sábado, 3 de novembro de 2007

Guarani do Paraná recebem visita de parentes do Paraguai

O Paraná é o estado brasileiro que menos produz assuntos indígenas. Parece que consideram que a coisa está dominada por lá.

A matéria abaixo é interessante. Surge de uma tese de mestrado de uma antropólogo sobre uma comunidade Guarani da ilha do Cotingo. Mostra como eles vieram do Paraguai e com seus irmãos de lá ainda mantêm relações de amizade e parentesco, além de compartilhar de uma cultura mesma.

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Povos indígenas e integração do Mercosul

O Estado do Paraná

Durante minha pesquisa de mestrado sobre a economia dos Mbya-Guaranis na ilha da Cotinga, desenvolvida recentemente, fiquei convencida de que eles formam uma grande família, independentemente do local em que habitam. Não vêem sentido no modo como a sociedade não-índia divide os territórios em estados, municípios e cidades.

Antes que existissem tais divisões, eles já percorriam livremente de um lugar para outro, com o objetivo de praticar o que lhes é mais caro: visitar os parentes, ato considerado pelos anfitriões verdadeira dádiva.

Depois que os ancestrais dos índios, que moram na ilha da Cotinga chegaram do Paraguai, o encontro com aqueles que lá permaneceram, parentes ou não, ficou mais difícil. Recentemente, por ocasião da comemoração da semana do Paraguai, no Brasil, a secretária de Estado de Cultura, Vera Maria Haj Mussi Augusto, destacou que um dos aspectos bastante interessantes do evento foi a visita dos Guaranis do Paraguai, que, inclusive, trouxeram seu artesanato.

E relata: "Eles manifestaram o desejo de ver o mar. Então surgiu a idéia de conduzi-los até a ilha da Cotinga. E assim foi feito. E se realizou o encontro com os Guaranis que hoje moram no Paraguai com os Guaranis que hoje moram no Paraná. Considero que houve realmente integração. Quando nós falamos em integrar os países do Mercosul verificamos que essa fronteira geográfica foi uma fronteira imposta e que esse povo que hoje mora no Paraguai e esse povo que hoje mora no Paraná foram no passado um só povo, então a raiz da nossa integração está ai".

O cacique Nilo disse-me que "a visita foi muito importante, mas devíamos poder conversar não somente horas, mas o dia inteiro. Temos diferenças porque lá se fala o Guarani do Paraguai, que é um pouco diferente do nosso, mas as meninas falam como nós. Foi possível trocar idéias. De que falamos? Da nossa relação com os não-índios".

Zélia Maria Bonamigo é jornalista, mestre em antropologia pela UFPR, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. zeliabonamigo@uol.com.br

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