Saiu o livro que resultou de um seminário, ao qual participei como presidente da Funai, sobre línguas tupi. Vale a pena comprá-lo.
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Noticias da FAPESP
Língua da terra
05/07/2007
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Em outubro de 2004, em Brasília, o 1º Encontro Internacional sobre Línguas e Culturas do Povo Tupi reuniu lingüistas e antropólogos de diversos países para ampliar o conhecimento científico sobre os povos indígenas do principal tronco lingüístico do Brasil. O resultado está consolidado no livro Línguas e Culturas Tupí, lançado nesta quarta-feira (4/7).
Organizado por Ana Suelly Câmara Cabral e Aryon Dall’Igna Rodrigues, professores do Instituto de Letras da Universidade de Brasília (UnB), o livro reúne mais de 40 estudos que formam um painel dos últimos avanços no conhecimento sobre os povos indígenas de filiação tupi.
“Tivemos a preocupação de considerar tanto estudos descritivos sobre línguas e culturas como estudos sobre a história e pré-história do tronco tupi”, disse Rodrigues à Agência FAPESP. O lançamento foi realizado no Laboratório de Línguas Indígenas (Lali) do Instituto de Letras da Universidade de Brasília (UnB).
De acordo com Rodrigues, vários dos estudos levantam novos problemas de pesquisa e destacam áreas para serem exploradas em aspectos etnológicos, culturais, antropológicos e sociais.
“A importância da obra é atualizar a situação da pesquisa, permitindo levantar novas hipóteses sobre as dinâmicas dessas línguas. Isso dá à ciência elementos que podem contribuir com a meta comum dos nossos trabalhos: salvaguardar essas culturas”, afirmou.
De acordo com Rodrigues, a extinção de línguas continua ocorrendo de maneira acentuada. “Temos situações dramáticas, como a do povo xetá, que foi exterminado na época da abertura dos cafezais no norte do Paraná. Há um mês, morreu o penúltimo conhecedor da língua. Há muitos idiomas nessa situação”, destacou.
O professor ressaltou a importância de preservação dessas línguas. “A língua é o meio de expressão da cultura. Quando uma delas morre, perde-se a maior parte de suas idéias culturais. É uma maneira de pensar o mundo que se vai.”
Diversidade lingüística
O livro também conta com um artigo da professora Marília Facó Soares, do Museu da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Depois de recebermos todos os manuscritos, encomendamos a uma grande especialista essa leitura crítica, com o objetivo de orientar os leitores e demarcar uma linha de conexão entre os trabalhos”, explicou Rodrigues.
O pesquisador destacou que existem cerca de 180 línguas indígenas ainda em uso no mundo. A América do Sul concentra a maior diversidade linguística do planeta. No Brasil, de acordo com a classificação que considera a origem comum entre os idiomas, existem 30 diferentes troncos lingüísticos, entre os quais o tupi.
A região na qual se espalham os povos de cultura tupi vai da costa brasileira até a Bolívia, em latitudes que vão da Guiana Francesa até a região do Prata, na Argentina. “O tupi é um agregado de dez famílias lingüísticas. É o tronco de maior extensão no Brasil e um dos maiores do continente”, disse Rodrigues.
Antropologia, história, lexicografia, sintaxe, rituais indígenas e sistema de nomes estão entre os temas abordados. A coletânea inclui três trabalhos que traçam visões panorâmicas sobre etnologia tupi, línguas ameaçadas e estado de saúde atual das línguas tupi. Cinco estudos fazem abordagens gerais sobre determinada sociedade, tronco, família ou região lingüística.
Outros seis trabalhos são de antropologia (sobre kamaiurá, zo'é, sateré-mawé, avá-canoeiro, nhandewa e mbyá-guarani), dois em lingüística antropológica (sobre xetá, amondawa) e 20 ensaios abordam aspectos de línguas (ou grupos de línguas) específicas.
A publicação teve o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento, do governo francês.
Uma curiosidade: no nome do livro, tupi ganhou acento. O motivo é que na convenção de 1953 da Associação Brasileira de Antropologia, ficou estabelecido que, independentemente da norma culta do português, as línguas indígenas deveriam ser escritas em seu original.
Pedidos do livro Línguas e Culturas Tupí (468 páginas, R$ 57,50), publicado pela editora Curt Nimuendaju, poderão ser feitos, a partir de 15 de julho, pelo e-mail pedidos@curtnimuendaju.com.
quinta-feira, 5 de julho de 2007
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