Hoje de manhã mais de 300 índios acordaram no prédio da Funai e começaram a rufar seus tambores de alerta. Em seguida chegou a primeira leva de Xavante, um grupo que ainda não tinha estado no movimento, e juntou-se ao grupo na cantoria.
Não há mais saída para a atual direção da Funai. Suas ideias são velhas e reacionárias, burocráticas e anti-indígenas. Sua capacidade manipulação está no limite. Seus aliados estão fugindo qual ratazanas em barco naufragante. Sua saída mais honrosa seria a demissão voluntária, antes que seja defenestrada por Lula, após a conversa com os índios na terça-feira.
O Decreto assinado pelo presidente Lula carece de uma linha lógica, pelo estapafúrdio de extinções de administrações; carece de um sentido político-cultural, pelo amontoamento que pretende fazer de ações indigenistas em regiões de culturas e tradições diferentes e afirmativas de direitos e posições políticas conquistadas com grande esforço nos últimos vinte anos; e carece de uma visão histórica que vislumbre o futuro dos povos indígenas a partir de sua história, de sua ascensão política e de seu relacionamento com a sociedade brasileira.
O Decreto é fruto de uma mentalidade burocrática, vazia de conteúdo histórico-cultural, de uma antropologia pobre, por não entender os processos dialéticos e hiperdialéticos da história, e de um grupo de interessados que tentam impor seu comando sobre os povos indígenas.
Como haveria Lula de aceitar uma coisas dessas? Como não teve ninguém no seu gabinete que atentasse para esses pontos, precisamente no centenário da formulação e criação da política indígena brasileira?
Hoje os índios estarão, quase que literalmente, cavando trincheiras para a defesa de suas ideias e sua visão política. Aos que estão em Brasília virão se agregar nos próximos dois, três dias, mais duas ou três centenas de índios, especialmente do Centro-Oeste, mais perto de Brasília, mas também de outras partes do Brasil.
Neste momento, em Brasília, os índios querem negociar com a Polícia Federal uma prorrogação do prazo de retirada da sede da Funai. Amanhã serão recebidos por Lula, por que saírem antes desse evento?
Esperamos que a PF entenda essa situação. Não poderá endurecer e exigir algo que amanhã poderá ocorrer na maior calma possível.
Os funcionários da Funai começam a se manifestar favoravelmente ao movimento indígena revolucionário. Alguns continuam abúlicos, escondendo-se do movimento, fingindo-se de mortos. Uns poucos estão do lado da cúpula da Funai. Até nas hostes reacionárias das Ongs começa a haver dissensões, alguns deles já dizendo que não estão comprometidos com a cúpula da Funai, que o Decreto precisa ser revisto, etc. Estão dispostos a perder os anéis para não perderem os dedos.
A Ansef, associação dos funcionários da Funai, manifestou em comentário nesse Blog que está a favor do movimento indígena e quer a revisão do Decreto. Discretamente, deixa no ar a saída da cúpula da Funai. O Sindicato dos servidores públicos de Brasília já se pôs à disposição do movimento indígena, com ajuda e o carro de som.
Alguns antropólogos e indigenistas têm pousado com um ar superciliar quanto ao movimento indígena revolucionário. Falam que são interesses fisiológicos que movem os índios. Quanto enganados estão! Quanta falta de visão histórica do mundo!
O que está acontecendo é uma revolução indígena. Pela primeira vez povos indígenas das mais diversas cultuas e procedências geográficas se uniram por si próprios para protestar contra algo que lhes parece extremamente prejudicial. O levante foi espontâneo, fruto de sua consciência crítica, de sua visão histórica do mundo que vivem.
É assim que ocorrem os movimentos revolucionários. No caso dos índios, que sempre tiveram dificuldades de unir interesses díspares, agora estão unindo sua diversidade em prol de um objetivo maior.
Não pensem esses antropólogos e indigenistas sem visão histórica que o movimento parará uma vez obtida a vitória. Saibam que, nesse movimento revolucionário, os índios estão atravessando seu Rubicão, movendo-se para um mundo novo que têm que criar com sua inteligência, com seu potencial e com seus aliados fiéis.
Eis o que acho importante nesse movimento todo. É a transcendência de sua condição de dependentes de Ongs, Funai e Igreja. Agora eles podem se tornar protagonistas de seu destino e quem quiser que se comprometa a ajudá-los.
Porém, a luta está aí, posta dentro das condições possíveis. Uns contra, outros a favor. Uns revolucionários, outros reacionários. A sociedade brasileira até agora nem entende o que está acontecendo.
O passo agora é ficar firme, dialogar com o presidente Lula e planejar o futuro.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
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