terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Jonas Marcolino, índio Makuxi, é empossado secretário em Roraima

A participação dos índios no governo dos estados e municípios brasileiros é um feito que vai crescendo a cada eleição.

Para o bem ou para o mal.

Muita gente acha que essa participação implica uma alta dosagem de cooptação ao sistema político brasileiro e que os índios pagarão um preço alto pela ousadia de achar que, ao participar dos governos estaduais e municipais, vão melhorar as condições de vida de suas comunidades. Muitos indigenistas vêm cada vez mais a presença constante de munícipes curiosos e interesseiros nas aldeias indígenas, e, quanto mais perto das cidades, mais comprometidas se tornam as relações.

Outros acham que essa participação é inevitável, especialmente nas cidades e nos estados onde a presença indígena é significativa. Como em Roraima, Acre, Amapá, Amazonas e muitos municípios do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Outros mais se regozijam com essa participação anunciando a "inclusão" ou "integração" política dos índios no regime político brasileiro. E, afinal de contas, nossa tradição política favorece as grandes qualidades da nação brasileira!!

Agora, em Roraima, o estado que, junto com Santa Catarina, traduz a mais alta dose de preconceito aos povos indígenas, foi nomeado o índio Makuxi Jonas Marcolino como secretário estadual da Secretaria do Índio.

Essa secretaria foi criada pelo governador anterior, o mesmo que ficou conhecido como o chefe dos "gafanhotos", que era contra a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, como o são todos os demais, inclusive o atual.

Jonas Marcolino é um professor e pastor muito bem articulado. Dono de um discurso vibrante e de uma argumentação muito própria da história indígena brasileira, especialmente em Roraima, Jonas Marcolino tem se destacado entre aqueles que são contra a homologação da T.I. Raposa Serra do Sol.

Pessoalmente estive com Jonas umas três ou quatro vezes quando era presidente da Funai. Três vezes se deram entre militares, seja na Escola Superior de Guerra, seja na Escola Superior da Marinha, que estavam imbuídos do espírito contrário à homologação da terra indígena. Noutra vez foi no próprio Congresso Nacional, na discussão em que até políticos do PT, como Lindemberg Farias, se manifestaram contra. Os militares adoram ouvir o Jonas fazer seu discurso pró-civilização brasileira e pela presença deles em terras indígenas.

Sempre me espantou o quanto ele é veemente na defesa da presença dos brancos entre os índios. Não é só que ele considera que os brancos trazem capital e desenvolvimento, mas também que os brancos trazem a religião, a ciência e a tecnologia ocidentais, as quais os índios não possuem. Jonas é sincero em dizer isso, e não se importa que outros índios digam que ele é "vendido" ou "mameluco". Para ele, é assim que o mundo gira, e não se pode ir contra isso.

Jonas terá agora condições de repercutir sua fala em novos foros políticos. Não sei como será sua relação com a maioria dos Makuxi e Wapichana que são favoráveis à homologação da T.I. Raposa Serra do Sol. Quem sabe ele não mude de opinião?

De qualquer forma, eis um dos modos pelos quais os índios penetram na política brasileira. Só podemos augurar sucesso a Jonas e esperar que ele, de algum modo, consiga irrigar a aridez da arena política com novas ideias e que essas ideias sejam positivas para os índios.

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Índio é empossado secretário

Folha de Boa Vista, Roraima

Apesar de duas mudanças anunciadas durante o dia de ontem para o primeiro escalão do governo, apenas uma foi concretizada no início da noite, na sala de reuniões do Palácio Senador Hélio Campos. Assumiu a Secretaria Estadual do Índio Jonas de Souza Marcolino, em substituição a Adriano Nascimento, que ficou no cargo por quatro anos.

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Marcolino, que é indígena da etnia Macuxi e apoia a revisão do decreto homologatório da Terra Indígena Raposa Serra Sol, entra no lugar de Nascimento, também indígena. O governador agradeceu o trabalho desempenhado por Nascimento, mas que dentro de uma nova proposta, de um novo prisma, estava nomeando Marcolino.

Anchieta disse que, assim como em todo o País, as comunidades indígenas têm sido usadas como bode expiatório da FUNAI e que a maioria delas não aceita que a Raposa Serra do Sol seja da forma como está.

No entanto, que independente da decisão do Supremo Tribunal Federal, ele afirmou que continuará apoiando-as. "Precisamos somar forças para que possamos transformar as comunidade e tirar proveito do que elas podem contribuir para a economia do nosso Estado".

Entre as novas propostas para a pasta, Anchieta citou a criação de mecanismos de apoio à valorização profissional e fomento ao setor primário, que acontecerá em parceria com a pasta de Agricultura. "Serão focos como estes que serão mudados dentro da Secretaria do Índio" afirmou o governador.

Depois de assinar o decreto de nomeação, Marcolino disse que o governador estava escrevendo uma nova história no Estado e que sentia orgulho de fazer parte dela. Comentou ainda que a SEI tem sido vista pela maioria como de periferia, mas que confia na equipe de trabalho que terá habilidade para dar continuidade aos trabalhos.

Sobre a Raposa Serra do Sol, Marcolino discursou que todos estão ansiosos para saber como ficará decidida a questão, mas que acima de qualquer coisa, a grande preocupação é zelar pelo bem de todos.

8 comentários:

Anônimo disse...

Na história do Brasil há muitos casos semelhantes. A Igreja Católica sempre, e isso até hoje, utilizou de indivíduos da própria comunidade invadida para conseguir e apliar seus objetivos...
alguns se arrependem, mas muitos passaram por lavagem filosófica...

Anônimo disse...

E, a gritaria dos retrógrados paternalistas e "zoologicistas" da antropologia vai começar, conforme o comentário já publicado acima. Indio bom é indio burro, submisso e dentro das cercas da reserva, isolado e manipulado, pra esses tipos. Não suportam ver que indio quer mais é se desenvolver, trabalhar, estudar e participar da sociedade, sem ser tratado como um bichinho irracional, como esse adoram fazer.
Boa sorte, Marcolino, vai ser dureza aguentar os "amigos da cultura indígena" tentando te derrubar...

Anônimo disse...

Pelo que tenho visto vai ser difícil para os Povos de Roraima aguentarem um de seus membros contra eles próprios.
Os únicos irracionais que estão andando na América do Sul, toda, são os que compactuam com a ignorante maneira de manejar o planeta nos moldes praticados pelos europeus...

Anônimo disse...

Dureza senhor anônimo não está em aguentar os amigos da cultura indígena mas aguentar os que praticam barbaridades e imbecilidades em nome do progresso, igualmente o caso mostrado neste blog dos Xavante que tiveram o ônibus escolar queimado.
Com certeza por pessoas que pensam igual ao senhor.

Anônimo disse...

Senhor Guilherme
A imbecilidade de comparar a queima do ônibus Xavante com os que querem progresso demonstra a profunda distorção moral que toma conta dos pretensos "amigos da cultura indígena". É justamente o contrário. Quem fez isso, quer manter os índios no seu mundinho, trancados na reserva, servindo de cobaias antropológicas talvez, ou como animais irracionais incapacitados de conviverem com a sociedade envolvente. Não são "amigos do progresso", são justamente os anti-progresso.

E ao anônimo das 20:29, qual a sua dificuldade de entender que indios são pessoas e não robozinhos programados pra viver numa só cultura, sem a liberdade de mudarem?
Na sua visão míope, será que um tem sempre que seguir igualzinho ao outro, não existe lugar pra pensamentos divergentes, democracia, livre-escolha, mudança de vida, busca por educação e responsabilidade pelas decisões?

Voce deve ser daqueles que acham que (apenas uma analogia)favelado deve sempre ser favelado, e se algum ousar sair do meio ou discordar do tipo de vida, será considerado traidor da comunidade.

Anônimo disse...

"Os únicos irracionais que estão andando na América do Sul, toda, são os que compactuam com a ignorante maneira de manejar o planeta nos moldes praticados pelos europeus"
Quanta besteira travestida de sabedoria.
Se voce realmente acreditasse nisso, largava o computador e iria viver no mato. E a ilustre advogada indigena e outros indios da região passearam na europa, onde aprenderam e foram buscar apoio a sua causa separatista. Meio contraditório, não é?

Anônimo disse...

Contraditório é esses autenticos brasileiros precisarem ir buscar apoio para seus direitos fora do Brasil, pois aqui estão com seus direitos ameaçados constantemente por insensatos e discriminadores.

Anônimo disse...

Adalberto
Contraditório é alguém achincalhar a europa e depois defender a busca de apoio por lá.

Tem gente que de tão presa em sua ideologia ,que nem percebe mais pos paradoxos que defende.

 
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