terça-feira, 26 de junho de 2007

Mineiros traficam diamantes dos Cintas-Largas

A Polícia Federal já sabe de muita coisa sobre o tráfico de diamantes da Terra Indígena Roosevelt.

Essa matéria vinda de O Estado de Minas traz uns detalhes interessantes sobre o tráfico desses diamantes e sobre a prisão de uma mulher que estava com pedrinhas em todas suas partes.

O delegado da PF Mário Sposito, que está na região há pelo menos quatro anos, é que dá os detalhes e sabe de muita coisa.

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Mineiro lidera contrabando

PF aponta empresário de Governador Valadares como um dos maiores atravessadores da venda de pedras de reserva indígena

Maria Clara Prates e Daniel Antunes

O empresário Heleno Cipriano, de 45 anos, morador de Governador Valadares, na Região Leste, é apontado hoje pela Polícia Federal como um dos maiores intermediários da venda ilegal de diamantes, extraídos ilicitamente da Reserva Roosevelt, dos índios Cinta Larga, em Rondônia. De acordo com o delegado Mauro Spósito, coordenador de Operações Especiais de Fronteira (Coesf), ele é um dos cinco atravessadores da gema que ainda atuam naquele território indígena, mantendo viva a rentável atividade. Nos ultimos três anos, os policiais federais identificaram vários mineiros que fazem a intermediação entre os índios e os grandes exportadores da pedra, devido à enorme facilidade de dar fachada legal em Minas Gerais, considerado o maior pólo minerador do país. Na semana passada, foi presa em flagrante a patrulheira rodoviária federal de Betim, Carla Beatriz Maia, com 118 diamantes retirados da reserva.

De acordo com o Spósito, Cipriano é um franco atirador. Não tem vínculo com os grandes e mais tradicionais exportadores de Minas, como o angolano Hassan Amad, da Primeira Gema, em Belo Horizonte, e os irmãos Gilmar e Geraldo Campos, conhecidos como os Reis do Diamante e donos da empresa Giadiamonds, em Patos de Minas. Segundo o delegado, ele segue a cartilha: leva quem paga mais.

Apesar disso, investigações da Polícia Federal, desde agosto de 2005, revelaram que Heleno Cipriano tem ligações comerciais com doleiros de Governador Valadares, identificados durante o escândalo do Banestado. Um deles é Ulisses Alves de Oliveira, dono da Piatã Turismo Ltda, naquela cidade. Segundo a PF, para dar fachada legal ao dinheiro movimentado nas operações de câmbio, o grupo compra diamantes, que servem também para acobertar a corrupção, o contrabando e outros crimes.

Interceptações telefônicas da PF, durante a investigações, flagraram doleiros de Valadares negociando pedras e recebendo instruções sobre como ocultar a origem ilícita das gemas. Na conversa, eles demonstram ainda preocupação com o local de extração de algumas pedras e citam, especificamente, as de Rondônia. Uma das conversas interceptadas pelos federais é do policial civil aposentado Paulo Orlando de Matos, o Paulo Maloca, outro elo comercial de Heleno Cipriano em Governador Valadares. Paulo, há dois anos, oferecia ao doleiro Walber João Mansur um diamante azul por US$ 7 milhões e esclarecia: "É daqui de Minas mesmo a mercadoria. Você está entendendo? Porque o pessoal estava com aquela incidência de pedra lá de Rondônia. Essa é daqui. De perto de Diamantina. Ela saiu de Três Marias".

QUADRILHA

O primeiro indício da atuação do valadarense na reserva indígena veio com a investida da Polícia Federal durante a Operação Roosevelt, em setembro de 2004, que resultou no indiciamento de 38 pessoas por garimpo ilegal. Heleno Cipriano foi acusado de formação de quadrilha, depois de ser identificado como o fornecedor de combustível para os equipamentos de extração dos diamantes. A iniciativa dos federais, no entanto, explica o delegado Mauro Spósito, não assustou o empresário. Pelo contrário, ele mantém suas viagens quinzenais à região e está fincando raízes.

Comprou até um pequeno sítio na região. Para ganhar a confiança dos índios, Cipriano diz ter trânsito livre entre os federais.

De acordo com a PF, o garimpo nas terras dos Cinta Larga exige o uso de equipamentos sofisticados devido à intensa exploração que sofreu e, por isso, apenas os pequenos garimpeiros ainda se arriscam na região, com o uso da velha bateia. Isso fez com que surgisse também a figura do recolhedor, o intermediário que compra pequenas quantidades, a "preço de banana", até formar um lote significativo para ser negociado no mercado internacional. Este era o papel da patrulheira rodoviária Carla Beatriz, que está presa em Pimenta Bueno. Com ela estavam 118 pedras, escondidas em roupas, no cabelo e até mesmo num absorvente íntimo. Outras 40 foram engolidas e estão sendo expelidas.

Depois de se apaixonar por um garimpeiro, o Paraíba, durante uma viagem de trabalho ao estado, Carla Beatriz conheceu detalhes do mercado e recebeu facilidades para atuar. A Polícia Federal informa que ela pediu licença médica do trabalho e se mudou para Rondônia. Também vendia para quem lhe oferecesse mais dinheiro. Quando foi presa, ela estava acompanhada de outro mineiro, André Luiz Oliveira Gusmão. Ele se mudou para Rondônia, mas é natural de Teófilo Otoni, outro centro de intenso comércio de gemas.

Proibição

A regulamentação definitiva sobre a exploração de garimpo em terras indígenas depende de mudanças na Constituição, que proíbe a atividade nessas áreas, nos artigos 231 e 232. A alteração tem que passar pelo Congresso Nacional, onde há 11 anos tramita o Projeto de Lei 1.610/96, do senador Romero Jucá (PMDB), já aprovado pelo Senado e que aguarda apreciação da Câmara. A terra indígena Roosevelt faz parte de um complexo de 2,7 milhões de hectares que engloba outras três unidades: Serra Morena, Aripuanã e o Parque Indígena Aripuanã. Nessa área vivem 1, 4 mil indígenas da etnia Cinta Larga.

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