terça-feira, 2 de setembro de 2008
Filme sobre Guarani faz sucesso em Veneza
Um novo filme sobre povos indígenas está "bombando" no Festival de Cinema em Veneza. Pode até ganhar o prêmio máximo do festival, o troféu Leão de Ouro.
Desta vez é um filme sobre os índios Guarani produzido e dirigido por um cineasta de origem italiano-chilena mas com grande vivência no Brasil, Marco Bechis.
O filme aparece com o título em inglês "Birdwatchers", ou, "Observadores de pássaros", e foi feito com a atuação de mais de 200 índios Guarani. Trata de aspectos da vida daquele povo em reduzidas terras do Mato Grosso do sul. Uma das cenas mais chocantes, segundo as reportagens (pois o filme ainda não passou no Brasil), é aquela em que os atores Guarani simulam a invasão de uma fazenda a partir de um acampamento de beira de estrada. Evento, aliás, não infreqüente na região de Mato Grosso do Sul.
O filme foi feito a partir de Dourados, cidade que é o epicentro do drama indígena Guarani. Vem muito a calhar nessa época de crise e conflito no Mato Grosso do Sul.
Em entrevista recente, um ator brasileiro do filme tentou explicar para os estrangeiros que se admiraram do filme que o presidente Lula tem feito o possível para dar boas condições de vida aos Guarani, mas que vem sendo impedido pelas forças anti-indígenas dominadas pelos fazendeiros.
Vamos esperar a exibição desse filme para analisarmo-lo melhor, seja pelo empolgamento da questão social, seja pela estética de filme de denúncia.
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Críticos de Veneza aplaudem filme sobre índios brasileiros
Reuters
VENEZA - Um novo filme italiano leva à tela o conflito entre índios e fazendeiros no Brasil, explorando o choque entre dois mundos sobre o pano de fundo das disputas pela terra, o encolhimento das florestas e a miséria.
O tapete vermelho em Veneza
"Birdwatchers", que faz parte da mostra competitiva do Festival de Cinema de Veneza, foi aplaudido calorosamente quando foi exibido para a imprensa na segunda-feira, gerando esperança de que um dos quatro trabalhos italianos da competição oficial possa levar o prêmio máximo do festival, o Leão de Ouro.
Ambientado no Mato Grosso do Sul, o filme foca um grupo de índios guarani-kaiowá que não têm outra perspectiva na vida senão trabalhar para fazendeiros, em condições de escravidão, e ganhar alguns trocados posando para fotos com turistas.
Impelidos pela fome e os suicídios que se repetem em sua comunidade, os índios decidem deixar sua reserva e acampar diante de uma fazenda para reivindicar a devolução de suas terras ancestrais.
Metade documentário e metade ficção, o filme traz 230 guaranis em seu primeiro trabalho como atores, ao lado de atores italianos e brasileiros, entre eles Matheus Nachtergaele e Leonardo Medeiros, em papéis secundários. Os atores falam suas línguas locais, e o filme é legendado.
O diretor italiano Marco Bechis, filho de mãe chilena que cresceu no Brasil, disse que seu filme trata "dos sobreviventes de um dos maiores genocídios da história".
Me faz chorar saber que tantas crianças estão morrendo, tantos de nós estamos morrendo
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, a população indígena era de estimados 5 milhões de pessoas. Ao longo dos séculos os índios foram escravizados, foram alvos de campanhas de extermínio e vítimas das doenças e do descaso.
Hoje, segundo o grupo Survival International, eles chegam a cerca de 460 mil, de mais ou menos 230 tribos.
Suicídios
Os principais personagens guaranis, que viajaram a Veneza para a estréia do filme, descreveram sua situação numa coletiva de imprensa em clima de emoção.
"Me faz chorar saber que tantas crianças estão morrendo, tantos de nós estamos morrendo", disse Eliane Jucá da Silva, fazendo força para não chorar. "Somos seres humanos, não apenas índios. Temos pensamentos, idéias, nossa cultura, nossa língua. Só queremos uma possibilidade de continuar a viver."
"Vocês brancos - nós vestimos suas roupas, comemos como vocês, e por que isso? Porque nossa terra, nossa floresta que era cheia de árvores, não existe mais", disse ela, falando com a ajuda de um intérprete. "Só queremos um pedaço de chão para plantar nossas roças e caçar".
"Birdwatchers" mostra a devastação causada pelo álcool e a depressão na comunidade indígena, onde aumenta o número de suicídios de jovens frustrados por viverem em reservas, sem conseguir alimentar suas famílias e confusos pelo mundo diferente que os cerca.
Os suicídios acontecem porque não existe justiça. A única justiça é para os empresários que investem bilhões
"Os suicídios acontecem porque não existe justiça. A única justiça é para os empresários que investem bilhões", disse Ambrósio Vilhalva, que representa Nádio, o chefe guarani que lidera a revolta.
Bechis disse que seu filme mostra que a cultura dos indígenas não desapareceu, apesar de eles frequentemente usarem roupas ocidentais.
"Talvez estejamos acostumados demais a vê-los com penas e flechas, sendo que eles só se fantasiam assim para que os fotografemos. Acho que a intensidade de suas tradições religiosas, espirituais e culturais se mantém quase intacta".
"Birdwatchers" é um dos quatro filmes italianos da competição principal. Os dois outros exibidos até agora, "Giovanna's father", de Pupi Avati, e "A perfect day," de Ferzan Ozpetek, dividiram a opinião dos críticos.
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