quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Cientista diz que Bali não vai dar certo

Lembrando que está havendo uma grande reunião de diplomatas, cientistas e ambientalistas na cidade de Bali, Indonésia, trago a matéria abaixo sobre essa reunião.

A fala que chama a atenção da matéria foi dita por um cientista americano, William Pizer, da Universidade de Harvard. Ele considera que não adianta os países se comprometerem com metas ambiciosas, em convênios como o de Kioto, e o que se quer fazer em Bali, porque cada país tem suas próprias agendas.

Pizer sugere uma metodologia mais simples, tão simples que, se alguém a sugeriu antes, ninguém prestou atenção.

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'Bali é uma perda de tempo', diz integrante do IPCC


O economista americano William A. Pizer, da Universidade de Harvard e um dos autores do 4º relatório do Painel Intergovernamental para Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), afirmou em Bali, na Indonésia, que a conferência da ONU "é uma perda de tempo".

Pizer veio a Bali para apresentar as propostas da universidade para futuros acordos sobre mudanças climáticas e disse à BBC Brasil que existem maneiras mais eficientes de combater o problema.

"A questão é: estamos negociando um acordo que vai conseguir a maior ação possível no curto prazo? Para mim, as metas do Protocolo de Kyoto não alimentam as políticas domésticas. Então, é como negociar compromissos de governos para maximizar as reações internas", disse o estudioso.

Para ele, é preciso investir menos tempo de discussões para tentar chegar a um acordo sobre metas numéricas, e mais para garantir o funcionamento de instituições dedicadas à compensação por emissões de carbono (os chamados "offsets") e às que revisam e avaliam os compromissos e ações.

Pizer criticou também a insistência de alguns países para que nações em desenvolvimento também assumam metas de redução de emissões de carbono, o que vem custando tempo de negociações em Bali.

"Por que não descobrimos simplesmente com o que eles aceitam se comprometer agora, e sobre o que eles vão poder ser responsabilizados dentro de alguns anos?", propõe o americano. "Não acho que nada que esteja sendo negociado aqui vá mudar fundamentalmente o que vamos conseguir em vários países nos próximos cinco anos."

Ele defende uma ação mais concentrada entre dez países que mais poluem no mundo, que poderiam manter acordos bilaterais e multilaterais para maximizar o impacto das ações internas.

Para Pizer, o importante é reconhecer que a mudança do clima atualmente "não dita as políticas dos governos", como deveria acontecer, porque é um entre vários assuntos importantes domesticamente.

"Só os governos nacionais podem equilibrar esses assuntos para descobrir o que se pode fazer. Negociar 8% abaixo dos níveis de 1990, 7% abaixo dos níveis de 1990... Não acho que isso seja utilizar bem o tempo."

Pizer defende que os governos assumam compromissos mais gerais, sem a necessidade de protocolos que estipulem metas obrigatórias fixas.

"Vamos simplesmente dizer que cada um vai fazer o melhor que puder - e voltamos a nos encontrar dentro de cinco anos para ver como as nossas políticas domésticas caminharam nessa direção."

Embora discorde sobre metas e estrutura, o especialista americano vê dois grandes méritos no Protocolo de Kyoto: o estabelecimento do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL, o instrumento que possibilita a compra de créditos de carbono por países ricos conquistados por projetos "limpos" em países em desenvolvimento) e do mercado de carbono.

Pizer acredita que ambos devem ficar como legado de Kyoto para serem aplicados e explorados pelas políticas públicas nacionais.

Defensor de uma política "de baixo para cima" e não imposta por esferas superiores, o economista de Harvard diz que a ONU não tem o poder necessário para implementar políticas de clima urgentemente necessárias atualmente.

"Ninguém pode fazer a ONU ter mais poder além dos seus próprios países-membros. Ou seja, os países precisam estar suficientemente comprometidos internamente com a questão para conferir mais poder à entidade", diz Pizer.

Por isso, o estudioso afirma que o problema de falta de autoridade da ONU só poderia ser resolvido se os Estados Unidos fossem convencidos a dar mais soberania à instituição.

"Aí sim, poderíamos ter uma política eficiente implementada de cima para baixo. Mas isso não acontece hoje em dia."

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