O CIMI colocou em seu site a notícia abaixo que trata do início de um aty guassu na cidade de Amambai, MS.
A assembleia foi convocada aparentemente pelos paí Guarani para tratar dos dois principais problemas que afligem a paciência dos Guarani de Mato Grosso do Sul: o administrativo e o fundiário.
O problema administrativo tem dois aspectos cruciais: um é a destruição da AER Amambai e a concentração dos serviços na única administração restante para os Guarani, a AER do Cone Sul, localizada em Dourados. Essa decisão foi feita logo no começo da atual gestão da Funai e os Guarani a engoliram com a promessa de que a nova administração iria ser poderosa e bem aquinhoada. Por algum tempo os Guarani aceitaram esse controle vindo de Dourados, quando há pelos menos 15 anos a AER de Amabai funcionava para mais da metade dos índios Guarani do Mato Grosso do Sul. Agora não somente querem a descentralização quanto a renovação da AER Amambai e a criação de mais duas outras. O outro aspecto administrativo crucial diz respeito á condução da Sra. Margarida Nicoletti na AER Cone Sul. Para muitos sua gestão é eficiente e correta e a Sra. Nicoletti é leal aos índios e aos seus propósitos. Por exemplo, ela brigou duramente com os pastores evangélicos, mas não com os pastores católicos. Para outros, ela é centralizadora, atende em especial aos grupos indígenas ligados ao CNPI e tomou como princípio desconsiderar o papel tradicional dos chamados capitães das aldeias Guarani.
Nesse quesito a posição da gestão atual da Funai é: nem uma coisa, nem outra. Os índios que engulam o que têm.
Já o problema fundiário é mais grave. Trata-se da promessa feita pela Funai, tanto em Dourados quanto em Brasília, através de um TAC firmado com o Ministério Público Federal, em novembro de 2007, segundo o qual a Funai se comprometia a demarcar cerca de 500.000 a 1.000.000 de hectares no Mato Grosso do Sul. Muitos índios Guarani acreditaram nessa promessa e agora querem seu cumprimento. Essa promessa destemperada resultou no envio de 6 grupos de trabalho para dar partida ao reconhecimento das novas terras guarani. E o coice veio exatamente de onde mais se esperava: a resistência acirradíssima dos fazendeiros locais e no envolvimento direto e emocional do governador do estado, André Puccinelli. No desenrolar desses acontecimentos, que se deram entre julho e outubro de 2008, o governador Puccinelli foi ao presidente Lula e acertou que não haveria demarcação nenhuma em Mato Grosso do Sul passando por cima dele. O atual presidente da Funai foi chamado e admoestado para atender ao reclamo do governador e agora põe-se na quietude fingindo-se de mercador.
Nesse segundo quesito a posição da gestão atual da Funai é: não dá para fazer nada agora.
O Aty guassu que está se realizando em Amambai está tendo o apoio ostensivo do CIMI, cuja ideia é de forçar a Funai e o seu presidente atual a tomar posição de cumprir sua promessa, ou desistir de sua posição.
Vamos esperar para ver o documento que sairá na sábado. Terá a marca tradicional dos autores dos últimos documentos emitidos nessas assembleias.
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Lideranças no MS ressaltam que não vão abrir mão da demarcação de suas terras
Notícia do CIMI
Os Kaiowa-Guarani de Mato Grosso do Sul começam hoje o primeiro Aty Guasu de 2009, assembléia que vai até o dia 28 de fevereiro no município de Amambaí. Um dos principais temas do encontro será o problema da crise de administração na FUNAI de Dourados. Porém muitas lideranças já adiantaram que com ou sem a atual administradora, não vão abrir mão da demarcação de suas terras.
Participam do encontro, lideranças políticas e religiosas, professores, vereadores indígenas, agentes de saúde, crianças para buscar uma definição sobre o problema que afeta a administração da FUNAI de Dourados/MS.A chefe atual, Margarida Nicoletti, está sendo questionada por um grupo de lideranças indígenas, que pedem o afastamento da mesma e a nomeação de um indígena como novo administrador da entidade. Por outro lado um grupo maior de lideranças fez uma reunião no 03 de fevereiro,ocasião em que decidiram chamar o Aty Guasu para que seja decidido nessa instância, por meio da vontade da maioria das lideranças de todas as aldeias, a continuidade ou não de Nicoletti como administradora da FUNAI de Dourados.
Reestruturação
As lideranças que querem a continuidade de Margarida colocaram condicionamentos para seguir apoiando a atual administração da FUNAI em Dourados. Em nota enviada ao presidente da FUNAI Marcio Meira, 26 lideranças das aldeias do cone sul de MS e vereadores indígenas Kaiowa-Guarani ressaltaram "além da permanência da atual administradora queremos a definição das políticas que precisam ser implementadas pela FUNAI, bem como mais funcionários para que estas políticas possam ser executadas". Entre as mudanças, pedem "a estruturação da regional da FUNAI de Amambaí e ampliação de regionais para Antonio João, Paranhos e Iguatemi e novos administradores nas regionais e que os mesmos sejam escolhidos no Aty Guasu, visto que os atuais não têm cumprido seu papel", afirmam.
Demarcação em jogo
As lideranças que apóiam Margarida dizem que a idéia de tirar Margarida da FUNAI não representa o sentimento da maioria do povo Kaiowa-Guarani e que existe "interesses políticos dos não índios que querem prejudicar a atual administração". Na reunião de lideranças no dia 3 de fevereiro em Dourados este grupo enviou uma mensagem à sociedade com a seguinte reflexão: "Tem grupo vinculado ao agronegócio que quer confundir os indígenas e criar briga entre nós, achando que derrubando Margarida nós vamos esquecer a luta pela demarcação de nossas terras. Independente de Margarida, a demarcação quem vai fazer são os Kaiowa-Guarani".
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
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Um comentário:
Caro Mércio,
Vc bem sabe que sempre vou respeitar suas opiniões e sua história de dedicação aos índios, além é claro de sua experiência muito maior que a minha. Mas novamente vou discordar do assunto Dourados/Margarida. Lá não existem "pastores católicos" fazendo proselitismo religioso e incendiando as casas de reza dos Guarani. Tenho muitas críticas ao CIMI mas esse é um pecado que eles não cometem. Quanto aos chamandos capitães, o que Margarida tem feito "com o apoio de algumas pessoas do MDS (vou sempre lembrar dessa sua frase, rsrsrs)" é não mais permitir que os recursos para atividades produtivas e as cestas básicas sejam centralizadas naquelas figuras mas sim nos chefes das unidades familiares, o que evita desvios. Há reações, é claro, mas, coinscidência ou não, muitos desses capitães são justamente os que foram cooptados pela turma do governador do MS, contra as demarcações. No que se refere a mudar a AER de endereço (Dourados, Amambai, Ponta Porã ou o que seja) me parece de menor importância. É melhor uma única administração com uma boa equipe, sobretudo nos postos indígenas, do que várias unidades administrativas sem gente para tocar os projetos. Se na Aty Guasu os índios majoritáriamente pedirem a saída da Margarida tenho certeza de que ela mesmo não vai mais querer ficar. Será uma manifestação incontestável dos principais líderes. Mas o que a FUNAI precisa com urgência é de concurso público, com pessoas de boa formação técnica e indigenista. Não adianta ficar mudando administradores ( a não ser é claro em casos de corrupção ou total incompatibilidade com os índios) sem que isso seja resolvido. Portanto, creio que não devemos "fulanizar" o assunto (se é Margarida, Wiliam, Anastácio, Wilsom Matos e etc)mas sim debater a fundo as condições atuais da FUNAI cumprir seu papel.
Abraços.
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