Para os que não queriam acreditar que os Pataxó eram índios verdadeiros, apesar de se vestirem de "bahianos", eis a prova conclusiva, pela genética.
É claro que, para nós antropólogos, não havia dúvidas de que os Pataxó são índios em sua integralidade. Viveramo como índios mesmo depois do desastre cultural e político que se lhes acometeu no século XIX e também no século XX. Aguentaram toda a onda assimilacionista, adaptaram-se a mudanças, perderam sua língua materna. Mas resistiram. E merecem nosso respeito e apoio.
Curioso é que a matéria diz que eles são próximos dos Kaiapó e Jê-Timbira do cerrado brasileiro. Se compararem com os Maxakali, vão ver que são da mesma família.
___________________________________________________
Eles podem usar roupas iguais às de outros brasileiros pobres e não falar mais a língua de seus ancestrais, mas os genes dos índios pataxós ainda são, em sua maioria, o de uma gente que pisou o chão da América dezenas de milhares de anos antes de Cabral. Essa é a principal conclusão de um estudo feito por geneticistas paulistas e baianos: a tribo pataxó, que ainda habita a região do Nordeste onde ocorreram os primeiros contatos entre europeus e índios brasileiros, continua a ter DNA majoritariamente indígena.
A nova pesquisa foi apresentada durante o 53. Congresso Brasileiro de Genética, que aconteceu nesta semana em Águas de Lindóia (SP). Uma equipe da USP de Ribeirão Preto e da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia analisou cerca de 180 indivíduos da etnia pataxó, distribuídos em seis aldeias da região sul baiana, perto de Porto Seguro. Os pesquisadores estudaram tanto a transmissão de genes pelo lado materno quanto pelo lado paterno dessa população, comparando-a com outros índios brasileiros e com pessoas de origem européia e africana.
Traçar o perfil genético dos pataxós não é só uma questão de curiosidade acadêmica. Aguinaldo Luis Simões, pesquisador da USP que orientou os trabalhos, explica que algumas pessoas chegaram a considerar que os membros da tribo não seriam mais indígenas, por causa dos traços de mistura cultural com a sociedade brasileira. O exemplo mais trágico desse tipo de avaliação é o assassinato do índio Galdino Jesus dos Santos, em 1997. Ele pertencia a um grupo aparentado aos pataxós, os pataxós hãhãhães, e foi morto por adolescentes de Brasília que atearam fogo a seu corpo, achando que se tratasse de um mendigo.
Além disso, "é um grupo cuja história não está bem contada", afirma Simões. Sabe-se apenas que o grupo, junto com outras tribos do sul da Bahia, foi fortemente afetado pelos conflitos entre índios e portugueses nos primeiros séculos da colonização. Em meados do século 19, uma tentativa desastrada de juntar todos os índios da área numa aldeia "unificada", independente da etnia a que pertenciam, acelerou ainda mais o processo de descaracterização cultural que fez os pataxós esquecerem o próprio idioma que falavam originalmente.
Hipótese solapada
Apesar de tudo isso, a tribo conta hoje com cerca de 5.000 representantes em solo baiano. "Eles ficaram contentes ao saber que queríamos estudar a história deles. A nossa hipótese era de que eles seriam caracterizados por um alto grau de mistura interétnica [ou seja, da tribo indígena com outras etnias]", diz Simões.
Para testar a idéia, o grupo, que contava também com Sandra Bispo Souza, da Universidade Estadual do Oeste da Bahia, analisou uma série de "impressões digitais" genéticas. Além de alguns elementos específicos espalhados pelas partes mais comuns do genoma, eles também usaram o DNA mitocondrial. Presente nas mitocôndrias, as geradoras de energia das células, esse tipo de DNA só é passado de mãe para filho ou filha, sendo útil, portanto, para investigar a linhagem materna de alguém.
Para ver o outro lado da equação, os cientistas usaram também o cromossomo Y, a marca genética da masculinidade, que funciona exatamente como contraparte do DNA mitocondrial: só é transmitido de pai para filho homem.
Os resultados revelam um perfil genético não muito diferente de outros tribos do Brasil que estão em contato com os europeus há muito tempo. Em cinco das seis aldeias, cerca de 80% dos pataxós têm DNA tipicamente indígena. Já o DNA autossômico (o genoma "comum", sem ligação específica com os sexos), assim como o cromossomo Y, carregam assinatura indígena em mais de 50% dos indivíduos, mas há uma contribuição expressiva de material genético europeu ou africano.
"Vistos como um todo, os pataxós em sua maioria estão muito mais próximos dos exemplos indígenas do que dos europeus e africanos. Fica claro o altíssimo componente indígena", afirma Simões, para quem os resultados são favoráveis às reivindicações dos pataxós por direitos de nação nativa. O trabalho também pode ajudar a apontar uma origem para os pataxós dentro do território brasileiro: seus parentes mais próximos parecem ser tribos do Brasil Central, como os craôs e os caiapós.
sexta-feira, 7 de setembro de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário