terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Jarbas Vasconcellos abre o verbo contra o PT e o PMDB


Este Blog não costuma apresentar análises de eventos políticos recentes. Tampouco de encômios a políticos. Entretanto, a entrevista com o senador Jarbas Vasconcellos, de Pernambuco, publicada essa semana pela Veja, merece nossa consideração. Sua força não é exatamente política, mas cultural e ética, no sentido de que afeta nossos sentimentos de brasilidade e de esperança de dignidade.

Conheci o senador Vasconcellos quando ele era governador de Pernambuco e o visitei no Palácio dos Guararapes, em Recife. Conversamos sobre as questões indígenas de seu estado e no esforço que ele começava a fazer para incorporar a atuação indígena nas suas secretarias. Me parecia mais um governador inclinado a contribuir com o bem-estar dos povos indígenas, mesmo sem saber como fazê-lo. Não mais o vi.

A entrevista do senador Jarbas é devastadora ao PMDB e ao PT. Descasca as vestes formais dos senadores Sarney e Renan Calheiros e não mede palavras na sua análise sobre o papel do governo Lula em tornar o povo dependente dos programas assistencialistas e de sua entrega aos interesses eleitoreiros mais desprezíveis do PMDB e do PT.

A entrevista me fez lembrar aquela dada pelo irmão de Fernando Collor, o Pedro, que iniciou o bombardeio contra o então presidente. Mas, é certo que não terá nenhuma repercussão parecida. Os caciques do PMDB já declararam que não vão fazer nada formalmente contra Jarbas, enquanto tentam miná-lo por baixo do pano e esperam que o tempo a faça ser esquecida.

Entretanto, é uma entrevista épica, pelo vigor poético desassombrado que contem, e poderá ter uma repercussão de outra sorte. Ficará como um marco nesse horizonte vazio de esperanças. O senador Jarbas não contemporiza com a falta de ética, com os oportunismos e com o cinismo reinante no Reino do Lulismo-Peemedebismo, nem falta-lhe coragem para destacar nomes no meio da manada. Cita-os e diz porquê.

Será o suicídio político do senador Jarbas? Ou será um passo rumo a algo mais forte? Nem podemos falar sobre isso. O que vale é o desassombro de um homem que tem uma carreira política brilhante e que pretende deixar uma marca de exemplo para os brasileiros. O senador Pedro Simon era, até então, o último varão probo da República. Agora temos o Jarbas.

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Jarbas descarta deixar partido e diz que corrupção no PMDB atinge escalão superior

Gabriela Guerreiro, da Folha Online, em Brasília

Depois de fazer duras críticas ao PMDB e denunciar a existência de corrupção dentro do partido, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) descartou nessa segunda-feira a possibilidade de deixar a legenda. Ao reiterar que grande parte dos peemedebistas está envolvida em atos de corrupção, Jarbas não quis revelar nomes com o discurso de que sua ideia é apenas fomentar o "debate" dentro da legenda.

Parte do PMDB quer mesmo é corrupção, diz senador Jarbas Vasconcelos
"Como posso citar nomes? É um número muito volumoso, eu não vim ficar como auditor do PMDB no Congresso. Eu não disse que todo o PMDB era corrupto, mas grande parte. São nos escalões superiores que a corrupção vive", disse o senador.

Apesar de denunciar a existência de corrupção dentro do PMDB, Jarbas afirmou que não vai sair da legenda --nem avalia que será expulso do partido. "Não acredito em expulsão. Pode ser que tenha um processo, mas as pessoas [corruptas] têm perfil conhecido. Eu não retiro nada do que eu disse, quem quiser [me] processar, procure o conselho de ética do partido", afirmou.

O senador classificou de "estapafúrdia e ridícula" a versão de que teria concedido entrevista à revista "Veja" com duras críticas ao partido com o objetivo de ser expulso da legenda. "É ridícula essa tese de que estou fazendo isso para ser expulso. Minha função é ser senador", afirmou.

Jarbas também rebateu as acusações de que as críticas ao PMDB são estratégia para ser lançado como vice na eventual chapa do tucano José Serra (PSDB-SP) à Presidência da República em 2010. O senador também criticou as especulações de que suas críticas têm como objetivo fazê-lo ganhar destaque na mídia para as eleições do ano que vem

"Não quero ser vice, não sou candidato a vice. Eu não vou fazer barreira da minha atuação parlamentar para conquistar voto. Mas as pessoas também não podem querer que, depois de uma entrevista daquelas, eu vote no PT", afirmou.

Renan

Jarbas disparou críticas ao líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), e ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O senador disse que vai manter sua prática de não participar de nenhuma reunião da bancada do PMDB presidida por Renan no Senado. "É uma posição de autodesconforto. Eu sequer vou mais à reunião do partido, sobretudo agora, comandado pelo Renan", afirmou.

Em relação a Sarney, Jarbas criticou a sua candidatura para presidir o Senado e as eleições que resultaram na sua vitória. "A eleição do Sarney foi muito estranha, ele terminou cedendo à pressão do Renan. O Senado tem problemas de imagem internos e externos. Não combato o Sarney, mas as suas práticas", disse.

Na opinião de Jarbas, a única bandeira atual do PMDB é barganhar cargos no Poder Executivo --postura que, segundo ele, é liderada pelo grupo de Sarney e Renan. "O presidente Lula e o PT não inventaram a corrupção, mas a corrupção tem sido a marca do governo dele."

O senador disse que suas críticas ao partido têm como objetivo debater questões essenciais ao PMDB. "Quem vai para um episódio desses sabe das consequências. Se eu desencadeei esse processo, cabe ao Senado, à bancada, provocar esse debate. Eu fiz a minha parte."

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