Ava Marandu: Espetáculo reúne hip hop guarani e Milton Nascimento
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Jacqueline Lopes para Midiamax, Campo Grande |
“Minha expectativa é muito boa, porque eu tenho uma parceria de muitos anos com a Aliança dos Povos da Floresta, e esse convite dos Guarani para participar deste ato em Campo Grande me deu muita alegria. Inclusive eu estou até me sentindo mais importante”. [Milton Nascimento sobre o projeto Ava Marandu [Os guarani convidam]
Campo Grande ganhou ares de Festival da América do Sul no sábado (15), quando o projeto Ava Marandu [Os Guarani Convidam] conseguiu colocar em um único palco, na Praça do Rádio, gratuitamente artistas renomados e jovens talentos como o Brô Mc´s, guaranis da aldeia Jaguapiru, de Dourados.
O grupo parou o público de pelo menos duas mil pessoas. O som de protesto, com letras politizadas soou como uma oração em defesa dos povos indígenas, contra o suicídio, o preconceito.
Mas, o arremate em meio aos cinco meninos veio da voz de uma jovem índia que no ritmo do hip hop emanou trecho da música de Milton Nascimento: “Eu sou da América do Sul, eu sei, vocês não vão saber. Mas agora sou cowboy, sou do ouro, eu sou vocês. Sou do mundo, sou Minas Gerais. Por que vocês não sabem do lixo ocidental? Não precisam mais temer, não precisam da solidão. Todo dia é dia de viver”.
O público aplaudiu os jovens guarani que cantaram ‘Para Lennon E Mccartney’ e depois de fazerem o hip hop em português e guarani deixaram o palco e anunciaram que os CD´s estariam à venda por R$ 5,00.
Por volta das 23 horas Milton Nascimento subiu ao palco. Com ar misterioso, tranqüilo, arrancou aplausos e toda a atenção do público que cantou com ele músicas como Amor de Índio, ‘Encontros e despedidas’e ‘Coração de Estudante’. Antes dele pisar ao palco, o apresentador guarani, leu trecho do seu currículo e frisou a importância do artista na luta em defesa dos povos nativos brasileiros. Milton Nascimento foi batizado pelos indígenas durante o espetáculo.
Brasil paraguaio
‘Sonhos guarani’ antecedeu espetáculo dos jovens do hip hop Bro Mc´s. Com Dino Rocha na sanfona, acompanhado pelo som da harpa e violão, Mercedita, Índia e outros símbolos da música fronteiriça deixaram a marca do Mato Grosso do Sul brasileiro e paraguaio.
Tostão e Guarani levantou o público com ‘Saudade da Minha Terra’.
O poeta Emanuel Marinho emocionou ao falar sobre uma índia velha e seus sonhos. As influências culturais e a mensagem em defesa dos povos indígenas foram sintetizada na apresentação em conjunta quando todos os artistas com o chacoalho guarani [objeto usado nas rezas] cantaram Kikiô. Miska, Paulinho Simões, Maria Alice, Geraldo e Alzira Espindôla, Melissa Azevedo, André Stábile (Curimba), Tostão e Guarani, Melissa entre outros, emocionaram o público.
Um banner ao lado do palco indicava de onde vinha o incentivo ao projeto do Pontão de Cultura: Petrobras, Eletrobrás e Ministério do Meio Ambiente e da Lei de Incentivo à Cultura.
A coordenadora do Ava Marandu, artista Andréa Freire, leu uma mensagem da ONU (Organização das Nações Unidas) ao povo guarani e o grupo pernambucano Nação Zumbi, que se apresentou antes do 'Sonhos Guarani' levou o som do maracatu e do rock psicodélico que une também coco, ciranda e caboclinho. A banda sacudiu a plateia e deixou também mensagem de apoio “Do coração do Nação Zumbi aos guaranis”.
Segue abaixo depoimentos que o Pontão de Cultura reuniu sobre o Ava Marandu.
“Há dez anos, como Embaixador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, tenho levado a todos os continentes as recomendações da ONU para o combate à fome e à pobreza. A luta contra a fome é um dos oito objetivos das “Metas de Desenvolvimento do Milênio”, definidas nas conferências mundiais da ONU, ao longo dos anos 90. No ano 2000, os países-membros das Nações Unidas assumiram o compromisso de alcançar as Metas até 2015. Em 2005, os alarmantes índices de desnutrição de crianças guarani na região da Grande Dourados chamaram a atenção do mundo para a situação de extrema pobreza nas aldeias de Mato Grosso do Sul. O projeto Ava Marandu – Os Guarani Convidam recebeu o apoio da ONU por colaborar com a diminuição do preconceito contra os povos indígenas e, por consequência, para que as raízes, a cultura e a história dos guarani sejam respeitadas e preservadas. O Ava Marundu é mais um instrumento para que os guarani do Mato Grosso do Sul superem a situação de miséria e para que seus direitos humanos realmente sejam garantidos”.(Ronaldo Nazário, jogador de futebol)
"As pessoas falam que eu danço que nem índio, de uma maneira quebrada, diferente, num contratempo. Eu nunca fiz isso conscientemente, surgiu. Eu carrego isso na genética, pela minha ascendência dos índios cavaleiros, (os Guaicuru). Minha bisavó era índia. Desde o início, essa herança está sempre presente em meu trabalho, aflora. Corre sangue indígena em minhas veias e eu tenho muito orgulho disso. Hoje alguma coisa está acontecendo dentro da comunidade indígena, uma consciência de que eles tem que se juntar para dar um depoimento para o Brasil. Eu vejo este movimento, como algo muito importante, para nós sobretudo, não só para eles. Espero que ele seja visto com seriedade pelas autoridades de nosso país. Especialmente em Mato Grosso do Sul, que está muito devastado pela soja. Falo de um Estado em que eu viajava um dia inteiro, dentro do Cerrado e por meio de florestas altas. A última vez que fiz essa viagem eu quase chorei, pois só vi soja. Fiquei com a impressão de que nosso Estado está seriamente ameaçado por uma catástrofe. A única salvaguarda é a cultura indígena, que não é destrutiva como a nossa. Temos muito a aprender com eles, que tratam a natureza como algo sagrado. Para os índios essa convivência é natural, eles não precisam fazer força pra entender isso. Vamos ter que reativar esse conceito dentro de nós, antes que seja tarde, pois a natureza se rebela, e tem dado evidências. Falta tolerância. Nós brancos, somos intolerantes. A gente tem que olhar para os índios como seres humanos. Se você passa a olhar desse modo, começa a ter que respeitá-los minimamente. Saber que isto existe (o Ava Marandu) gera um sentimento dentro de mim, que nem tudo está perdido".(Ney Matogrosso, cantor e compositor)
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