sábado, 29 de novembro de 2008

Homenagem a Claude Lévi-Strauss -- 3

Instituto de Ciências Humanas e Filosofia
Departamento de Antropologia
Disciplina: Antropologia III
Curso: Ciências Sociais
Prof.: Mércio P. Gomes
Aluna: Lorena Francisco de Carvalho

1 - Por que, ao final de tantas discussões, Lévi-Strauss chega à conclusão que animais e plantas que são referidos em sistemas totêmicos são "bons para pensar" e não, como achava Malinowski, "bons para comer"?

R.: Lévi-Strauss diz ser errada a interpretação de Malinowski, pois acredita que para os indígenas, os animais e plantas referidos em sistemas totêmicos encerram em si uma infinitude de características e significados que fazem pensar à medida que caracterizam uma série de fatores que podem ser úteis para a sobrevivência ou como simbolismo. Ao contrário do que se pensava, os “primitivos” também possuíam uma ânsia pelo conhecimento objetivo e sabiam portanto, reconhecer as menores diferenças entre as espécies de um mesmo gênero. Ultrapassando o contexto alimentício, as faculdades aguçadas dos indígenas permitiam a eles percorrer um universo de significação e fazia notar até mesmo as mudanças mais sutis dos fenômenos naturais, como o vento, a luz e o tempo. A familiaridade com a fauna e a flora era imprescindível, o nativo é completamente integrado com seu meio ambiente, sobretudo porque conhecer aquilo que o cerca é útil e necessário para sua subsistência, não apenas para alimentar-se, mas também para socorrê-los, pelas propriedades medicinais contidas nas plantas. A extrema familiaridade com o meio biológico, a atenção que lhe dedicam, as atitudes e preocupações, é que diferenciam os indígenas dos “brancos” por seu intenso interesse de conhecer aquilo que o cerca. Por ser um povo cultivador, as plantas são tão importantes quanto os seres humanos, e nisso insere-se também o aspecto do totemismo, onde muitas vezes há a conexão de uma espécie animal ou vegetal, ou de um objeto inanimado, onde existe a crença numa relação de parentesco entre os membros do grupo e o animal, planta ou objeto e por respeito a esses, manifesta-se tipicamente uma interdição de comer o animal, planta o deixar de utilizar o objeto, retificando assim, a importância de conhecer os símbolos que os cerca, a fim de buscar novas alternativas. Como afirma Lévi-Strauss: “(...) as espécies não são conhecidas porque são úteis, mas primeiramente são consideradas úteis ou interessantes porque são conhecidas. (...) Ela corresponde a exigências intelectuais ao invés de satisfazer as necessidades.” Assim, os indígenas foram ensinados a prestar atenção a tudo o que vêem “o mundo animal e o mundo vegetal não são utilizados apenas porque existem, mas porque propõem ao homem um método de pensamento.” Ele forma um sistema, onde se dá a relação do homem com a natureza, num nível mais profundo do que um simples mecanismo de identidade.


2. Discorra sobre as diferenças e semelhanças entre a ciência do concreto e a ciência do abstrato.

R.: No livro, O Pensamento Selvagem, Lévi-Strauss mostrou que a maneira de pensar dos primitivos também tem sua lógica própria e que ela não é estranha ao pensamento domesticado ocidental. A distinção maior é entre a lógica construída a partir dos dados sensoriais da experiência, uma ciência do concreto, e a lógica que privilegia categorias abstratas, como sinais matemáticos e classificações biológicas. Logo, do lado "selvagem", há uma atenção maior ao específico. Do lado "domesticado", buscam-se as totalidades, os grandes esquemas explicativos e o segundo modo prevaleceu na civilização ocidental, mas mesmo nela só é empregado por uma minoria de especialistas, cada um em seu campo de atuação, como exemplo, o autor cita o engenheiro, que só pensa como tal no domínio da engenharia, e em outros termos, seu modo de pensar pode ser considerado "selvagem". Portanto, o pensamento "selvagem" não é restrito aos povos primitivos, ainda que entre eles seja dominante. Assim, o que era antes visto como "atraso" ou "vestígio" passou a ser entendido como um dos modos possíveis de o homem organizar sua relação com o mundo. Já o pensamento científico trabalha com teorias e conceitos, que servem de mediadores entre o ser humano e o mundo. Logo, uma das diferenças entre Magia e Ciência, é que uma postula um determinismo global e integral, enquanto a outra opera distinguindo níveis dos quais apenas alguns admitem formas de determinismo tidas como inaplicáveis a outros níveis, contudo as duas ciências necessitam de organização e em lugar de opor magia e ciência, é preferível colocá-las em paralelo, como dois modos de conhecimento desiguais quanto aos resultados teóricos e práticos. Ambas supõem operações mentais que diferem menos na natureza que na função dos tipos de fenômeno aos quais são aplicadas. Todo e qualquer conhecimento deve ser válido mesmo sem base na razão, pois pode servir por muito tempo, como uma operação teórica. A ciência do concreto deve manter sua validade, pois ela sempre foi o substrato de nossa civilização e tanto o concreto quanto o abstrato pode produzir transformações e trabalham através de analogias e aproximações. “O pensamento mítico elabora estruturas organizando os fatos, ao passo que a ciência, a partir de sua própria instauração, cria seus meios e seus resultados sob a forma de fatos, graças às estruturas que fabrica sem cessar que são suas hipóteses e teorias”.

3. Discorra sobre o debate entre Lévi-Strauss e Jean-Paul Sartre a respeito das lógicas analítica e dialética e os sentidos de história e estrutura.

R.: Lévi-Strauss contesta duramente a Crítica da Razão Dialética, do filósofo Jean-Paul Sartre, contesta o privilégio concedido por Sartre à história, em detrimento das outras ciências sociais. E nega, sobretudo a idéia de que o desenvolvimento da consciência histórica seria um critério válido para distinguir os "primitivos" dos "civilizados". A própria noção de "fato histórico", para o antropólogo, é falsa: a história só é percebida "em situação", enquanto processo vivido e o fato histórico, portanto, é uma abstração criada pelo historiador e nunca independente do seu ponto de vista. Por isso, a história não pode pretender alcançar uma verdade objetiva como queriam os positivistas e os marxistas. Segundo Lévi-Strauss, a história nada mais é senão uma relação de eventos, condenada à ideografia, então ele ataca a maneira como Sartre a arvora em perspectiva unificadora, totalizadora, pois segundo ele, no sistema de Sartre, a história desempenha o papel de um mito. Segundo Lévi-Strauss, na lógica de Sartre, razão analítica e razão dialética chegam a um mesmo resultado, contudo, segundo Sartre, a razão dialética existe independentemente da razão analítica, pois Sartre chama razão analítica à razão preguiçosa e a razão dialética, “os esforços que a razão analítica deve fazer para se reformar, se pretende da conta da sociedade, da linguagem e do pensamento”. Segundo Sartre: A razão dialética não pode dar conta de si mesma, nem a razão analítica, pois “a Razão dialética não é razão constituinte, nem razão constituída, mas sim a Razão constituindo-se no mundo e por ele dissolvendo nela todas as Razões constituídas para constituir novas Razões que, por sua vez, ela supera e dissolve. Portanto, é um tipo de racionalidade e, ao mesmo tempo, a superação de todos os tipos racionais”. Logo, a defesa sartriana da superioridade da razão dialética sobre a razão analítica deriva da necessidade de "acompanhar o movimento graças ao qual as ciências sociais acabaram por atingir sua autonomia metodológica". Pela visão de Lévi-Strauss, a razão dialética não é outra coisa senão a razão analítica e aquilo sobre o que se fundaria a originalidade absoluta de uma ordem humana, mas alguma coisa a mais na razão analítica: sua condição requerida para que ouse empreender a resolução do humano e do não-humano.

4. Quais as grandes ambições do movimento estruturalista dentro da comunidade científica.

R.: “O estruturalismo constituiu-se em reação contra o atomismo e em torno da psicologia da forma”. Com o estruturalismo passa-se a entender a totalidade dos fenômenos sociais como linguagem, visto que toda estrutura supõe uma construção. A antropologia estrutural postulava uma descontinuidade entre natureza e cultura, assim, o programa estruturalista aspirava descobrir as bases e as leis do grupo estudado. Ao colocar a antropologia no campo da cultura, segundo Lévi-Strauss, a antropologia estruturalista poderia desenvolver-se sem fronteiras, estendendo suas considerações ao conjunto do gênero humano fazendo entender dessa maneira a tipologia e a classificação tipológica, o que por muito tempo escapou à antropologia.

Era objetivo da antropologia estrutural, rechaçar toda e qualquer forma de substancialismo e de causalismo em proveito da noção de arbitrário, como também excluir o sujeito, assim, “o homem não pode fazer outra coisa senão constatar a sua importância, a sua inanidade em face dos mecanismos que ele vai em ultima instância tornar inteligíveis, mas sobre os quais não tem poder algum”. A generalidade do programa de Lévi-Strauss exprimia-se sobretudo na dupla preocupação de em proveito da natureza simbólica do seu objeto, não se deixar desligar do social, das realidades. Através das modificações de estrutura no nível biológico, buscava-se a emergência da cultura. De um modo geral, o estruturalismo procurava explorar as inter-relações (as "estruturas") através das quais o significado é produzido dentro de uma cultura. Logo, é a partir da negação da historicidade, da busca das origens, que o paradigma estruturalista viria a se desenvolver.


5. Por que e como o estruturalismo desmoronou do seu pedestal de respeitabilidade e vem sendo substituído por teorias chamadas pós- modernas?

R.: O estruturalismo tem sido substituído por abordagens como o pós-estruturalismo e desconstrutivismo, sobretudo porque tem sido freqüentemente criticado por ser não-histórico e por favorecer forças estruturais determinísticas em detrimento à habilidade de pessoas individuais de atuar. O Período de turbulência se encontra entre os anos 60 e 70 e a partir do final do século, o estruturalismo já era visto historicamente como uma importante escola de pensamento, mas eram os movimentos que ele gerou, e não o próprio estruturalismo, que detinham a atenção. Assim, o pós-estruturalismo instaura uma teoria da desconstrução na análise literária, liberando o texto para uma pluralidade de sentidos. A realidade era então considerada como uma construção social e subjetiva. A abordagem é mais aberta no que diz respeito à diversidade de métodos. Em contraste com o estruturalismo, que afirma a independência e superioridade do significante em relação ao significado, os pós-estruturalistas vêem o significante e o significado como inseparáveis. Na antropologia, a corrente pós-estruturalista abandona o próprio conceito de estrutura, por se parecer com uma espécie de "teologia" das sociedades: uma instância imaterial e superior que determina os destinos humanos. Também era criticada a propensão do estruturalismo para as generalizações, em detrimento do conhecimento das especificidades. O estruturalismo passou do campo do pensamento "domesticado" e científico direto para o seu oposto porque, como explicou o autor em sua obra de 1962, “as artes formam na civilização ocidental uma espécie de reserva ecológica do pensamento selvagem”. Assim, o século XX foi apontado como o século das rupturas, que introduziu um pessimismo profundo em relação à história e o estruturalismo era apontado pelos pós-modernos não como um método novo, mas como a consciência desperta e inquieta do saber moderno. “O estruturalismo viu-se na situação de responder a uma demanda social de uma determinada conjetura histórica em que o deslocamento do olhar para a figura do selvagem já não significava a resposta a uma necessidade do exotismo, mas a busca desesperada da verdade do homem num universo onde o futuro se encontrava excluído”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse texto foi escrito pela aluna ou pelo professor. Muito interessamte

 
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