanhado pela reportagem do Correio, Aniceto voltou ao órgão e conseguiu ser recebido.
No Serviço de Atendimento ao índio em Trânsito, a servidora Hilda Araújo Azevedo explicou ao índio que, para receber auxílio da Funai, é necessário que a administração regional solicite o recurso à sede. De acordo com a fundação, o pedido não foi feito. "Eu falei que vinha, sim. É muita falta de respeito. Eu tenho 80 anos, sou reconhecido pelo mundo", lamenta. "Toda vida, a Funai tenta dobrar meu pescoço. Mas não vai conseguir. Não estou lutando por mim. É pelo meu povo."
Desprotegidos
De acordo com Aniceto, com a reestruturação da Funai, os índios ficaram desprotegidos. O órgão contava com 45 administrações regionais e 337 postos indígenas. Com as mudanças, anunciadas neste ano, o número de administrações regionais passou para 12. Foram criadas outras 39, locais, mais 315 postos. Por meio da assessoria de imprensa, a Funai informou que a idéia foi descentralizar as decisões, aproximando mais as administrações dos índios. O xavante não concorda. "Primeiro, nenhum líder foi consultado. Segundo, porque não é descentralização. Isso só afasta mais a Funai dos índios", diz.
Na reserva, onde vivem 4 mil índios, faltam sementes para plantio, de acordo com o cacique. "Só conseguimos plantar milho e feijão. Precisamos plantar abóbora, batata, inhame, melancia. Não é para vender, é para as pessoas comerem. Os índios estão passando fome. Não têm ferramenta para mexer na terra", reclama. Outro problema relatado pelo xavante é que, há cinco meses, os índios deixaram de receber cestas básicas, distribuídas às famílias desde o ano passado. O presidente da Funai prometeu resolver o problema. "Não vai resolver nada", diz, descrente.
Para Aniceto, só o presidente Lula pode mudar a situação. No II Encontro Nacional dos Povos da Floresta, que ocorreu há duas semanas no Teatro Nacional Claudio Santoro, o cacique se aproximou do presidente. "Contei pra ele tudo. Ele disse que não sabia, que essas coisas não chegam nele. E que ia dar um puxão de orelhas no Ministério da Justiça", conta.
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
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