A extraordinária eleição de Barack Obama para presidente dos Estados Unidos da América vem provocando a imaginação dos americanos e do mundo. Há um clima de alegria e espanto, de esperança de que, com isso, os Estados Unidos renasçam de sua decadência moral e alumiem o mundo com uma nova ética. Os elogios à pessoa de Obama chegam ao limite da adoração.
Com efeito, a trajetória de vida de Obama merece todo nosso respeito. Filho da união amorosa de um estudante de economia queniano e uma estudante de antropologia americana, Obama nasceu e se criou no Havaí, ao lado de seus avós maternos. Mais tarde mudou-se com sua mãe para a Indonésia, após o fim do casamento com o pai de Barack e o novo casamento da mãe com um indonésio, de quem teve uma filha, a meia-irmã de Barack. Jovem adolescente, veio morar com os avós no Havaí. Passou um tempo em Los Angeles, e parece que teve uma vida meio desregrada, inclusive usando e abusando das dogras. Fez graduação em Ciência Política na Universidade de Columbia, em Nova Yorque, e de lá foi para a Universidade de Harvard, onde se formou em Direito. Lá foi aluno de Mangabeira Unger, o brasileiro que hoje é ministro de Assuntos Estratégicos do governo Lula. Aliás, Barack Obama tem visões políticas e éticas muito parecidas com as de Mangabeira.
Formado em Direito, Obama se mudou para Chicago, onde passou a trabalhar numa firma de advogados. Lá conheceu sua mulher, Michelle, que era sua chefa. Sua vocação para a política o levou a dedicar-se em ação voluntária na comunidade de negros pobres do sul de Chicago. Meio caminho andado para a eleição a deputado estadual e depois para senador do estado de Illinois.
Barack Obama está no Senado americano há apenas três anos e nove meses. Portanto, sua ascensão foi impressionante. Chegou, viu e venceu!
Obama é um mulato, um mestiço, por ter pai negro (africano) e mãe branca (natural do Kansas, estado conservador), que fala como branco, se comporta como branco, casou-se com uma negra e parece ter adotado o estilo de viver e de ser da subcultura negra americana. Daí sua identidade negra ser reconhecida pelos americanos negros e pelos brancos.
Obama é, de certo modo, um "outsider", uma pessoa que está na periferia da sociedade americana. Não é de família rica nem por parte de pai, nem por parte de mãe. Ser mestiço de branco e negro poderia ter provocado muita confusão na mente dos americanos. Ele soube dar um novo sentido a isso. Deixou os negros satisfeitos de terem um representante da sua subcultura e deixou os brancos com a idéia de que ele se comporta como um branco e entende os brancos, por ter sido criado por brancos. Assim, Obama encontrou um nicho positivo, novo e aberto no tenso sistema de identidade americano. Sou negro e sou branco -- eis a mensagem de identidade que ele transmite. E isso é um bálsamo para a cultura americana.
Barack Obama me traz à memória a figura do imperador romano Trajano (53-117 Era Cristã). Não precisamente pelo aspecto guerreiro de Trajano, já que Obama não tem nada de militar em sua formação. Mas pelo aspecto de ter vindo de fora, de ter aberto seu caminho diante das tradições arraigadas por mais de 500 anos de existência de Roma e do Império Romano.
Trajano era um jovem general de valor que fez seu nome durante as guerras contra a Germânia. Nasceu e se criou na península ibérica, atual Espanha. Por seus méritos de general, foi nomeado governador da Ásia e da Síria. No fim da vida de Nerva, imperador, foi adotado por ele e o substituiu na sua morte, no ano 98. Mas, para ser aceito no centro do Império, teve que obter o apoio do Senado e da guarda pretoriana. Uma espécie de eleição à moda imperial. Foi imperador até o ano 117 e recebeu a alcunha de Optimus Princeps. Trajano foi o primeiro imperador romano não nascido em Roma. Expandiu o Império mais do que qualquer outro imperador antes ou depois. Foi reconhecido como grande administrador e grande patrono das artes e literatura romanas.
Barack Obama veio para mudar os Estados Unidos e mudar o mundo. Esta é a mensagem que o elegeu com margem folgada no eleitorado americano. Os americanos o vêem como um Kennedy mestiço, um mensageiro de boas novas. Um puritano moderno, pela ética e pelos valores da cultura americano que quer transmitir.
Os americanos e o mundo agora vão esperar as ações de Barack Obama. Querem ver como ele termina o Guerra do Iraque, como ele destrói Al Qaeda, como ele negocia com o Irã, com a Rússia e com a China. Como ele vai dignificar a economia pelo trabalho e não pela especulação.
É muita tarefa a ser realizada. O problema é que Obama prometeu que faria tudo isso. Vamos torcer e vamos emular Obama em nosso país.
Barack Obama é uma espécie de novo Trajano do Império Americano. Ele veio para renovar a ética americana e projetar o American way of life de um modo mais suave e condizente com as expectativas do povo americano, que quer permanecer como a nação mais poderosa do mundo, mas também ser admirado e querido pelos súditos.
O mais interessante de tudo, para nós que não somos americanos, é que os demais países no mundo torceram pela eleição do Barack Obama. Em enquete feita por jornais eletrônicos deu que Barack Obama seria eleito por 85% dos votos mundiais -- contra John McCain.
O mundo torceu por Barack porque quer ver os Estados Unidos com uma cara mais suave, menos guerreira, mais negociadora e até mais ética e mais utópica. É como se o mundo estivesse dizendo: renove-se América, para a gente aceitar vocês, antes que os chineses comecem a surgir com força política e militar e imponha sua cara mais dura.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
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