sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Comissão cinta-larga fala e ouve promessas do Ministro da Justiça

A comissão de índios Cintas-Largas foi recebida anteontem e ontem na Funai e no mInistério da Juatiça . Na foto publicada no jornal Agência Brasil, o ministro da Justiça aparece com um olhar duro e extremamente aborrecido, sinal de que não estava gostando da conversa.

As reivindicações dos Cintas_largas são, em sua maioria, iguais a de outros povos indígenas. Só que mais duras e ameaçadoras. Querem mais atenção do Estado brasileiro, especialmente da Funai, uma mudança substantiva no atendimento de saúde, projetos econômicos para que as aldeias produzam excedentes para venda, educação escolar melhor, pagamento de suas contas nas cidades, etc.

Mas querem também coisas difíceis de serem atendidas. Por exemplo, o fim do garimpo, quando, na verdade, são membros do povo cinta-larga que terminam aceitando a pressão dos garimpeiros para entrar no Ribeirão do Laje, onde os diamantes estão quase à flor da terra. Querem o fim das barreiras de proteção e do patrulhamento da Polícia Federal, alegando maus tratos com os índios ao passarem nas barreiras policiais, indo ou vindo às suas aldeias. Não querem uma lei de mineração, tal como está proposto no ante-projeto que o governo em breve enviará ao Congresso, porque temem que perderão controle do seu garimpo e não receberão royalties à altura do que esperam.

O drama dos Cintas-Largas é grande e profundo. É de carências tradicionais dos povos indígenas aumentadas por carências novas adquiridas pelo consumo desenfreado de bens brasileiros. Falta, sobretudo, uma Funai com mais capacidade de diálogo e explicação. Uma Funai que chegue ao seu lado, não um discurso retórico e vazio. Os Cintas-Largas querem fazer o que querem, tudo bem. Mas o seu querer é condicionado pelas opiniões que recebem e estas estão vindo sobretudo dos interesses econômicos ao seu lado.

Sinto saudades de Apoena Meirelles, de Walter Blos, de Rômulo Siqueira conversando com os Cintas-Largas.

Depois desse périplo por Brasília, o que será que vão levar de volta às suas casas? A promessa de que o presidente da Funai irá à sua aldeia para promover um diálogo entre eles e a Polícia Federal, conforme prometeu o ministro da Justiça.

É muito pouco.

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Cintas-largas vão a Tarso relatar abuso

Tribo acusa PF de submetê-la a humilhações e permitir garimpo

Roldão Arruda

Em reunião com o ministro da Justiça, Tarso Genro, representantes dos índios cintas-largas voltaram ontem a acusar a Polícia Federal de cometer abusos no trabalho de vigilância ao redor de suas aldeias, na Terra Indígena Roosevelt, em Rondônia. Os federais chegaram à região em 2004, logo após o massacre de 29 garimpeiros pelos cintas-largas, e sua missão era impedir a mineração de diamantes no território indígena. De lá para cá montaram oito barreiras ao redor da reserva, para controlar a entrada e saída de pessoas, equipamentos de mineração e também das pedras preciosas. Mas, segundo o relato dos índios, o garimpo prossegue, ao mesmo tempo em que as pessoas das aldeias são submetidas a situações humilhantes nas revistas realizadas nas barreiras.

Em reportagem publicada no domingo, o Estado comprovou que o garimpo continua ativo, com a ajuda de escavadeiras, que provocam enormes danos ambientais. Também foi possível verificar que a atividade envolve, lado a lado, índios e garimpeiros não-indígenas.

As reclamações contra os agentes da PF já tinham sido apresentadas ao presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcio Meira, dez dias atrás, quando esteve na Terra Indígena Roosevelt. Ele foi obrigado a ir até lá depois que os cintas-largas seqüestraram um oficial do Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU).

Tarso não pretende pedir a saída dos federais. No encontro, no entanto, determinou ao presidente da Funai que volte à região, em janeiro, e promova reunião entre índios e policiais. O ministro acredita ser possível fazer mudanças nas normas adotadas nas barreiras.

A saúde foi outro tema enfatizado na reunião que reuniu, além de dois cintas-largas, dois líderes suruís, seus vizinhos, e um apurinã. O nível de atendimento piorou muito, segundo os cintas-largas, após a municipalização dos serviços. Tarso prometeu encontrar-se com seu colega do Ministério da Saúde, José Gomes Temporão, e conversar sobre o assunto.

Os índios também reuniram-se com diretores e técnicos da Funai. Eles tinham uma lista com 14 reivindicações. Nenhuma foi atendida de imediato, mas a Funai prometeu encaminhá-las em janeiro.

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