terça-feira, 18 de setembro de 2007

Brutal assassinato de jovem Xakriabá

Todos os jornais trazem hoje reportagens sobre o assassinato brutal de um jovem Xakriabá, do norte de Minas Gerais, por três ou mais jovens.

O assassinato teve características de linchamento, com socos e pauladas. O motivo parece ter sido o mais fútil possível: um esbarrão numa festa e uma vontade de fazer gozação do índio. As ilações que se fazem é que é parte do anti-indigenismo regional, com tensão na região e que tem a ver com disputa por terras.

A terra dos Xakriabá foi demarcada há mais de 10 anos e tem 54.000 hectares. A Funai ainda está pagando moradores pobres que sairam de lá e que não receberam. Porém, segundo o CIMI, os Xakriabá querem mais terras. Dai a desavença.

Todos os jornais relebram o caso do Galdino Pataxó, morto por queimaduras provocadas por jovens de Brasília, em 1997, enquanto dormia no ponto de ônibus perto da Funai

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Jovens são acusados de espancar índio até a morte em MG

Vítima, da etnia xacriabá, teve roupa retirada e levou socos e pontapés de três rapazes; dois deles têm menos de 18 anos
Segundo a polícia, suspeitos disseram em depoimento que, na saída de uma festa, o índio esbarrou em um dos garotos, o que os irritou

THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA

Um índio da etnia xacriabá foi espancado até a morte na madrugada de anteontem, em Miravânia (714 km de Belo Horizonte), em Minas Gerais.

Três jovens dois deles menores são acusados do crime. O maior de idade foi preso; os menores, apreendidos. Eles confessaram o crime, segundo a polícia, mas disseram tê lo feito sem intenção.

O crime ocorreu por volta das 3h30. Avelino Nunes Macedo, 37, voltava para sua aldeia após participar de uma festa na cidade, no distrito de Virgínio.

Uma escola municipal havia montado uma quermesse para arrecadar fundos para a formatura dos alunos da oitava série do ensino fundamental. Os três garotos de 18, 16 e 15 anos haviam saído do local, depois de causar um incêndio em uma das barracas.

Segundo a polícia, eles disseram em depoimento que, no trajeto, o índio esbarrou em um deles sem querer, o que os irritou. Eles decidiram deixá lo nu.

"O ato demonstra que houve preconceito étnico. Fizeram isso porque ele era índio. Queriam despi lo", disse o delegado Airton Alves de Almeida.

Quando retiravam as calças de Macedo à força, ele reagiu. Os três começaram, então, a dar socos e pontapés no índio, de acordo com a polícia.
Um dos jovens deu uma rasteira em Macedo, que caiu de cabeça no chão e permaneceu imóvel. Os três continuaram, diz a polícia, a agredir o índio.

Um vizinho ouviu o barulho e acendeu uma luz de sua casa. Assustados, os rapazes fugiram. Às 7h, o mesmo vizinho acordou e, ao sair para a rua, viu o índio no chão com as calças arriadas, morto. Ele chamou a Polícia Militar. Testemunhas ajudaram a polícia a identificar os suspeitos.

Edson Gonçalves Costa, 18, foi preso e indiciado sob suspeita de homicídio qualificado (motivo fútil). Ele não tem advogado. Os outros dois garotos, um de 15 (de São Paulo) e outro de 16, também estão na Cadeia Pública do município de Manga, vizinho de Miravânia. Eles podem ser internados provisoriamente por 45 dias.

Segundo o delegado, os três têm ensino fundamental incompleto. Os dois menores não estudam nem trabalham. Costa é funcionário de um supermercado. "Eles são de classe média tendo em vista a região, pobre. São de famílias conceituadas."

Há cerca de 8.000 xacriabás em Minas a maioria em São João das Missões. O coordenador regional do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) Wilson Santana afirma que Macedo era uma das lideranças de uma área não demarcada, invadida em maio e reivindicada pelos xacriabás. "Não é um caso isolado. É fruto de um processo que levou a uma imagem deturpada do índio na região. O clima de tensão ainda existe e é a preocupação agora."

Pataxó Galdino

O assassinato ocorre dez anos após o mais emblemático caso de agressão a um índio no país. Em abril de 1997, quatro rapazes de classe média de Brasília (DF) atearam fogo ao índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, que morreu queimado. Em novembro de 2001, um júri popular condenou os quatro rapazes a 14 anos de prisão.

Suspeitos dizem que só queriam fazer brincadeira

DA AGÊNCIA FOLHA

Os três jovens afirmaram, em depoimento à polícia, que não tinham intenção de matar o índio, mas sim de fazer uma brincadeira.

Segundo a Polícia Civil, os garotos confessaram o assassinato, mas disseram que esse não era o objetivo deles. Disseram que tudo começou quando o índio encostou em um deles após a quermesse.

Segundo os garotos, foi um "tranco" não intencional, que não feriu ninguém.

Mesmo assim, os três resolveram fazer uma "brincadeira" com o índio e decidiram tirar a roupa dele. Quando ele reagiu, houve um acesso de raiva, segundo eles, o que provocou as agressões.

Os jovens disseram ainda que saíram da festa bêbados e que, por isso, não tinham plena consciência do ato. O delegado Airton Alves de Almeida negou a embriaguez.

Os três suspeitos, de acordo com a polícia, afirmaram ainda que fugiram porque ficaram assustados.

Nenhum deles havia constituído advogado ontem. Nenhum familiar acompanhou os depoimentos. (TR)

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