sábado, 4 de abril de 2009
Sertanista José Carlos Meirelles fala da situação crítica dos índios na fronteira com o Peru
Em recente passagem por Brasília, o sertanista José Carlos Meirelles, que há mais de 30 anos vive no meio da floresta acreana resguardando os direitos territoriais de diversos povos indígenas, foi entrevistado pelo Correio Braziliense e deu um depoimento sobre a situação extremamente crítica que está vivenciando no alto Rio Envira, na fronteira com o Peru.
Segundo Meirelles, cada vez mais grupos de índios que vivem no Peru estão se deslocando e fazendo moradia dentro de território brasileiro. Recentemente, 60 deles apareceram no Seringal Liberdade, onde os ribeirinhos acreanos criaram um lugar de culto, e amedrontaram todo mundo.
A matéria abaixo merece nossa atenção. Algo terá que ser feito em breve. Talvez o contato com alguns desses grupos ser fará necessário devido à sua expansão por territórios que pertencem a outros povos indígenas do Acre.
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Índios peruanos buscam abrigo no Amazonas
Funai afirma ter constatado a existência, no Amazonas, de índios isolados vindos da Reserva Territorial Murunahua. Quatro grupos estariam fugindo da devastação da região original no país vizinho
Edson Luiz - Correio Braziliense
Sertanistas calculam que, desde 2008, população já tenha crescido para 600 pessoas Sertanistas da Fundação Nacional do Índio (Funai) descobriram casualmente, por imagens do Google Earth, a entrada no Brasil de índios peruanos isolados, próximo ao Rio Envira, no Acre. O grupo ainda não foi identificado, mas a Funai acredita tratar-se de integrantes da etnia Pano, que estariam fugindo da devastação da Reserva Territorial Murunahua, no departamento de Pucallpa. Até agora, foram localizadas duas malocas com aproximadamente 60 pessoas. Uma outra tribo, provavelmente nômade, e também peruana, migrou durante o verão para um local que fica a 50km da cidade de Santa Rosa, às margens do Rio Purus. A estimativa é de que existam na região cerca de 600 índios arredios.
Os sertanistas já tinham informações sobre a entrada de índios arredios peruanos em território brasileiro, mas a certeza surgiu por acaso. “Um amigo me mostrou imagens do Google Earth de uma clareira no meio da floresta, em uma mesma região onde já havíamos ouvido gritos de pessoas por várias vezes quando passamos de barco em uma expedição”, afirma o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, responsável pela Frente de Proteção Etnoambiental Rio Envira, criada há 10 anos pela Funai. Segundo ele, as coordenadas indicadas pelo Google Earth foram localizadas por GPS e em seguida um sobrevoo no local, em abril do ano passado, confirmou a presença dos índios peruanos.
Os levantamentos feitos por Meirelles indicam que existem pelo menos três grupos indígenas isolados na região do Rio Envira, sendo que dois deles estão no local há vários anos. “Notamos que também está havendo um crescimento populacional”, conta o sertanista. A outra tribo está no Igarapé Xinane, e veio do Peru há pelo menos dois anos, quando começou a devastação de suas terras por madeireiros que atuam no Parque Nacional Alto Purús. A Funai não sabe exatamente como eles são, mas pelo tipo de maloca e alimentação, acreditam serem índios panos, que deram origem a várias etnias brasileiras que também vivem próximas à fronteira.
Um quarto grupo foi localizado próximo ao município acreano de Santa Rosa, mas seria uma outra etnia, provavelmente Mashco-Piro, que são nômades. Eles migram e passam uma temporada em várias regiões. Atualmente, a tribo ocupa uma área localizada entre os Rios Envira, Iaco e Chandless — os dois últimos afluentes do Rio Purus. O deslocamento ocorre principalmente durante o verão, quando as chuvas diminuem na Amazônia brasileira. “Por volta de 1910, Felizardo Teixeira, um cearense amansador de índios arredios que vivia no Acre, descreveu como eram os índios da época, e as características são as mesmas dos peruanos e de outras etnias isoladas da região”, observa Meirelles.
Cultivo
A exceção fica por conta das moradias. Enquanto que o grupo vindo do Peru habita duas malocas coletivas, com 60 a 70 pessoas, os outros que já estavam no local têm residência individual. Os moradores da área do Rio Purús, por sua vez, têm malocas espalhadas e de arquitetura diferente e cobertas de palhas novas, o que indica que são recém-chegados. Os roçados também são diferenciados, mas o cultivo de milho, banana, mamão e mandioca é comum entre todos. Um dos grupos, entretanto, produz algodão para a confecção de mantas e redes.
No sobrevoo feito por Meirelles no ano passado, ele pôde observar crianças entre índios adultos em antigas malocas, já identificadas, mas não viu nenhuma pessoa no grupo oriundo do Peru. A suspeita é de que todos se esconderam quando ouviram o barulho do avião. “Quando fogem é sinal de que tiveram experiência traumática no passado, principalmente com fatos relacionados a madeireiros”, explica Meirelles. Segundo ele, nas outras tribos, os moradores não se intimidaram com a aeronave e atiraram flechas para o alto.
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2 comentários:
Um país multiétnico como o nosso, que abriga gregos e troianos, além de acusados de assassinato estrangeiros, por que não pode dar abrigo a mais estas vítimas da globalização???
Não somente madeireiros afugentam os índios peruanos, as ações da Petrobrás naquela região têm demonstrado sua irresponsabilidade pérfida para com esses Povos, já não basta o que já fizeram no Brasil nos anos 70/80 ?
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