sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Índios Tembé ameaçam funcionários da Funai

A Terra Indígena Alto Rio Guamá foi delimitada em meados da década de 1940, uma das primeiras terras demarcadas após a volta de Rondon ao SPI (1939) e a renovação do seu espírito de trabalho. O responsável por essa demarcação foi o inspetor do Pará, à época, Gama Malcher, que depois foi diretor do SPI no auge da sua capacidade operacional (1951-55), quando Darcy Ribeiro e Eduardo Galvão estavam criando o Museu do Índio e o Parque Nacional do Xingu.

Os índios Tembé que lá habitam desde meados do século XIX foram perdendo população durante toda a década de 1950. Um conjunto de aldeias ficou perto do rio Gurupi, e era atendido pelo Posto Indígena Canindé. O outro se localizou na ponta noroeste da terra indígena, perto da cidade de Capitão Poço. No fim da década de 1960, a situação estava muito ruim para o lado dos índios. Muita gente tinha invadido, havia muita mestiçagem e ninguém sabia quem ainda era índio.

Aos poucos os Tembé foram se reencontrando e se agrupando em aldeia e se separando dos invasores. A Funai pôde, então, ajudá-los na organização das aldeias e lhes dar um mínimo de assistência. Entretanto, um certo número de Tembé resolveu se aliar a madeireiros e posseiros. Esse grupo, minoritário que seja, foi quem começou a dominar a situação na área.

A Funai tem tentado retirar os posseiros que invadiram essa terra indígena desde a década de 1960 e com mais violência desde a década de 1980. Muitos foram retirados, recebendo indenização.

Quando era presidente da Funai fizemos três expedições de retirada de madeireiros, com a ajuda da Polícia Federal, do IBAMA e até do Exército. Mas sabíamos que alguns eram protegidos por índios que os avisavam da chegada dos policiais. Reservamos dinheiro para extrusar quase todos os posseiros que lá viviam. Ao fim, faltavam muito poucos, dependendo do Incra encontrar terras para assentá-los.

A situação continua difícil. A matéria abaixo, que está na seção Notícias Online (ver ao lado), retrata o desespero dos funcionários da Funai, especialmente o Francisco Potiguara, em cumprir seu dever de expulsar madeireiros, mas tendo índios do lado dos bandidos. E agora ameaçando funcionários.

É preciso que os índios Tembé que estão do lado dos madeireiros sejam convocados à Funai para uma reunião com o Ministério Público para saberem de seus direitos e dos seus deveres. Ser aliado a bandido não é aceitável.

De todo modo, a questão é sempre difícil. No Maranhão, com os Guajajara, que são do mesmo povo que os Tembé, a questão só foi resolvida com uma grande expedição que ficou permanente na região, depois de retirar na marra muitas tralhas dos madeireiros que lá exploravam a terra indígena sob a conivência de alguns mamelucos. Algo assim terá que ser feito para a Terra Indígena Alto Rio Guamá.

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Funcionários da Funai denunciam ameaças de índios que extraiam madeira ilegalmente

Paula Renata
Da Rádio Nacional da Amazônia

Brasília - Os três funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai) que participaram de uma operação conjunta com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Polícia Federal para coibir a retirada ilegal de madeira da terra indígena do Alto Rio Guamá, no Pará, denunciaram que estão sendo ameaçados por indígenas da tribo Tembé.

Os servidores Francisco Potiguara Tomaz Filho, Paulo Sérgio Brabo e Heleno Couto registraram queixa nesta quinta-feira (28) na Policia Civil no estado do Pará, e também vão registrar queixa na Polícia Federal.

De acordo com o coordenador do Conselho Indigenista Missionário do Pará e Amapá (Cimi), Claudemir Teodoro Monteiro, a operação na reserva do Alto Rio Guamá foi motivada por denúncia da própria comunidade, de que alguns membros da etnia Tembé estariam vendendo madeira ilegalmente

"Os índios se reuniram com a procuradoria [geral do estado do Pará] e pediram que investigassem os cabeças dessas ações da venda de madeira. Nessa investigação constataram a presença de lideranças indígenas, que permitiam a venda de madeira. Uma vez o Estado ausente, os madeireiros tomam conta dos índios", disse.

Claudemir denunciou que 50% da terra indígena já foi destruída e que as áreas desmatadas estão sendo utilizadas pelos madeireiros para plantar maconha.

De acordo com o servidor Francisco Potiguara, os Tembé envolvidos com os madeireiros foram induzidos a prejudicar a operação.

"Uma parte dos índios foi orientada, aliciada pelos madeireiros que estão tendo lucro com o tráfico ilegal [de madeira]. Os índios estão sendo armados pelos madeireiros e foram induzidos a tentar barrar nossa ação Em determinado momento houve um certo confronto, então eles responsabilizaram a nós, funcionários da Funai, por tudo que viesse a acontecer e começaram a fazer uma série de bravatas dizendo que vão pegar a agente levar para a área e matar", afirmou o servidor ameaçado.

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