Uma das grandes tendências da questão indígena brasileira atual é o processo de urbanização das populações indígenas. Para o bem ou para o mal, não sabemos.
O fato é que, em diversas cidades brasileiras, especialmente Manaus, Boa Vista, Rio Branco, Porto Velho, Belém, Curitiba, Porto Alegre, Recife, além do Rio de Janeiro e São Paulo, a quantidade de índios vivendo e trabalhando tem aumentado muito nos últimos 10 anos e especialmente nos últimos três anos.
O que será dessas populações migrantes? Como sobreviverão nas novas condições urbanas? Que nicho econômico pode ser abrir para eles? Serão trabalhadores em fábricas, professores, donos de pequenas empresas, ou sofrerão as conseqüências da pobreza?
Nas grandes cidades, como Manaus e São Paulo, os índios vivem em condições muito difíceis de moradia, de saúde, de trabalho e de educação. Sem trabalho, passam a depender dos favores dos programas do governo, dos parcos recursos da FUNAI, dos empregos e biscates, ou da caridade alheia.
Eis que Curitiba vem à frente com um programa de construção de casas para diversas famílias de índios Kaingang, Guarani e Xetá que lá vivem em condições péssimas. Segundo o administrador da FUNAI em Curitiba, Glênio Alvarez, essas famílias se mudaram para Curitiba muitos anos atrás e provavelmente não voltariam mais para suas terras originais. No caso dos Xetá, que são somente três indivíduos, a vivência em Curitiba é permanente.
Tornarem-se índios urbanos tem sido uma decisão cada vez mais frequente.
Assim, a decisão do prefeito Beto Richa foi de escolher um local na periferia da cidade, mas com algumas condições de estar perto de mata ou da natureza, para construir residências para essas famílias indígenas e fornecer-lhes as condições para pagar pelas despesas de água e luz, com a proteção da área de preservação ambiental que lhes fica vizinha.
Grande idéia, grande decisão, grande política. Aliás, devemos lembrar que alguns anos atrás o atual governador do Mato Grosso do Sul, André Pulcinelli, quando era prefeito da capital, Campo Grande, fez o mesmo para diversas famílias Terena e Guarani. Hoje eles moram num bairro com o nome de Marçal Tupa-y.
Infelizmente, pelo que sabemos algumas famílias terminaram vendendo suas moradias para não indígenas e agora moram de favor em casas de parentes. No caso de Curitiba, o compromisso das famílias indígenas é de não vender ou alocar quaisquer outras pessoas nas casas que receberão. Vamos torcer para que tudo dê certo em Curitiba.
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Aldeia indígena de Curitiba fica pronta até o final do ano
Serão instaladas 35 famílias guarani, caingangue e xetá
Bem Paraná, Curitiba
Até o fim deste ano a primeira aldeia indígena urbana de Curitiba, em construção no Campo de Santana, deve ser entregue pela Prefeitura de Curitiba. Chama-se Kakané Porã, que significa fruto bom da terra. Em uma área de 44.000 metros quadrados, serão instaladas 35 famílias das etnias guarani, caingangue e xetá, originárias do interior do Paraná e Santa Catarina, que vivem na periferia de Curitiba.
A aldeia está sendo construída na rua Delegado Bruno de Almeida, com recursos do Fundo Municipal de Habitação. As famílias terão moradias de qualidade, acesso a serviços de saúde e educação para as crianças nas escolas da região. "Esse empreendimento elimina um problema social e outro ambiental, porque parte dessas famílias vive irregularmente em área de preservação na reserva biológica do Cambuí, no Parque Iguaçu, e outras em favelas", diz o presidente da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), Mounir Chaowiche.
Das tribos representadas na comunidade, uma delas, a dos xetás, tem uma particularidade. A etnia, em extinção, tem apenas sete representantes em todo mundo, dos quais três vivem em Curitiba. "A comunidade indígena que vive no Parque Iguaçu estava desabrigada e não tinha endereço", afirma o cacique Carlos Kajer. "Todos sabem que o índio tem uma ligação muito grande com a terra e, por isso, não ter um lugar definitivo para morar era muito triste. Agora, recuperamos nossa identidade."
Aldeia - A aldeia Kakané Porã vai funcionar como um condomínio de casas, sem cercas divisórias. A idéia inicial foi reproduzir alguns componentes de uma comunidade indígena. As casas estão dispostas ao redor de uma praça, onde a Secretaria Municipal do Meio Ambiente construiu uma pequena choupana para servir como espaço de convivência.
As construções são diferenciadas dos outros empreendimentos da Cohab. Cada casa tem em torno de 38 metros quadrados, com sala, dois quartos, cozinha e banheiro. A sala não tem paredes externas, para preservar o contato do índio com o ar livre. "Vemos com muito bons olhos a sensibilidade da iniciativa da Prefeitura de Curitiba e da Cohab em destinar esta área a esse grupo indígena", afirma Glênio da Costa Alvarez, administrador regional da FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO (FUNAI) em Curitiba. "Muitos deles têm empregos, outros vivem da venda de artesanato, inclusive em feiras mantidas pelo Município, e dificilmente voltariam para suas terras de origem", completa.
De acordo com um termo de comodato entre a Prefeitura de Curitiba e a FUNAI, as famílias não poderão ceder, nem vender, nem desvirtuar o uso residencial dos imóveis. O grupo terá incentivo para manter hortas e pomar naquele espaço, como é feito nas aldeias, e acesso aos programas oferecidos pela FUNAI e pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
Mesmo não tendo que pagar pelos imóveis, cada família pagará os custos com água e energia elétrica, por exemplo. Os índios também se comprometeram a cuidar de um bosque existente na área da aldeia.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
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Um comentário:
Isso sim é política indigenista decente.
Não trata o indio como um animal irracional, nem dá tudo de mão beijada, mas fornece condições e exige responsabilidade, integrando-os á sociedade.
Parabéns Richa.
Pena que a maioria dos antropólogos não sejam assim...
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