segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Criciúma declara que não quer índios Guarani

De onde menos se espera, daí é que não vem nada mesmo. A matéria abaixo é uma coluna de notícias do jornal de Criciúma, SC.

Gostaria que alguém da Funai me explicasse o quê tem de verdade nessa notícia e nos fatos relatados. O que me impressiona é o jeito disfarçado de preconceito contra os índios por trás do relato. A terra é linda, mas perigosa, por isso não querem que os índios venham para lá. Mas, confessam que o prefeito está preocupado e os moradores ainda mais. É de matar.

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Coluna Hideraldo Luiz Pietsch

Morro Grande - índios invadem terreno em Três Barras

Os índios da tribo Guarani, que estavam situados às margens da BR-101 em Torres (RS) invadiram dia 31, com a ajuda de alguns moradores, um terreno em Três Barras, em Morro Grande. Ao todo são 44 índios: 12 são crianças e três são recém-nascidos. Segundo o cacique Horácio Lopes, o advogado de Porto Alegre (que coincidentemente, segundo ele, é o mesmo advogado do corretor do terreno) autorizou a invasão. Foi uma forma que encontraram de obrigar a Funai a adquirir o terreno para abrigar a tribo, tendo em vista também que são terras que possuem mata nativa e ninguém mais tem interesse em adquiri-las.

A autorização

De acordo com o cacique, os índios foram autorizados pelo seu advogado, que por sua vez, disse que quem autorizou foram os donos do terreno. Segundo ele, os proprietários têm interesse em vender e os índios precisam sair das margens da BR-101 por causa da duplicação. Ainda segundo ele, a Funai tem desde 2002 quase R$ 2 milhões depositados para a aquisição de um terreno para essa tribo. O que mais chama a atenção nisso tudo é que existe muita preocupação entre os interessados em vender sem se importar com os índios. Estão de várias formas tentando agradá-los e iludindo-os de que aquilo é um paraíso para se morar.

O local

O terreno de cerca de 508 hectares onde está situada hoje a tribo indígena fica num local conhecido como Casa Branca. Há muitos anos aquele local já foi bastante habitado, porém, com o passar dos anos, as famílias que lá se encontravam acabaram abandonando suas moradias, haja vista que era praticamente impossível viver lá. Motivo: o local fica no "Costão da Serra" e é cortado por vários rios, sendo que todas as pontes ali construídas e reconstruídas foram destruídas pela força das águas. O perigo de vida é constante, principalmente no verão, com as tempestades. Além disso, os terrenos são impróprios para o cultivo agrícola e o clima é muito variável, principalmente no inverno. No verão é praticamente impossível passar uma noite. A grande quantidade de insetos acaba por tirar o sossego de quem lá queira viver. Quem tiver a oportunidade de visitar o terreno vai ter a impressão que aquilo é o paraíso, afinal, o local é lindo. Porém, existe muita diferença entre um local ser bonito e ter condições de sobrevivência.

A primeira tragédia

No mesmo dia em que a tribo chegou ao local, um pequeno índio de apenas sete anos (cerca de 80 cm de altura), chamado de Daniel Lopes, saiu para brincar e não retornou mais para a tribo. O Corpo de Bombeiros foi acionado, mas as fortes chuvas que encheram rapidamente os diversos rios, dificultaram as buscas. A tribo ficou praticamente ilhada, sendo que o Corpo de Bombeiros teve que levar alimentos para eles. A natureza deu apenas um aviso do que é capaz naquele lugar. Aviso este que os interessados de que os índios se instalem naquele local não falaram a eles. Até o fechamento desta edição, o menino ainda não havia sido encontrado. As hipóteses cogitadas são de que ele tenha sido carregado pelo rio; de que foi atacado por algum leão baio - animal de médio porte muito comum naquela região-; ou de que tenha sido atacado por uma sucuri, animal já visto no local por algumas pessoas.

A prefeitura

Desde o início das conversas sobre a possibilidade dos índios se instalarem em Morro Grande, a Administração Municipal nunca foi consultada ou informada. Por várias vezes o prefeito Ênio Zuchinali foi à imprensa local a fim de esclarecer à população os riscos de vida que os índios iriam correr caso fossem para aquele local, haja vista que o prefeito nasceu em Três Barras e conhece os perigos daquela região. Porém, ao invés de escutarem o prefeito, ameaçaram processá-lo, alegando que ele era contra a ida dos índios para Morro Grande. Ênio sempre foi bem claro em suas colocações na época: "Não sou contra a vinda dos índios para Morro Grande, sou contra a ida dos índios para a Casa Branca em Três Barras, pois o local não tem estrutura alguma para a sobrevivência deles. "Estou disponível a procurar outros locais mais seguros dentro do município". Se tivessem escutado o prefeito, certamente essa tragédia não teria ocorrido. A prefeitura somente ficou sabendo que os índios estavam na Casa Branca na quinta-feira, dia 1º, quando o Corpo de Bombeiros foi acionado para o resgate do menino.

A Funai

A Funai em nenhum momento autorizou a ida dos índios para aquele local. Inclusive, já tinha descartado todas as possibilidades da tribo Guarani se instalar em Morro Grande e um terreno já estava praticamente negociado no Rio Grande do Sul para esses índios. A Funai é o órgão responsável pela proteção dos índios e se ela que vistoriou o local manifestou-se contrária a ida dos índios para lá, como que uma pessoa de Porto Alegre tem a capacidade de iludir os índios de que o local é bom?

Clima pré-campanha

Parece que o clima pré-eleitoreiro já tomou conta da cidade. PP e PMDB estarão brigando novamente pelo comando da prefeitura no ano que vem. Com a saída da vereadora Rosane Zencke Florêncio da Silva, do bloco oposicionista, sobrou o presidente e mais três vereadores na oposição ferrenha ao prefeito Ênio Zuchinali.

Indignação

Falando com a população da comunidade de Três Barras é visível a indignação daquele povo com as atitudes de certas pessoas. Ninguém sabia que os índios estavam indo para lá, apenas as pessoas envolvidas. Infelizmente, os interesses financeiros e políticos foram maiores do que o interesse em realmente ajudar a tribo indígena. As pessoas daquela tribo foram tratadas como gado, que são colocados em terreno visando futuramente adquiri-lo por usucapião. A esperança é de que o menino seja encontrado vivo e que seja apurada a responsabilidade pelos atos até aqui praticados em desfavor da comunidade indígena, que se encontra iludida por certas pessoas da mesma forma que os índios foram iludidos no descobrimento do Brasil.

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