quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Cintas-Largas e Enawene-Nawe liberam reféns

Os índios Cintas-Largas recuaram na sua pretensão de resolver todos os problemas que os afligem de uma hora para outra. Com isso, liberaram os reféns que prendiam em sua aldeia na TErra Indígena Roosevelt desde sábado (9/12) passado.

As reivindicações que faziam foram, como havia previsto, adiadas para novas reuniões em Brasília.

Os Cintas-Largas querem o fim do patrulhamento de sua terra por policiais federais. Esse patrulhamento vem sendo feito desde 2004 na tentativa de evitar a entrada de garimpeiros aos locais onde há grandes quantidades de diamantes. Os Cintas-Largas dizem que querem o fim do garimpo e da discussão sobre mineração em terras indígenas, no Congresso Nacional. Isto quer dizer, na verdade, que eles querem controlar o garimpo sem intermediação de ninguém. Os Cintas-Largas querem o fim da portaria emiitida pelo ministro Temporão no sentido da saúde indígena ser aplicada pelos municípios (fato que motivou a invasão da sede da Funasa em Manaus pela Coiab). Os Cintas-Largas querem a aplicação de programas de educação e de desenvolvimento econômico em suas aldeias.

Exceto pela última demanda, que só pode ser executada com a parcimônia do orçamento da Funai, ou com verbas do MDS, as demais reivindicações não são passíveis de serem atendidas pela Funai. Os ministérios da Justiça e da Saúde é que vão responder. Assim, vai se formar uma comissão de Cintas-Largas para discutir essas questões em Brasília.

O fato preocupante para a política indigenista brasileira é que a retenção de um comissário da ONU por um grupo indígena e a exigência da presença do presidente da Funai para a sua liberação abriram precedentes para que outros casos aconteçam.

Por sua vez, os Enawenê-Nawê, da região de Sapezal e Juína, no Mato Grosso, também liberaram ontem a estrada que impedia a saída de 300 trabalhadores de três pchs na região. Também eles formarão uma comissão para negociar uma fatia maior dos recursos de compensação ambiental e novos estudos para determinar se pode-se fazer hidrelétricas, por menores que sejam na bacia do rio Juruena.

Por outro lado, há que lembrar que os Enawenê-Nawê vêm reinvindicando o aumento de sua terra para incluir o rio Preto, fato que já causou grande confusão em Juína, em julho, quando um pessoal do Greenpeace lá esteve para filmar essa situação e quase era chacinado pelos fazendeiros locais.

Ver matéria da Folha de São Paulo abaixo. Outras podem ser vistas no nosso Notícias Online, ao lado.

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Após negociar com a Funai, cintas-largas liberam os 5 reféns


KÁTIA BRASIL
da Agência Folha, em Manaus
As cinco pessoas que eram mantidas reféns desde sábado por índios cintas-largas dentro da reserva Roosevelt, em Rondônia, foram liberadas ontem, após negociação com a Funai (Fundação Nacional do Índio).

Por exigência dos índios, o presidente da Funai, Márcio Meira, se deslocou de Cacoal (534 km de Porto Velho) até a reserva. Na volta, às 19h20, levou no helicóptero o espanhol David Martín Castro, oficial do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), o procurador regional da República Reginaldo Pereira da Trindade, e a esposa do procurador, Margarete Geareta da Trindade.

Em bom português e mostrando presentes recebidos dos cintas-largas, como arco e flechas, o oficial da ONU disse ter sido bem tratado pelos índios. "Estou bem. O trato na aldeia foi ótimo, não sofremos violência. Os cintas-largas nos trataram muito bem", afirmou.

Os outros reféns, o administrador da Funai em Ji-Paraná, Vicente Batista, e o motorista Mauro Gonçalves, percorreram de carro os 130 quilômetros entre a reserva e Cacoal.

A Abin (Agência Brasileira de Informação) monitorou as negociações e a liberação dos reféns. A Polícia Federal ficou de fora do processo porque os índios exigiam que policiais federais deixassem as barreiras de acesso à terra indígena.

Os índios fizeram oito reivindicações. Entre elas estão a suspensão dos processos contra 23 cintas-largas acusados do massacre de 29 garimpeiros na reserva em 2004, e a não-liberação do garimpo em terras indígenas.

Meira disse que as reivindicações serão encaminhadas pelo Ministério da Justiça. "Vamos ter uma audiência com o ministro Tasso Genro para darmos soluções a todas as reivindicações, que não se resolvem do dia para a noite."

O grupo mantido refém fora à reserva, no sábado, convidado pelos cintas-largas, para verificar denúncia de constrangimentos a índios em revistas da Polícia Federal.

O representante da ONU Castro, 30, recebeu a denúncia, em Genebra (Suiça), dos índios suruí. Chegou a Brasília na semana passada e recebeu autorização da Funai para entrar na reserva Roosevelt.

A Polícia Federal nega a denúncia. "Temos policiais femininas em todas as barreiras e não há reclamação oficial sobre a revista", disse o delegado Mauro Sposito.

Desde outubro, a PF orienta autoridades a não entrar na reserva dos cintas-largas por causa do risco de prisões e até mesmo de seqüestro. Na ocasião, estava em planejamento uma operação de retirada de garimpeiros da reserva. O Ministério da Justiça informou que a operação de retirada começaria em dezembro, mas foi adiada para janeiro.

A exploração de diamantes é proibida no local. Os índios cobravam ilegalmente "pedágio" dos garimpeiros. Depois começaram a garimpar e controlar a atividade na reserva, o que gerou o conflito de 2004. Ainda há divisões entre os próprios cintas-largas, e há índios que exploram a atividade de forma ilegal.

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