terça-feira, 2 de setembro de 2008

Índio Terena defende índios Guarani

Quem está cortando um dobrado, na linha de fogo deixada pela atual gestão da Funai, com o caso da criação dos cinco grupos de trabalho para reconhecer terras indígenas no Mato Grosso do Sul, é o administrador da Funai em Campo Grande, o índio Terena Claudionor do Carmo Miranda.

E está se saindo muito bem. Sendo índio Terena, tem defendido com extremo cuidado e desvelo os índios Guarani, que nem estão sob sua jurisdição. Em recente debate na Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul, ele se saiu muito bem em sua argumentação, sem fazer cara feia, nem se dobrar aos argumentos mais agressivos dos fazendeiros e epígonos.

Enquanto isso, na Administração de Dourados, não há nem sinal de igual defesa por parte da administradora local.

Claudionor Miranda foi nomeado administrador da ADR Campo Grande por mim, quando presidente da Funai. Ele é formado em História, tem uma vivência urbana muito intensa, mas guarda um senso de indianidade muito forte em sua vida. Seus argumentos e palavras têm sido importantíssimos na defesa dos Guarani, como bem na defesa dos Terena que estão lutando por mais terras. Recentemente ele esteve na cidade de Miranda tentando negociar a saída de um grupo de índios Terena que adentraram as terras da fazenda de um ex-governador do Mato Grosso do Sul, Pedro Pedrossian. Os índios ainda não se retiraram, a situação está tensa, mas Claudionor tem sido um esteio de bom senso e equilíbrio. Tomara que possa alcançar êxito em sua atuação.

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Administrador da Funai diz que índios são discriminados

MidiaMax, por Paulo Fernandes


Comissão da OAB discutiu propostas para que estudo sobre a demarcação de terras não gere violência

Durante a Conferência Estadual promovida pelo Movimento MS Contra a Violência para debater questões da alçada federal relacionadas a Mato Grosso do Sul, o administrador regional da Funai (Fundação Nacional do Índio), Claudionor do Carmo Miranda, fez um apelo para que haja isenção na discussão sobre os estudos para possível demarcação de terras. A Conferência aconteceu nesta segunda-feira, na sede da OAB/MS, em Campo Grande.

Antes mesmo do início do evento, o administrador da Funai afirmou ao Campo Grande News que os deputados federais e senadores de Mato Grosso do Sul têm tomado a defesa dos produtores rurais. “No Congresso, temos encontrado dificuldade. Não há isenção. O direito de um não pode sobrepor ao de outro. Também consumimos produtos e pagamos impostos. Não somos inferiores ou superiores a ninguém, somos filhos de um único Deus”, afirmou,

Foi um desabafo, de quem responsabiliza o Estado brasileiro pela não-demarcação de áreas indígenas e culpa a sociedade pelo alto índice de suicídio de índios. “Nosso povo está morrendo. O nosso povo indígena é muito sentimental. Não é só a violência física que nos preocupa. A palavra e o gesto podem causar o suicídio do índio”, afirma.

Para a Funai, a falta de terras também está ligada à perda de identidade e ao suicídio de índios. Mato Grosso do Sul tem a 2ª maior população indígena do País, com 65 mil indígenas - 25 mil deles da etnia guarani kaiowá, 16 mil terena, além de kadiweu, guató, ofaié e atikum (estes últimos não são originários do Estado, mas vindos de Pernambuco atrás de uma vida melhor).

O levantamento da Fundação é sobre uma área de 76.707 km, em 26 municípios, o equivalente a 22% da área do Estado, ou 1/3 da área economicamente aproveitável. A região é responsável por 60% da produção de alimentos de Mato Grosso do Sul.

Claudionor do Carmo Miranda condena ainda as propostas que ferem a identidade cultural indígena, como deslocar índios para áreas que não eram ocupadas pelos antepassados deles. “Colocar garani e kadiwew juntos é promover o genocídio. Não dá certo”, disse.

Ele também diz que a declaração de que a demarcação de terras indígenas pode afetar a soberania nacional é no mínimo precipitada. “Como podem afirmar isso se sequer os estudos foram feitos?”. questiona. “Não queremos ser considerados como um perigo para a Nação. Nós queremos fazer parte da construção deste Estado”, afirma.

Em agosto, o advogado Newley Amarilha, que defende produtores rurais da região Sul do Estado, havia afirmado que a demarcação de terras indígenas poderia afetar a soberania nacional já que uma carta política da ONU (Organização das Nações Unidas), ainda não aprovada pelo Congresso Nacional, dá caráter de nação independente aos índios.

Newley acredita que existem interesses internacionais de que o Brasil perca território e argumenta que o levantamento da Funai é patrocinado por bancos internacionais (Rain Forest Trust Fund, da ONU, e Kreditanstalt für Wiederaufbau, da Alemanha). Os recursos desses bancos são usados para pagar antropólogos, ecólogos, geógrafos e outros estudiosos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Discordando democráticamente, a Administradora da FUNAI em Dourados tem sim defendido com ênfase os Kaiowá, tanto que está sendo ameaçada pelos fazendeiros locais. Sem falar nas brigas que comprou com missionários evangélicos que entram nas aldeias para incendiar as Casas de Reza, e como juízes que colocam crianças indígenas para a adoção.

Anônimo disse...

Pra mim uma grata surpresa esse posicionamento do Claudionor em fazer o enfrentamento dessa sinfonia de ataques a questão indígena brasileira. Como historiador me sinto contemplado, sobretudo na falácia de ameaça à soberania nacional.

 
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