quinta-feira, 21 de junho de 2007

Usina de açúcar mantinha trabalhadores Guarani em condições de escravos

Matéria da Folha de São Paulo analisa as condições degradantes em que trabalhavam mais de 800 índios Guarani numa usina de açúcar e álcool, no sul do Mato Grosso do Sul.

A usina contestou a reportagem, mas foi multada e interditada. Parte dos índios já retornou a suas aldeias.

Grande parte dos índios Guarani do Mato Grosso do Sul trabalha nessas usinas. As condições são ruins e pesadas, mas há uma campanha grande por parte da Justiça do Trabalho para melhorarem essas condições e os salários. A investigação ora reportada é fruto dessa intenção.

Os Guarani, quando saem ao trabalho, se ausentam por períodos longos e deixam suas famílias em dificuldades. É preciso que a Funai encontre um modo de amenizar essas dificuldades. É preciso que as condições de vida dos Guarani melhorem.

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Grupo flagra índios em situação degradante

Em usina de álcool em MS, fiscais do ministério do Trabalho encontram 820 pessoas em condição análoga à escravidão

Empresa afirma que fará "as correções"; usineiro foi um dos responsáveis por um manifesto, em 2006, pela reeleição do presidente Lula


JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA

Uma usina de álcool em Brasilândia (372 km de Campo Grande), em Mato Grosso do Sul, foi flagrada pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel mantendo 820 índios em situação degradante de trabalho.

A usina é uma unidade da Companhia Brasileira de Açúcar e Álcool/Agrisul, que faz parte do grupo J.Pessoa, do usineiro João Pessoa de Queiroz Bisneto. Ele foi um dos responsáveis, em 2006, por um manifesto de empresários pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Após operação do grupo composto por Ministério do Trabalho, Ministério Público do Trabalho e Polícia Federal, no dia 13, a usina foi interditada. O caso foi divulgado ontem.

"Já vi muitas fotos de presídios que tinham condições melhores do que as encontradas lá", disse o procurador do Trabalho e vice-coordenador nacional de combate ao trabalho escravo, Jonas Ratier Moreno. Ele esteve no local e classificou a situação dos trabalhadores de "extremamente degradante".

Entre as irregularidades foi constatado que os alojamentos ocupados pelos índios, das etnias guarani, caiuá e terena, estavam superlotados, sem armários ou locais para guardar roupas e objetos de uso pessoal. Nos alojamentos -onde índios estavam sendo alocados desde o início da safra (março/abril)- foram encontrados lixo espalhado pelo chão, restos de comida e esgoto a céu aberto.

A fiscalização apontou atraso no pagamento de salários e ausência de recolhimento do FGTS. Na área industrial, foi identificado excesso de vazamento nas tubulações, alto nível de ruído e presença de bagaços de cana ao ar livre, o que pode causar doenças respiratórias. Em um ônibus usado para o transporte dos índios, sacos de carvão forravam as poltronas, que não tinham encosto. Além disso, não havia cintos de segurança, lanternas estavam quebradas e a porta amarrada com tiras de câmara de ar.

A partir da próxima semana deve ser iniciado o pagamento das indenizações dos trabalhadores e a empresa será autuada, diz o Ministério do Trabalho.
Segundo a Funai (Fundação Nacional do Índio), parte dos índios retornou a suas aldeias.

Outro lado

A Companhia Brasileira de Açúcar e Álcool/Agrisul informou não ter sido comunicada sobre a interdição, mas disse que interromperá as atividades para fazer as correções. Segundo a empresa, "estão sendo tomadas medidas de correção, inclusive nos alojamentos", e a operação da usina deve ser retomada nesta semana.

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