sábado, 1 de novembro de 2008

Índios Karajá têm a Ilha do Bananal livre de gado alheio

A Ilha do Bananal, situado entre os estados do Mato Grosso e Goiás, é uma das belezas da natureza e da cultura brasileiras. Além de possuir uma riqueza ecológica impressionante, tendo o rio Araguaia circundando-a longitudinalmente e produzindo um regime especial de chuvas, inundações, secas e formações de praias, a Ilha de Bananal é o lar dos índios genericamente chamados de Karajá, que compreende as subdivisões Karajá, ao centro e a oeste da Ilha, os Xambioá ao norte e já fora da Ilha, e os , ao leste da Ilha, além de remanescentes de índios Tuxá, Krenak e Avá-Canoeiro que vivem entre os Karajá.

Durante o século XIX, os Karajá foram vítimas de maus tratos de todas as sortes por parte dos brasileiros que para lá acodiram e se estabeleceram nas margens do formoso rio. No terceiro quartel daquele século, o general e governador do Mato Grosso, Couto de Magalhães, estabeleceu uma colônia para "educar" os Karajá. Essa colônia foi chamada de Santa Izabel, e ficava na margem esquerda da Ilha do Bananal. Hoje lá se formou uma cidade onde antes viviam os Karajá. No século XX, os Karajá também passaram mal bocados, mesmo com a intervenção do SPI. A imigração se intensificou com o comércio de peixes, com o estabelecimento de fazendas de gado, levando os Karajá, consequentemente, ao uso descontrolado de bebidas, à prostituição e à queda populacional. No tempo de Getúlio Vargas, e até o governo Juscelino Kubitschek, os Karajá eram admirados pela sua beleza, pelo artesanato de penas e de cerâmica e pelo modo de vida ribeirinho. Passaram a representar o símbolo dos índios brasileiros. Foi inclusive construído um hotel para abrigar visitantes ilustres.

Desde a década de 1970, a FUNAI tem feito um esforço grande para aliviar o sofrimento dos Karajá e encontrar um caminho melhor para sua vida. Sempre com altos e baixos. Intensificou-se o processo de arrendamento dos vastos pastos naturais para o gado dos vizinhos. Em certa época da década de 1990 havia mais de 500.000 cabeças de gado no interior da grande Ilha.

Eis que, com esforço, as terras dos Karajá foram demarcadas e garantidas. Quase toda a Ilha agora lhes pertence. Apenas a ponta norte é patrimônio nacional, controlada pelo IBAMA. Uma parte grande da Ilha, chamada pelos Karajá de Inawenebohona, de 350.000 hectares, foi demarcada e homologada durante a minha presidência na FUNAI, depois de longas negociações com o IBAMA, quando eles aceitaram que o controle dessas terras deveria pertencer aos Karajá. Com a condição de que todo o gado não pertencente aos índios deveria ser retirado.

Agora essa decisão foi cumprida. Desde agosto que todo o gado que pastava na Ilha do Bananal e que não pertencia aos índios foi retirado. Cumprimentamos a todos por essa decisão e ato importantíssimo para o futuro dos Karajá!

A matéria abaixo diz um pouco desse assunto e trata do fato de que a Agência de Defesa Agropecuária do estado de Tocantins processou a vacinação contra febre aftosa de todo o gado pertencente aos Karajá, num total de 2.730 rezes.

Que os Karajá consigam encontrar uma vocação econômica para a sua vida. O gado é um caminho, o peixe seletivo, outro. Seu artesanato continua sendo um patrimônio dos povos indígenas.

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Encerrada vacinação na Ilha, com 2.730 animais

Palmas, Jornal do Tocantins

Terminou ontem a vacinação contra febre aftosa nos bovinos pertencentes aos indígenas da Ilha do Bananal, região Sudoeste do Estado. A ação dos fiscais da Agência de Defesa Agropecuária (Adapec) resultou em 2.730 animais vacinados. A operação, que teve início no dia 15 de setembro, contou com cerca de 3 mil doses da vacina contra aftosa, custeadas pela Adapec, de acordo com termo firmado entre a FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO (FUNAI) e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Com a retirada do rebanho pertencente aos fazendeiros, os órgãos de defesa agropecuária dos Estados do Tocantins, Goiás e Mato Grosso devem gastar menos com a vacinação do gado da Ilha do Bananal, que antes eram 92.320 cabeças e agora são cerca de 3 mil. Segundo informações da Adapec, para o fechamento dos dados de todo o rebanho retirado do local, o órgão aguarda informações de Goiás e Mato Grosso, que deverão ser divulgados ainda nesta semana.

Retireiros

Foi retirado praticamente todo o rebanho pertencente aos fazendeiros que ocupavam a Ilha do Bananal. Cerca de 70 mil animais saíram do local, pelos corredores sanitários do Tocantins. Também foram utilizados corredores dos Estados de Goiás e Mato Grosso. Restaram apenas alguns animais desgarrados.

Uma equipe da agência continua no corredor sanitário de Formoso do Araguaia, município localizado 323 quilômetros a Sudoeste de Palmas, para vacinar esses animais. "Alguns bovinos se perderam. À medida que vão sendo encontrados pelos fazendeiros, estão sendo vacinados e retirados", disse Humberto Camêlo, presidente da Adapec. (J.R.)

Histórico

Em despacho da Justiça Federal no Tocantins, foi determinado em março deste ano, aos criadores de gado que ocupavam áreas na Ilha do Bananal, que retirassem seus rebanhos e pertences e desocupassem o Parque Indígena do Araguaia. A decisão é resultado de um processo iniciado com ação civil pública proposta em 1999 e dispõe que a situação é danosa para o ecossistema e para os indígenas. Cercada pelos rios Araguaia e Javaés, trata-se da maior ilha fluvial do mundo, com uma área aproximada de 2 milhões de hectares.

Fonte: Agência de Defesa Agropecuária (Adapec)

Um comentário:

Anônimo disse...

Outra ótima notícia desta semana! Nem só de dificuldades e pesares vive a Funai, não é, sr. Mércio?! Aliás, posso chamá-lo apenas de Mércio? Fica um pouco menos formal, e formalismo é uma necessidade da minha profissão, mas há contextos e contextos. Bem, quanto à visita do governador do MS ao Min. da Justiça, saiu num jornal daqui que o sr. Governador afirmou que o Ministro mais ouve do que fala...; um pouco diferente do que alardearam os demais partícipes da reunião, sobre um suposto apoio incondicional à proposta de emenda constitucional para garantir indenizações aos titulados em terra indígena. Abraço, Adriana.

 
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