sábado, 29 de dezembro de 2007

Que os arrozeiros sejam retirados de Raposa Serra do Sol!!!

Terminando o ano, mais notícias sobre a região de Raposa Serra do Sol. Desta vez é a Folha de São Paulo que traz uma matéria sobre a fronteira brasileira com a Venezuela e a Guiana, com os garimpos nesses países sendo tocados por brasileiros, com as preocupações do Exército sobre a pouca densidade demográfica na região, sobre a homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

Tentei entender o que é que junta essas reportagens dispersas. É o caso Raposa Serra do Sol. Não é que a Folha de São Paulo resolveu enfiar sua colher de pau nesse angu para deixar o leitor desavisado de que a região corre perigo se os arrozeiros forem retirados da Terra Indígena Raposa Serra do Sol?!

Paulo César Quartiero, o arrozeiro-mor, é entrevistado favoravelmente. Diz que não sai, que não teme as decisões do STF sobre o reconhecimento da homologação presidencial, e que só quer 4% dessa terra indígena para si e seus colegas arrozeiros. É de uma petulância fora do comum. Não vejo isso em nenhum outro brasileiro. Sente-se imune a tudo, e olha que foi destituído do cargo de prefeito de Pacaraima por corrupção em menos de dois anos de governo.

O Exército quer o povoamento da região. Será que oito fazendas de arroz vão povoar a região? Por que não se preocupa com outras regiões, muito menos povoadas nas fronteiras com a Colômbia, Peru e Bolívia; ou mais a leste, com o Suriname e a Guiana Francesa? Ah, é porque há uma questão entre Venezuela e Guiana, e aí o Brasil ficaria na pior? Ora, na Guiana não há ameaça alguma contra o Brasil, está tomada por um punhado de indianos e até por brasileiros nos garimpos. Aliás, os garimpeiros brasileiros também estão na Venezuela, onde os cuidados ambientais são muito menores.

Assim é que, ao que parece, a bronca geral da região - e parece que da Folha de São Paulo, também - é com os índios Makuxi, com a Igreja Católica e com as Ongs estrangeiras. Da parte dos índios, não há mais broncas com o Exército. Já houve, num tempo em que soldados do Exército se aproveitavam das índias que moravam em aldeias perto dos pelotões. O Pelotão que se encontra em Uiramutã tem bom relacionamento com os índios, faz o patrulhamento que quer, com a aceitação das lideranças indígenas.

Os índios dizem que Lula lhes prometeu retirar os arrozeiros até novembro deste ano. Não o fez. Não sei porquê. Parece que o Exército ficou na dúvida e ele também. Ou talvez tenha sido negociação pelo CPMF. Porém, não há motivos para não retirar os arrozeiros. Eles ultrapassaram todos os limites de tolerância do Estado brasileiro.

Desejo aos Makuxi, Ingarikó, Wapixana, Taurepang e Patamona que tenha um Feliz Ano Novo e que tenha toda sua terra para si!!!!

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Terra indígena é entrave para o Exército

Demarcação da Raposa Serra do Sol (RR) contribui para despovoamento, deixando região vulnerável a invasões, dizem oficiais

Com homologação de forma contínua, arrozeiros devem sair da reserva; segundo um oficial, há expectativa de revisão da demarcação

DO ENVIADO A PACARAIMA (RR)

Para o Exército brasileiro, a demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol, atingindo de forma contínua 1,74 milhão de hectares nas fronteiras com a Venezuela e Guiana, contribuiu para o despovoamento da região do lado brasileiro.

Segundo oficiais ouvidos pela Folha, o crescimento demográfico na fronteira garantiria mais segurança contra eventuais incursões estrangeiras. Roraima é o Estado brasileiro com menor população: 395.725 habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

"O Exército nunca foi favorável à luta dos povos indígenas. Nunca. Todo o tempo, ele foi contra", diz o tuxaua (líder indígena macuxi) Walter de Oliveira, 39.

"O que existe aqui é um interesse nacional do povo brasileiro [contra] um interesse estrangeiro representado por ONGs [organizações não-governamentais], Igreja Católica e setores do governo brasileiro. Eles instrumentalizam meia dúzia de índios que passaram a ser ventríloquos das idéias desse povo", afirma Paulo César Justo Quartiero, 55, presidente da
Associação dos Produtores de Arroz de Roraima.

Quartiero (DEM), ex-prefeito de Pacaraima (RR), e o macuxi Oliveira são adversários no conflito da demarcação da Raposa Serra do Sol. A área foi homologada em abril de 2005 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para abrigar, segundo a Funai (Fundação Nacional do Índio), 14 mil macuxis, wapixanas, ingarikós, taurepangs e patamonas.

A homologação implica a retirada dos produtores de arroz da região. Quartiero tem duas fazendas, que somam 9.200 hectares, dentro da área demarcada como terra indígena.

A Folha apurou que os militares são contra a demarcação de terra de forma contínua, o que levará à retirada de plantadores de arroz, fazendeiros e moradores não-índios da área. A última lista da Funai traz a relação de 40 propriedades que devem ser desocupadas.

Desde novembro, a Polícia Federal prepara uma operação para desocupar a terra, o que envolveria 400 policiais.

Segundo um oficial ouvido pela Folha, há a expectativa de alguma revisão na decisão da demarcação. Para ele, os dados usados para a tomada de decisão são irreais. Oficialmente o Exército não fala sobre o tema.

"Em 1992, quando se falava do reconhecimento da terra indígena, o Exército anunciou em uma nota que na área de fronteira não existia índio. [Dizia que] existiam só pessoas estrangeiras que eram da Guiana e da Venezuela. Por isso, o Exército sempre foi contra, e vai continuar", afirma o índio macuxi Oliveira.

Também dirigente do CIR (Conselho Indígena de Roraima), ele afirma que em setembro recebeu da Presidência da República a promessa de que a área seria desocupada em novembro, o que não ocorreu. Os indígenas dão um ultimato ao governo: até março.

"Vamos reunir 13 mil índios. Se eles morrerem, vão morrer aqui dentro da terra deles. E a responsabilidade vai ser do governo federal de não tomar as providências cabíveis", diz.

Ele faz uma ressalva: "Nós, povos indígenas, nunca vamos contra o Exército. Entendemos que é direito proteger a fronteira, cuidar dos brasileiros sem deixar invadir. Se precisar de nosso apoio, estamos aqui para ajudar e não para atrapalhar".

Contra a demarcação

Quartiero afirma que também pode reunir índios, mas contra a demarcação. "Se tiver que reunir 5.000, eu reúno. Dando comida, carne e refrigerante", afirmou ele.

A crítica principal do presidente da Associação dos Produtores de Arroz de Roraima é a da intervenção de ONGs estrangeiras na demarcação de terras indígenas na Amazônia. "Hoje nós não estamos mais no estágio de internacionalização. Hoje nós teríamos que nacionalizar a Amazônia."

A associação afirma não ter se intimidado com a demarcação da Raposa Serra do Sol e que reverterá o quadro no STF (Supremo Tribunal Federal).

Enquanto isso, investe na região. "Nós estamos aumentando em 20% a produção de arroz, investindo R$ 6,5 milhões. A Raposa Serra do Sol representa 60% da produção de arroz", diz Quartiero.

Segundo ele, os produtores rurais chegaram à região há 31 anos e "não havia indígenas na área". Quartiero diz que a associação reivindica apenas 4% da terra indígena. "É uma migalha, mas eles querem impedir que alguém produza na Amazônia."

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