Bem, é divertido ver pessoas dizerem que resolvem a questão indígena no Brasil. Alguns falam por falar, pois pensam que tudo podem. Quanto estão no poder, dão com os burros n´água e terminam prejudicando os próprios índios, a quem eles pretendem salvar. Outros falam porque vêem uma parte do problema e acham que se tocar só nessa parte as outras se resolvem. Outros falam por romantismo ou por amor desmesurado.
Talvez seja esse o caso de Marco Bechis, o diretor do filme "Observadores de pássaros", o filme que faz furor no Festival Internacional de Cinema de Veneza.
Ainda não vimos seu filme, mas já estamos lhe dando muito crédito. Até para sua palavra de amor desmesurado.
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"Se eu fosse presidente do Brasil, resolveria o problema dos índios", diz diretor de "BirdWatchers"
MARIANE MORISAWA, Colaboração para o UOL, de Veneza
Marco Bechis nasceu no Chile, morou no Brasil e hoje está radicado na Itália. Ele queria fazer um filme sobre o "maior genocídio da história", o dos povos indígenas nas Américas, e foi procurar histórias. Encontrou a dos guarani-caiowás, no Mato Grosso do Sul. Acuado pelas plantações de soja, sem floresta onde poderiam caçar e pescar, sem água, um grupo resolveu retomar a terra. Essa trama, protagonizada por índios guarani-caiowás, aparece em "BirdWatchers", co-produção da brasileira Gullane Filmes com a Itália, que causou boa impressão em Veneza. O diretor falou com o UOL numa mesa-redonda com a presença de jornalistas de diversos países da Europa:
Esta temporada em Veneza deve estar cheia de novidades para os guarani-caiowás, não?
Eles nunca tinham viajado de avião, nunca tinham visto o mar, nem comido uma maçã. Mas eu os conheço há quatro anos, e eles são muito curiosos. Ficam prestando atenção em tudo. Mas são 500 anos de convivência com os brancos, não é que eles fiquem muito espantados.
Como surgiu este filme?
Eu fui para o Brasil procurando uma história. Já
tinha estado no Equador, no Peru, na Amazônia quando cheguei ao Mato Grosso do Sul. E encontrei essas pessoas, exatamente como são no filme.
E como foi o trabalho com os atores?
Precisei tomar cuidado para não construí-los, torná-los atores à maneira européia. Tive ajuda do preparador Luiz Mário. O maior problema foi ensiná-los a respeitar os silêncios, porque eles saíam falando sem parar. E eu dizia: "Vocês vão estar lado a lado com atores profissionais, e o ator profissional sabe olhar para você e passar a emoção sem dizer nada. E nesse momento, ele está ganhando a atenção do espectador, e vocês estão perdendo". E aí funcionou.
A questão dos povos indígenas é insolúvel?
Não, eu tenho a solução. Se eu fosse presidente por um ano, eu resolveria. Eles não querem toda a terra que tinham quando os portugueses chegaram. Mas hoje eles estão fechados numa área muito pequena. Há 50 anos, foi criada uma lei que dizia que as terras poderiam ser cultivadas, desde que 20% do território permanecesse floresta. E hoje a média é de 2%. Esses 20% seriam suficientes. Só que os fazendeiros não querem abrir mão de nada.
O que você acha que o presidente do Brasil vai achar do filme?
Eu gostaria muito de convidá-lo para uma exibição, com a presença de alguns dos índios, claro. Eu acho que ele é um bom político e provavelmente eu teria votado nele na época e votaria hoje, até porque não há alternativa. Mas ele não é muito eficiente em algumas coisas. Não que essa questão do índio seja culpa dele, mas acho que ele deveria ser mais claro e dizer por que não faz nada a respeito, mesmo que existam outros interesses por trás dessa falta de ação.
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
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Um comentário:
Gostaria de ve o filme antes de comentar algo..........
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