quinta-feira, 3 de abril de 2008

Índios do Mato Grosso reagem ao fim da AER de Cuiabá

Os índios começam a reagir aos desmandos da atual administração da Funai. A extinção da Administração Regional da Funai de Cuiabá, uma das mais antigas do país, berço do indigenismo rondoniano, foi realizada a semana passada, sem diálogo com funcionários e indígenas. No seu lugar, ficaria um simples núcleo de apoio. A justificativa por trás desse gesto de conseqüências desastrosas para a situação indígena atual é de que o atendimento direto aos índios deve se dar nos municípios, não nas capitais dos estados. Daí terem feito a extinção da AER Porto Velho e planejar extinguir outras administrações, como São Luís, Maceió, Curitiba, João Pessoa além de AERs tradicionais como Bauru, Altamira e Redenção. Ora, este é o início da municipalização da questão indígena brasileira, algo que rejeitamos com todas as forças possíveis, tanto na parte de assistência e atendimento, quanto na parte de saúde e educação.

Os índios não querem o fim da AER Cuiabá. Sabem que serão prejudicados em sua atuação e nas necessidades sociais e políticas que exercem em Cuiabá. Os servidores da Funai estão estupefatos e apreensivos. A Associação dos Servidores da Funai, em Brasília, lançou nota de solidariedade aos servidores, embora ainda sem o devido vigor, pois não se solidarizou com os índios, nem condenou a atitude da direção da Funai no mérito. É preciso repensar sua atitude sobre essa questão. A cadeia de desmandos é como a queda de peças de dominó.

Notícias vindas de Cuiabá mostram que mais de 400 indígenas estão acampados na frente da AER Cuiabá. Alguns líderes apelaram para deputados estaduais de Mato Grosso, o que não acho uma boa idéia. Daqui a pouco é o Blairo Maggi quem vai ditar quem será o novo administrador de Cuiabá. De qualquer modo, é o que lhes resta pelo momento, com o abandono da direção nacional da Funai.

Por tudo isso, essa Nota à Imprensa é o começo da resistência indígena aos desmandos atuais. Os Pataxó de Porto Seguro lançaram um Manifesto em janeiro contra a demissão de Zeca Pataxó. Outros indígenas foram demitidos em diversas administrações e há ameaças de novas demissões pelo Brasil afora.

A infantaria se move...

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NOTA À IMPRENSA


Nós povos indígenas de Mato Grosso sob a jurisdição da FUNAI-AER/Cuiabá: Bakairi, Bororo, Chiquitano, Guató, Nambiquara, Terena e Umutina, informamos que:

• A ocupação da sede administrativa da FUNAI/Cuiabá desde o dia 31 de Março de 2008, ocorre de maneira pacífica. Nosso objetivo é protestar contra a forma arbitrária que a presidência da Funai, utilizou ao fechar esta administração local, sem conversar com as comunidades indígenas afetadas diretamente e exigir a permanência da administração regional em Cuiabá.

• Entendemos e apoiamos a reivindicação dos povos indígenas da região noroeste por uma administração regional em Juína, devido aos graves conflitos ambientais e territoriais naquela região. Porém NÃO PODEMOS SER PENALIZADOS, pelo mau atendimento e gestão em relação aos povos indígenas do noroeste. Por isso exigimos respeito aos nossos direitos, e a permanência da administração regional em Cuiabá.

• Além de atender as demandas das etnias Bakairi, Bororo, Chiquitano, Umutina, Guató, Nambiquara e Terena, a administração regional da FUNAI em Cuiabá, também dá apoio aos demais povos indígenas de Mato Grosso. Quando estes precisam vir a Cuiabá para resolver assuntos relacionados à saúde, educação, meio ambiente, questões legais e territoriais que envolvem órgãos públicos como a SEDUC, FUNASA, SEMA, IBAMA, MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL e outras instituições governamentais.

• A falta de diálogo entre a sede da Funai em Brasília e as nossas comunidades indígenas, tem provocado desencontro de informações e a nossa indignação. Nesse sentido exigimos a presença imediata do Presidente da Funai Márcio Meira e do Ministro da Justiça Tarso Genro.

Assinam

Umutina – Terena – Nambiquara – Guató – Chiquitano - Bororo – Bakairi

(Pantanal – Cerrado – Amazônia), em 2 de abril de 2008

2 comentários:

Anônimo disse...

estou estupefada com os cometários...todos sabemos que apesar de berço do indigenismo a Adm de Cuiabá era berço da politica do estado com Sr. Ezanoel e seu sobrinho Carlos Márcio a frete. A politica de aprovação das PCHs estava passando totalmente pela AER Cuiabá. E isso com o Sr. presidência e Izanoel na CGPIMA. A negociatas desse senhor são escandalosas!!!!Altamira é outro escandalo e o Sr. sempre soube disso, como também sabia do Zeca (afilhado de Lustosa) que responde por tantas atrocidades contra seu povo. Só não teve coragem de tomar atitudes sérias que mexem com a sensibilidade de alguns servidores patifes. Existem sim vários servidores sérios, mas nem todos. O que está acontecendo com CUiabá é o movimento político de servidores que não se dispõe a perder suas mamatas junto ao Maggi e vão onde? nele mesmo...
Por favor não inverta as coisas, pois o que deveria acontecer é a união dos indígenistas em prol (realmente) dos índios. Pq não se sentam a mesma mesa para pensar de fato uma politica indigenista...Todos falam muito, mas o que fica são disputas politicas pessoais coroadas de vaidade. Apenas isso, e os índios? quem realmente se importa, nem o senhor se preocupou de fato!!!!Qto ao documento de repúdio, acho cômico, pois foi escrito por um servidor do CGPIMA que sempre foi considerado, inclusive pelo Senhor, como um maluco que nunca construiu nada, apenas destroi e critica!!!desculpa pela sinseridade, mas não interessa quem esteja a frente da FUNAI o que falta é compromisso de TODOS...mas TODOS mesmo

Anônimo disse...

Prezada Anônima, tirando fora as aleivosias sobre Izanoel e Carlos Márcio, sobre Zeca Pataxó e sobre não sei que "maluco" do CGPIMA que fez o "documento de repúdio" (eu conheço a Nota de Repúdio, do Museu do Índio), seu comentário pede a união dos indigenistas. Com isso estou de acordo. Você parece conhecer um pouco da Funai, talvez até tenha trabalhado aí. Então deve saber o que está acontecendo por lá, não? Não há justificativa administrativa para se acabar com a AER Cuiabá, e não é só por tradicionalismo.
A Funai está nas mãos das Ongs, que repudiam o indigenismo rondoniano, e essas Ongs estão entragando a Funai nas mãos dos governadores e dos políticos. Veja o que está acontecendo no Congresso Nacional com a quantidade de deputados antiindígenas se aproveitando da fraqueza da Funai para avançar com legislações antiindígenas. No mais e ao final, serão os índios que defenderão a Funai. Mércio

 
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