sexta-feira, 6 de junho de 2008

Dourados e Bauru: dois ganham-e-perdem

Esta semana, uma vez mais, aconteceram problemas de relacionamento entre indígenas e Funai que a mídia divulgou de um modo quase banal.

Os índios Krikati prenderam e mantiveram presos por alguns dias uma equipe de funcionários da Funai e do Incra que estavam fazendo o levantamento final das benfeitorias dos posseiros que ainda estão na Terra Indígena Krikati, homologada quando eu era presidente da Funai. Não sei porquê, os índios prenderam essa equipe e exigiram que fosse mais rápida nos atos de relacionar as benfeitorias dos posseiros e fazer-lhes o pagamento. Parece que os posseiros estavam querendo embromar e até rechaçaram a presença da equipe. Ou talvez quisessem rever os valores previstos. O caso parece que foi resolvido pela promessa da Funai de intensificar o trabalho da equipe e de ter proteção policial para fazer o levantamento. Mas creio que deve ter outras coisas nesse meio.

Outro caso divulgado foi o seqüestro semana passada de funcionários da Funai por parte de índios Terena da Terra Indígena Araribá, que fica perto de Bauru e Avaí. Os índios não queriam a transferência daquela administração para o litoral, mais precisamente, para Itanhaém, para estar mais perto dos índios Guarani do litoral paulista. Bem, um grupo de Terena foi a Brasília e de lá voltou com a certeza de que sua administração vai ser de fato transferida e que lá vai ficar tão-somente um Núcleo de Apoio. (Engraçado que a nova administração da Funai dizia que núcleos de apoio eram irregulares, que a CGU recomendara sua extinção, que eles estavam extinguindo alguns, mas agora criam um novo!). O pessoal que se deslocou para Brasília terminou conformado achando que um índio Terena é que vai dirigir a nova administração em Itanhaém.

Um terceiro caso aconteceu com um grupo de índios Terena da administração de Dourados, Mato Grosso do Sul. Há meses eles vêm querendo a saída da atual administradora. Ela conseguiu o apoio da maioria dos índios Guarani Kaiowá da região, mas os contrários persistiram. Foram a Brasília, falaram com deputados e terminaram tendo uma reunião com a presidência da Funai. Saíram com a idéia de que um índio Terena vai comandar a administração de Dourados, e que a administradora atual vai ser coadjuvante. Isto não vai dar certo!

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Cacique diz que índio assume Funai na segunda-feira

Dourados Agora

Indígenas de Dourados, que estão em Brasília há 10 dias, afirmaram na tarde desta quinta-feira, que na próxima segunda-feira um índio deve assumir o comando da Funai. De acordo com o cacique, capitão Renato de Souza a decisão foi tomada nesta manhã, durante reunião com o presidente da fundação em Brasília, Marcio Meira.
Renato, que ainda está em viajem, juntamente com uma comitiva de 27 lideranças de aldeias da região da Grande Dourados, disse que está trazendo em mãos um documento que autoriza a posse do indígena a frente da Funai. Sem revelar nomes, Souza afirmou que nos próximos 30 dias, a atual presidente, Margarida Nicolletti deverá dividir espaço com o representante escolhido pelas tribos de Dourados.

Para Renato, com a mudança, garantida pelo presidente, a vida qualidade de vida do índio melhora. "Só um indio sabe de fato o que um patrício necessita", acrescenta, observando que foram entregues dossiês em Brasília que comprovam irregularidades administrativas na Funai de Dourados e que serão investigadas em auditorias.

O indígena acredita que desta vez, o problema tenha sido resolvido. "Temos a certeza que vamos recuperar o maquinário que nos foi tirado e a partir daí trabalhar com o plantio, que já se tornou impossível em Dourados", conta, observando que não foi fácil conseguir a decisão do presidente. "Não queriam nem nos receber. Pedimos ajuda a índios do litoral, que também estavam reivindicando melhorias na Funai e conseguimos uma reunião depois de mais de uma semana de espera. Valeu a pena", comemora.

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