segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Ministro da Justiça demite Coordenador de Assuntos Fundiários da FUNAI

O ministro Tarso Genro demitiu nesta sexta-feira o coordenador-geral de identificação de terras indígenas, o antropólogo Paulo Santilli.

Na FUNAI não se fala em outra coisa. Por que o Paulo Santilli?

Paulo Santilli é o antropólogo que argumentou pela continuidade da homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol por ter sido um dos antropólogos que fez os estudos do reconhecimento daquela terra indígena.

Ele também era responsável por refazer o relatório da antropóloga Nadja havt Bindá sobre a Terra Indígena Piaçaguera, perto da cidade de Peruíbe, onde um grupo de índios Guarani alegam que lhes pertence por tradicionalidade secular.

Parece que Paulo Santilli também foi coadjuvante da idéia de se criar seis grupos de trabalho para identificar terras indígenas no Mato Grosso do Sul, fato cujas repercussões polítcas têm dado muita dor de cabeça ao ministro Tarso Genro.

Outra grande credencial do Paulo Santilli é ser irmão de Márcio Santilli, o principal diretor da Ong Instituto Socioambiental. Por essa razão o ISA vinha dando apoio incondicional à atual gestão da FUNAI. Não se sabe se esse apoio continuará a ser incondicional.

Já há meses o ministro Genro vem mandando recados à FUNAI para não lhe passar "bolas quadradas", como se diz na gíria. isto é, não lhe mandar para decidir sobre demarcações que são alvos de muitas disputas políticas e que são dificílimas de resolver a curto prazo. O ministro Genro já tem a cabeça quente com as questões de segurança e da Polícia Federal.

Muitos antropólogos e indigenistas da FUNAI se perguntam se o Santilli é bode expiatório do grupo de Ongs que tomou o poder do órgão e precisa manter esse poder por mais algum tempo. Algumas dessa Ongs têm planos triangulatórios com a FUNAI e organizações internacionais que lhe fornecem verbas. Daí o sacrifício do Santilli. Outros falam que está havendo um desentendimento no seio das Ongs que controlam a FUNAI, daí essa demissão. Mas também é provável que o Santilli tenha outros compromissos na sua universidade ou em novas consultorias e tenha chegado a hora de sair da FUNAI para assumi-los. Ora.

Os índios ainda não se deram conta do quanto a FUNAI está dominada pelas Ongs. Só espreitam de longe. Um dia desses fizeram duras reclamações ao ministro Genro sobre a atuação nefasta do grupo que controla o órgão. Mas pensam apenas que é uma questão de incompetência e desleixo, não de atitude política anti-indigenista.

Um comentário:

Gerson Levi-Lazzaris disse...

sse eh mais um sintoma de que ha uma forte pressao, senao um lobby, dos arrozeiros no governo, nao apenas nos partidos de direita (DEM, PSDB e PMDB), mas igualmente na ala antigamente comprometida com os direitos indigenas do PT. Paulo Santilli eh provavelmente um dos melhores e mais engajados antropologos do pais. Seu livro Pegomon Pata e seus inumeros artigos sao prova disso. Todas as organizacoes indigenas de Roraima e da Amazonia o conhecem e sabem que ele eh forte aliado dos direitos indigenas. Se a demissao de Paulo Santilli pode nao ser inconstitucional, certamente os motivos que levaram a ele o sao.

Igualmente nao ha percepcao por parte da base governinsta que as populacoes indigenas tem direito de manter uma vida nao asociada ao modelo PAC de integracao nacional e que apenas suaviza o discurso de progresso e integracao de massas da direita militar. Como antropologos engajados, devemos lutar para manter as diferencas.

Parabens pelo blog. Essa eh uma atitude transparente e digna de um antropologo e indigenista!

Saudacoes,
Gerson Levi-Mendes, etnoarqueologo
Deaprtment of Anthropology
Vanderbilt University, TN
http://ethnoarchaelogy.blogspot.com

 
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