De onde menos se espera, daí é que não vem nada mesmo. A matéria abaixo é uma coluna de notícias do jornal de Criciúma, SC.
Gostaria que alguém da Funai me explicasse o quê tem de verdade nessa notícia e nos fatos relatados. O que me impressiona é o jeito disfarçado de preconceito contra os índios por trás do relato. A terra é linda, mas perigosa, por isso não querem que os índios venham para lá. Mas, confessam que o prefeito está preocupado e os moradores ainda mais. É de matar.
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Coluna Hideraldo Luiz Pietsch
Morro Grande - índios invadem terreno em Três Barras
Os índios da tribo Guarani, que estavam situados às margens da BR-101 em Torres (RS) invadiram dia 31, com a ajuda de alguns moradores, um terreno em Três Barras, em Morro Grande. Ao todo são 44 índios: 12 são crianças e três são recém-nascidos. Segundo o cacique Horácio Lopes, o advogado de Porto Alegre (que coincidentemente, segundo ele, é o mesmo advogado do corretor do terreno) autorizou a invasão. Foi uma forma que encontraram de obrigar a Funai a adquirir o terreno para abrigar a tribo, tendo em vista também que são terras que possuem mata nativa e ninguém mais tem interesse em adquiri-las.
A autorização
De acordo com o cacique, os índios foram autorizados pelo seu advogado, que por sua vez, disse que quem autorizou foram os donos do terreno. Segundo ele, os proprietários têm interesse em vender e os índios precisam sair das margens da BR-101 por causa da duplicação. Ainda segundo ele, a Funai tem desde 2002 quase R$ 2 milhões depositados para a aquisição de um terreno para essa tribo. O que mais chama a atenção nisso tudo é que existe muita preocupação entre os interessados em vender sem se importar com os índios. Estão de várias formas tentando agradá-los e iludindo-os de que aquilo é um paraíso para se morar.
O local
O terreno de cerca de 508 hectares onde está situada hoje a tribo indígena fica num local conhecido como Casa Branca. Há muitos anos aquele local já foi bastante habitado, porém, com o passar dos anos, as famílias que lá se encontravam acabaram abandonando suas moradias, haja vista que era praticamente impossível viver lá. Motivo: o local fica no "Costão da Serra" e é cortado por vários rios, sendo que todas as pontes ali construídas e reconstruídas foram destruídas pela força das águas. O perigo de vida é constante, principalmente no verão, com as tempestades. Além disso, os terrenos são impróprios para o cultivo agrícola e o clima é muito variável, principalmente no inverno. No verão é praticamente impossível passar uma noite. A grande quantidade de insetos acaba por tirar o sossego de quem lá queira viver. Quem tiver a oportunidade de visitar o terreno vai ter a impressão que aquilo é o paraíso, afinal, o local é lindo. Porém, existe muita diferença entre um local ser bonito e ter condições de sobrevivência.
A primeira tragédia
No mesmo dia em que a tribo chegou ao local, um pequeno índio de apenas sete anos (cerca de 80 cm de altura), chamado de Daniel Lopes, saiu para brincar e não retornou mais para a tribo. O Corpo de Bombeiros foi acionado, mas as fortes chuvas que encheram rapidamente os diversos rios, dificultaram as buscas. A tribo ficou praticamente ilhada, sendo que o Corpo de Bombeiros teve que levar alimentos para eles. A natureza deu apenas um aviso do que é capaz naquele lugar. Aviso este que os interessados de que os índios se instalem naquele local não falaram a eles. Até o fechamento desta edição, o menino ainda não havia sido encontrado. As hipóteses cogitadas são de que ele tenha sido carregado pelo rio; de que foi atacado por algum leão baio - animal de médio porte muito comum naquela região-; ou de que tenha sido atacado por uma sucuri, animal já visto no local por algumas pessoas.
A prefeitura
Desde o início das conversas sobre a possibilidade dos índios se instalarem em Morro Grande, a Administração Municipal nunca foi consultada ou informada. Por várias vezes o prefeito Ênio Zuchinali foi à imprensa local a fim de esclarecer à população os riscos de vida que os índios iriam correr caso fossem para aquele local, haja vista que o prefeito nasceu em Três Barras e conhece os perigos daquela região. Porém, ao invés de escutarem o prefeito, ameaçaram processá-lo, alegando que ele era contra a ida dos índios para Morro Grande. Ênio sempre foi bem claro em suas colocações na época: "Não sou contra a vinda dos índios para Morro Grande, sou contra a ida dos índios para a Casa Branca em Três Barras, pois o local não tem estrutura alguma para a sobrevivência deles. "Estou disponível a procurar outros locais mais seguros dentro do município". Se tivessem escutado o prefeito, certamente essa tragédia não teria ocorrido. A prefeitura somente ficou sabendo que os índios estavam na Casa Branca na quinta-feira, dia 1º, quando o Corpo de Bombeiros foi acionado para o resgate do menino.
A Funai
A Funai em nenhum momento autorizou a ida dos índios para aquele local. Inclusive, já tinha descartado todas as possibilidades da tribo Guarani se instalar em Morro Grande e um terreno já estava praticamente negociado no Rio Grande do Sul para esses índios. A Funai é o órgão responsável pela proteção dos índios e se ela que vistoriou o local manifestou-se contrária a ida dos índios para lá, como que uma pessoa de Porto Alegre tem a capacidade de iludir os índios de que o local é bom?
Clima pré-campanha
Parece que o clima pré-eleitoreiro já tomou conta da cidade. PP e PMDB estarão brigando novamente pelo comando da prefeitura no ano que vem. Com a saída da vereadora Rosane Zencke Florêncio da Silva, do bloco oposicionista, sobrou o presidente e mais três vereadores na oposição ferrenha ao prefeito Ênio Zuchinali.
Indignação
Falando com a população da comunidade de Três Barras é visível a indignação daquele povo com as atitudes de certas pessoas. Ninguém sabia que os índios estavam indo para lá, apenas as pessoas envolvidas. Infelizmente, os interesses financeiros e políticos foram maiores do que o interesse em realmente ajudar a tribo indígena. As pessoas daquela tribo foram tratadas como gado, que são colocados em terreno visando futuramente adquiri-lo por usucapião. A esperança é de que o menino seja encontrado vivo e que seja apurada a responsabilidade pelos atos até aqui praticados em desfavor da comunidade indígena, que se encontra iludida por certas pessoas da mesma forma que os índios foram iludidos no descobrimento do Brasil.
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
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