quarta-feira, 4 de julho de 2007

Entrevista de antropólogo contrariado, só para recordar

Só para recordar o quanto fomos alvo de críticas gratuitas na nossa presidência da FUNAI, leiam essa entrevista do meu distinto colega antropólogo do Museu Nacional, João Pacheco, totalmente impertinente, sobre a política indigenista no primeiro governo Lula, isto é, sob a minha direção.

Notem o quanto são sem sentido e sem provas as críticas de que a política que implantamos era retrógrada e levaria a grandes explosões do movimento indigenista. Simplesmente porque me considero um herdeiro da corrente brasileira que vem de Rondon e de Darcy Ribeiro, de Noel Nutels e Orlando Villas-Boas, de Chico Meirelles

Afinal, quando aconteceu uma explosão foi a morte de garimpeiros pelos Cintas-Largas, acontecimento que o dito antropólogo não levantou um grunido sequer em defesa dos índios.

O movimento indígena operou à vontade, sem maiores avanços, como continua até hoje.

E dizer que houve avanços na área da saúde por causa do movimento indígena, que, de fato, apoiou a FUNASA, contra a FUNAI, é um descalabro que sentimos todo dia. Não foi só a corrupção que atingiu as associações indígenas, mas seu próprio despreparo para organizar a saúde de seus compatriotas.

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O GOVERNO VAI ENFRENTAR EXPLOSÕES CADA VEZ MAIORES COM ESSE INDIGENÍSMO DOS ANOS 70.


O professor de antropologia do Museu Nacional, João Pacheco, está decepcionado com a política indigenísta do governo Lula. Ele afirma que a Funai age de maneira retrógrada e faz um alerta: se o governo não der rapidamente atenção ao problema, confrontos como de Mato Grosso do Sul e de Roraima serão cada vez mais freqüentes. "O governo vai enfrentar explosões cada vez maiores. Com esse indigenísmo dos anos 70, não vai chegar a lugar algum."
Em entrevista a repórter Letícia Helena do Jornal “O Globo” de 25/01/2004, ele responde:

O movimento indígena já poderia ser considerado um movimento social como o MST?

JOÃO PACHECO: No sentido positivo sim. O movimento indígena está conseguindo reunir os interesses de mais de 200 grupos. Eles já têm líderes destacados, formas de atuação eficientes, formas de pressão e formas de interlocução com os poderes públicos. Enfim, estão extremamente amadurecidos e muito presentes na cena política.

Como os índios chegaram a esse amadurecimento?

PACHECO: O movimento passou por um longo processo de mobilização e luta pela conquista de suas terras. É o caso da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima. Dizem que o estado não progride por causa dos índios, mas o que atrapalha é a incúria administrativa e a corrupção. É importante observar que, neste momento, os índios estão desviando a atenção do escândalo dos gafanhotos.

A política do governo para o setor indigenísta é eficaz?

PACHECO: A política do governo Lula é totalmente à moda antiga e ainda acredita que o governo deve tutelar os índios. A Constituição reconheceu a capacidade civil dos índios, mas essa realidade não chegou à Funai. Hoje, a política indigenísta está muito mais no espírito do Estatuto do Índio da ditadura do que no vento das mudanças pretendidas pelo presidente. O governo pode estar jogando fora uma oportunidade única de fazer mudanças que permitiriam a efetiva modernização do setor.

Além de Roraima e Mato Grosso do Sul, em algum outro estado a situação é tensa?

PACHECO: Há problemas na área dos cinta-larga, em Mato Grosso; dos ianomâmi, em Roraima; dos xucurus, em Pernambuco; e dos trucá, na Bahia.

Os avanços da Constituição de 1988 saíram do papel?

PACHECO: Abriu-se um espaço político para que os índios se organizassem e eles souberam preenchê-lo. Alguns setores enxergaram essa atividade e se associaram a ela, produzindo parcerias bem sucedidas, principalmente nas áreas de saúde, educação e meio ambiente. Mas, infelizmente, de forma geral, o governo ainda adota uma política retrógrada e estatizante.

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