sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Bolívia em crise por causa da bandeira indígena

Os aspectos culturais e simbólicos da Bolívia estão em crise. Um dos símbolos consagrados pela nova Constituição é uma bandeira indígena, chamada "wiphala".

Acontece que o pessoal do leste boliviano, sobretudo o departamento (estado) de Santa Cruz, onde a presença indígena é bem menor, está se recusando a hasteá-la no pavilhão governamental. Suas autoridades dizem que esse símbolo é do altiplano boliviano, que tem uma cultura diferente da cultura cruzeña.

A ideia de multiculturalismo, sem um princípio unitário, termina dando nisso. Assim aconteceu com a Yugoslávia de anos atrás. Assim poderá vir a acontecer na Bolívia.

Criar uma unidade político-cultural em meio à diversidade cultural exige uma engenharia ideológica muito sutil. Vamos ver se a Bolívia consegue se firmar nesse campo. A questão principal é como conciliar os departamentos do oriente boliviano com os do altiplano. Tudo serve de desculpa para os orientais irem contra a unidade que Morales quer estabelecer sob a hegemonia do altiplano.


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Bolívia: bandeira indígena motiva nova disputa entre Governo e oposição

La Paz, EFE

A nova Constituição da Bolívia fez da wiphala, tradicional bandeira indígena, um dos símbolos oficiais do Estado plurinacional, mas também gerou polêmica nas regiões opositoras ao presidente Evo Morales.

Os departamentos de Santa Cruz (leste) e Tarija (sul) rejeitam colocar a wiphala ao lado da bandeira nacional nos prédios públicos, argumentando que não representa sua cultura, confirmaram hoje à Agência Efe representantes dessas regiões.

Já Oruro (oeste) e Cochabamba (centro) foram as primeiras regiões a içar a bandeira de forma solene em suas sedes oficiais.

No dia 7 de fevereiro, Morales promulgou a nova Carta Magna, que em seu artigo 6.2 detalha que os símbolos do país são sua bandeira tradicional, o hino boliviano, o escudo de armas, a wiphala, a flor de kantuta (típica dos Andes) e a flor do patujú (comum no leste).

O ministro de Culturas boliviano, Pablo Groux, disse que há muitas teorias sobre o significado desta bandeira, mas a mais aceita é de que representa o "multiculturalismo da área andina", e por isso é "um símbolo dos povos indígenas" e, agora, dos bolivianos.

Apesar disso, as autoridades de regiões opositoras a Morales não se sentem representadas na bandeira indígena, e decidiram não içá-la em seus prédios públicos.

"Nós, de Santa Cruz, não reconhecemos a wiphala", disse hoje à Efe o secretário de Autonomias da Prefeitura, Carlos Dabdoub.

Segundo Dabdoub, a única bandeira que representa todos os bolivianos é a oficial da Bolívia.

Outros líderes regionais, como o presidente do Conselho Municipal de Santa Cruz, Enrique Landívar, são mais enfáticos no momento de recusar o uso da bandeira indígena.

"Essa bandeira representa à cultura do oeste da Bolívia, não a nossa. Nós mantemos nossos símbolos", afirmou.

Apesar de este novo símbolo nacional aparecer na Constituição promulgada recentemente, a falta de uma norma específica sobre a matéria faz com que apenas alguns locais do país tenham adotado a wiphala em suas sedes oficiais.

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