O site Campo Grande News traz hoje uma matéria que resume a situação desesperada dos índios Guarani do Mato Grosso do Sul. Trata do número elevado de assassinatos entre índios e dos suicídios. Ela é feita com base nos dados do CIMI, contrapostos aos dados da Funasa.
A entrevista com um dos líderes da região demonstra que os Guarani estão lúcidos e buscam soluções dentro do possível da região. A opinião do missionário do CIMI é de que as coisas só melhorarão quando houver a demarcação de novas terras para desafogar a pressão sobre as terras existentes. Com isso, ele prevê décadas para a solução do problema. É a espera da eternidade.
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Homicídios em aldeias já superam números de 2006
Nadyenka Castro
Osvaldo Duarte/ Dourados Informa
Adelino Paulo foi preso no começo de setembro apontado como autor da morte da esposa
Os números da violência nas aldeias de Mato Grosso do Sul somente no primeiro semestre de 2007 já superam os homicídios registrados em todo o ano passado. De acordo com dados da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), somente até julho deste ano 19 indígenas foram assassinados. No ano passado foram 18.
O Cimi (Conselho Missionário Indigenista) contabiliza 32 indíos mortos neste ano e 28 no ano passado. A fonte dos dados é diferente da Funasa, porque o Cimi inclui nos cálculos também a mortes de índios que não ocorreram em uma das 72 aldeias do Estado, mas na área urbana, e se baseia em informações divulgadas pela imprensa.
Para o coordenador do Cimi em Mato Grosso do Sul, Egon Hech, o aumento na criminalidade nas aldeias está relacionado com o confinamento em que vivem os indígenas. Para ele, a violência entre os indígenas vai começar a reduzir quando a questão da terra for solucionada. “A gente sente necessidade urgente de ser fazer reconhecimento e regularização das terras indígenas”.
Segundo a Funasa, há no Estado 60 mil índios aldeados. A maior população vive nas aldeias Jaguapiru e Bororó, em Dourados. São 12 mil índios que vivem em 10 mil hectares de terra. Em Amambai, na fronteira com o Paraguai, também há uma grande população indígena. São cerca de 12 mil indíos que vivem em duas aldeias.
Em Dourados, a média é de 331 índios por quilômetro quadrado. A densidade demográfica da cidade é de 40 habitantes por quilômetro quadrado. Em Campo Grande, são 80 habitantes, de acordo com levantamento da Funasa.
Conforme Hech, a melhor distribuição de terra para os indíos é só o começo para a redução dos casos de violência. “A regularização de terras é só o início. Essa é uma questão que vai levar anos, décadas, gerações para ser resolvida”.
Para ele, é necessária uma ação articulada de vários ministérios. Isso porque, defende, além de regularizar terras, os índios precisam de capacitação e trabalho. E manter os índios ocupados, trabalhando, seria a solução para a violência nas aldeias.
Essa é a opinião do capitão da aldeia Bororó, Luciano Arévalo de Oliveira. “Tem muita gente desocupada, principalmente jovens sem trabalhar. Tem que ter trabalho para todos”. O capitão confirma que a violência na Reserva Indígena de Dourados é elevada e cobra solução urgente.
Ele não acredita que a falta de terra seja problema. “Os antigos que vivem aqui tem terra. Pessoas que vieram de outras aldeias não têm. Elas ficam falando com os caciques para pedirem terra. Pelo menos três, quatro, hectares de terra nós temos”.
Rotina de violência- Crimes envolvendo familiares e amigos em aldeias se tornaram comuns. No final de agosto, Adélia Garcia Garcette foi mutilada a golpes de facão pelo primo Aristides Soares. Ela morreu dias depois, deixando seis filhos. Ele disse que cometeu o crime porque ela dizia que o filho mais novo, que tinha oito dias quando ocorreu o ataque, seria dele.
Em Caarapó, no começo do mês, foi morta Livrada Francisca Souza, atingida a golpes de madeira na cabeça pelo próprio marido, Adelino Paulo, que foi preso. Nos dois crimes, um ingrediente em comum- o consumo de bebidas alcoólicas.
Recentemente, outro homício, de Mário Guimarães Machado, 30 anos, morto a golpes de madeira após discussão com dois rapazes, um deles de apenas 16 anos.
Esperança - O coordenador do Cimi explica que pequenas e isoladas iniciativas têm dado esperança de um futuro melhor para muitos índios. São projetos tocados em algumas escolas indígenas, por iniciativa dos próprios professores. “Existe boa vontade dos próprios indígenas. Não dá para ficar só aguardando o poder público”.
Nesta sexta-feira (21 de setembro) foi lançado em Caarapó a campanha Povo Guarani. Um grande Povo – Movimento pela vida, terra e futuro Guarani -. Hech definiu a campanha como uma “somatória de esforços” para dar mais qualidade de vida aos indígenas.
Suicídio - Nestes primeiros seis meses foram 17 suicídios de índios no Estado, de acordo com a Funasa. O Cimi conta 18. Ano passado foram 40 e até julho 19.
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
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