A propóstio da passagem da tocha olímpica pelo Mato Grosso, o governador Maggi, o prefeito de Campo Novo dos Parecis e índios urbanizados como Marcos Terena, fizeram uma comemoração em que os índios da região são o pano de fundo folclórico.
Dá medo ver o Governador Maggi tirando uma onda de amigo dos índios exatamente onde a expansão de soja é mais intensa.
Dá medo ver índios se promovendo com Blairo Maggi, procurando espaço para jogar sua mensagem de intermediário entre os dois mundos, fazendo o papel do mameluco.
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Palanque e passarela na festa do fogo indígena
Chegada da tocha do Pan a Campo Novo do Parecis marca a colorida cerimônia que abriu Jogos entre tribos
Pedro Motta Gueiros
CAMPO NOVO DO PARECIS, Mato Grosso.
Com políticos usando cocar e índios com câmera digital em punho, o encontro da tocha Pan-Americana com o fogo ancestral fundiu culturas diferentes e fez das margens do Rio Sacre uma aldeia global.
Além de carregar a bandeira brasileira, Tainara Tenera, foi porta-estandarte da saudável mistura. Filha de um índio com uma branca, a estudante de 18 anos é miss da cidade de Aquidauana, mas quer regressar à aldeia para plantar em sua terra o que está aprendendo na faculdade de agronomia.
- A maior beleza do índio está na nossa cultura, mas vejo que está se perdendo, por isso quero voltar para a agricultura - afirma ela.
Um verdadeiro FashionIacute;ndio para mostrar estilo das tribos Com raízes fortes, ela quer ver a sua cultura florescer pelo mundo como sua beleza que já atrai convites para trabalhar como modelo. Ao menos no Mato Grosso, a pele pintada, as penas e palhas estão sempre na moda. Depois das semanas do Rio e São Paulo, ontem a Aldeia Quatro Cachoeiras assistiu a um desfile de nove etnias e muito estilo. Na passarela desta FashionIacute;ndio, todos se vestiram com o melhor figurino para a festa do orgulho e da diversidade. Os Parecis exibiam seus cocares de pena de arara. Os Terenas são mais básicos graças aos tons de cinza e preto da ema. A força do vermelho está com os Xavantes. Com colar de dentes de jacaré e saia de buriti, os homens Umutina estão pintados para a guerra e para a dança do acasalamento.
- Cada pintura tem um significado, por isso são tão diferentes.
O tamanho do cocar e sua riqueza servem para estabelecer uma hierarquia - disse a crítica de estilo indígena, Maíra Elluke. Filha de um dos organizadores da festa, Carlos Terena, ela mora em Brasília, onde estuda jornalismo e pretende fazer especialização em moda. Dizendo-se brasileiramente misturada, já que sua mãe não é índia, ela vestia a camisa da integração. Na verdade, um agasalho verde-amarelo com o número 10 às costas.
Cerca de 400 índios ainda vão estar juntos nos próximos três dias durante os I Jogos Interculturais Indígenas do Mato Grosso, que foram abertos ontem junto com a passagem da tocha Pan-Americana.
No palanque, o governador Blairo Maggi e o prefeito de Campo Novo, Sério Stefanelli, usavam os celulares para tirar fotos. Em meio às delegações indígenas, eram muitas as câmeras digitais. A locução em estilo radiofônico dava o tom de comício.
Ao menos para fazer festa, índios e políticos estão unidos.
No palco, o governador posou com um menino Pareci que leva o seu nome. Com uma pele de onça nas costas, o cacique João Garimpeiro, 89 anos, rezou na própria língua e, depois, pediu em bom português pela demarcação de terras, sob aplausos.
- Nós, mais velhos, lutamos pelo nosso povo, pela terra e pela água limpa - disse.
Mas não há mais pureza nem nas águas cristalinas do Rio Sacre, onde há despejo de agrotóxicos e esgoto.
- Está acesa a chama nova de respeito à terra, á água, aos mais velhos e também às crianças. Que isso seja um símbolo de paz no mundo e de defesa do meio ambiente - discursou Marcos Terena, presidente do Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena.
A imagem da miss Terena representava outra bandeira.
O casamento de seus pais, mal visto na aldeia e na cidade, repetiu a lenda de Ceci e Peri, na qual o índio resgata seu amor proibido e ambos fogem numa canoa. A união do índio João com a vendedora Raquel já tem 20 anos e três filhos.
Na aldeia global de Campo Novo, o equilíbrio ainda parece distante. Depois que a chama passar por lá, o índio volta a viver na sombra, esquecido como a moda da última estação.
quinta-feira, 28 de junho de 2007
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