O Cacique Raoni esteve com o Presidente Lula em Belo Horizonte, quando recebeu um prêmio do Ministério da Cultura.
Conseguiu um dedo de prosa com o presidente e entregou-lhe uma carta feita por seus assessores, em reunião na aldeia Piaraçu, com assinaturas de mais de 60 índios de todas as aldeias Kayapó e mais dos Panará e Yudja.
A carta pede ao presidente que não deixe se fazer hidrelétricas no rio Xingu e no Jarina, pois poderão afetar suas terras. É contra a mineração em terras indígenas, "principalmente se for sem permissão dos índios", e pede a concentração de verbas dos ministérios na Funai, com seu fortalecimento e a federalização da saúde e educação indígenas. Quer também a demarcação de Kapôt-Nhinoro, uma terra que vai proteger a margem direita do rio Xingu.
O fortalecimento da Funai, a concentração das verbas de ação indigenista e a federalização da saúde e educação indígenas são idéias que vimos defendendo há quatro anos. É muito bom que os índios estejam defendendo essas idéias com veemência. Acho que se insistirmos e mostrarmos as desvantagens que estão ocorrendo, chegaremos lá.
A construção de hidrelétricas no Brasil dificilmente parará nesse momento. Se eles não atingirem terras indígenas, não afetarem seu modo de vida, não inundarem terras, forem construídas com o mínimo de impacto ambiental, tiverem compensações sociais e econômicas, certamente elas serão feitas.
O Brasil não pode deixar de ter energia hidrelétrica, até que se encontrem outras alternativas. Talvez venha a ser a nuclear, com os perigos a longo prazo, mas com aceitação no mundo europeu e asiático. Só que custa o dobro ou o triplo da energia hidrelétrica.
Acho que a Funai e o governo deveriam abrir um debate sobre a construção de hidrelétricas, legislar compensação e ressarcimentos. Demonstrar aos índios que eles serão parceiros nesses empreendimentos que impactarem, mesmo que indiretamente, suas terras.
Não pode haver um divórcio entre interesses nacionais e interesses indígenas.
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Aldeia Piaraçu, 03 de novembro de 2007.
Ao Presidente da República do Brasil Luís Inácio da Silva –Lula C/c para: Tarso Genro – Ministro da Justiça Márcio Meira – Presidente da Funai
Nós estamos muito preocupados com o futuro dos nossos povos.
Queremos a demarcação do Kapôt Nh?nore nesse ano. Há muito tempo estamos lutando pela demarcação, porque essa terra é sagrada e muito importante para o nosso povo Meb?ngôkre. Todos os anos os pescadores e fazendeiros estão invadindo e destruindo nossos recursos naturais e locais sagrados dentro do Kapôt Nh?nore.
Além disso, sabemos que o seu Governo quer construir seis usinas hidrelétricas no rio Xingu e outras em seus afluentes, como no Tepwatinhõngô, que os brancos chamam de Jarina. Nós não vamos deixar construir essas usinas hidrelétricas que vão destruir nossos territórios, os nossos recursos naturais e a vida dos nossos povos.
Queremos a Funai fortalecida, recebendo e administrando todos os recursos que existem para os povos indígenas que estão espalhados em vários ministérios e órgãos governamentais. Não aceitamos a estadualização e municipalização da saúde e educação indígenas. Cada povo vai decidir como os recursos serão repassados e administrados para o atendimento de suas comunidades.
Não aceitamos a mineração em terras indígenas e principalmente sem autorização da comunidade indígena. Não queremos a entrada de mineradores, garimpeiros, madeireiros, pescadores e qualquer tipo de invasores em nossos territórios.
Queremos que os direitos indígenas conquistados na Constituição de 1988 sejam respeitados.
Presidente Lula, o Governo Brasileiro precisa respeitar e proteger os povos indígenas.
Assinam a carta: 60 lideranças Kayapó, Panará e Yudja.
terça-feira, 13 de novembro de 2007
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