quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Editorial a favor dos índios

Editorial do Diário de Cuiabá explicita todo o drama de "Juína em Chamas".

Parabéns pela clareza da exposição e por se solidarizar com os índios Enawene-Nawe.

O jornal se posiciona como consciência crítica do estado do Mato Grosso, cita o caso do Colniza, a cidade mais bangue-bangue do Brasil, que já envergonha o estado e seus habitantes. Esse incidente atual não melhora a imagem de Mato Grosso perante o Brasil e o mundo.

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Lei do mais forte

Não bastasse Colniza, cidade localizada a 1.065 km de Cuiabá, ganhar amplo destaque na mídia nacional, por conta de sua condição de campeã em violência urbana no País - ultimamente, por sinal, é palco de uma operação policial que desarticulou um grupo de extermínio que agia na região -, eis que, agora, Juína (a 735 km) oferece sua contribuição para que Mato Grosso seja notado no cenário nacional da pior forma possível, nos quesitos da Segurança Pública e do Meio Ambiente.

Recentemente, esta cidade do noroeste mato-grossense foi palco de um fato inusitado, porém carregado de nuances que, até prova em contrário, dão a entender que ainda não superou a fase do provincianismo, convive com o atraso e, pior, parece ser regida pelo que se convenciona classificar de "lei do mais forte".

Com efeito, jornalistas franceses e ambientalistas das organizações não-governamentais Greenpeace e Opan (Operação Amazônia Nativa) apontam políticos e produtores rurais como líderes de um movimento que, baseado em ameaças, impediu que o grupo visitasse a área indígena Enawene-Nawe. O incidente em Juína, segundo os pesquisadores, foi articulado por um grupo de fazendeiros, com a participação direta de autoridades locais - entre elas o prefeito Hilton Campos (PR) e vereadores -, assumidamente contrários à ampliação da citada reserva.

O curioso é que o fato gerou um vídeo - por sinal, já postado na Internet -, que, além de denunciar claramente o envolvimento direto de autoridades com interesses privados, coloca o Estado no centro de uma questão, por si só, delicada, que é a demarcação de áreas indígenas. Para os índios, a região está diretamente ligada às suas tradições, como os rituais comunitários de pesca. Para o prefeito, os vereadores e os fazendeiros da região, os interesses parecem ser inconfessáveis. Pior para as Polícias Civil e Militar, apontadas como meras espectadoras desse abuso de poder.

A repercussão desse infeliz episódio certamente não será das melhores para a imagem de Mato Grosso. Mas, parece ser bastante oportuna para que os representantes legais do Estado chamem a atenção da Fundação Nacional do índio, por exemplo, para a necessidade de se dispensar uma atenção toda especial à questão dos enawene-nawes. A mesma Funai, por sinal, que tem sido extremamente omissa em questões dessa natureza.

Em boa hora o Ministério Público Federal decidiu entrar no circuito, ao abrir inquérito e oficializar à Polícia Federal um pedido de investigação das denúncias para que as necessárias providências sejam adotadas. Enquanto isso, o prefeito Campos e os demais envolvidos, obrigatoriamente, têm que dar uma explicação plausível sobre as motivações pessoais que os levaram a se envolver de corpo e alma nesse estranho episódio.

Um incidente, aliás, que, fatalmente, levará os pesquisadores a saírem de Mato Grosso com o conceito de que esta é uma terra sem lei.

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