sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Pataxó lutam por demarcar suas terras em Porto Seguro

Há anos os Pataxó da região de Porto Seguro vêm tentando com muita paciência e inteligência ampliar seu território indígena a partir da aldeia-mãe Barra Velha. Sempre com dificuldades. Uma antropóloga da Universidade Federal da Bahia passou anos prometendo aos índios que entregaria seu relatório à Funai com uma área que chegava a quase 200.000 hectares. Recebeu da Funai e nunca entregou esse relatório Agora oferece nova ilusão, menor do que aquela que dizia que iria fazer, e que a maioria dos Pataxó desconsiderava.

Quando era presidente da Funai conversei muito com os Pataxó daquela região, seja em Brasília, seja em Porto Seguro. Ficou decidido que haveria uma possibilidade bastante razoável de demarcar esse território em quatro partes, dado o fato de que o disperçamento de famílias Pataxó se dera a partir de Barra Velha e se fixara em áreas não contíguas. A antropóloga Leila Sotto Maior desenhou essa possibilidade e neste ano a Funai publicou os relatórios.

Mesmo assim vai ser dificílimo demarcar essas terras. Mesmo com a simpatia do governador da Bahia, que é bom sujeito e sabe da necessidade dos índios. Haverá pressão de todos os lados. Os políticos vão se juntar aos políticos do Mato Grosso do Sul e de Roraima para protestar no Congresso e entrar em juízo. Os investimentos turísticos vão tentar arregimentar apoios de todos os lados, inclusive de gente da TV Globo.

Assim, não há porque os índios se dividirem e voltarem a achar que o canto de sereia, a ilusão de demarcar uma área de 120.000 hectares é possível. Isto é o que um outro antropólogo vendedor de ilusões convenceu a Funai a fazer no Mato Grosso do Sul, cujas conseqüências os índios estão sofrendo e que a Funai vai ser forçada a recuar, deixando todos em frustração incomensurável.

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Demarcação assusta hoteleiros

A Tarde, por Mário Bittencourt e Leonardo Leão LEÃO


A demarcação de duas áreas para ampliação de terras indígenas no extremo sul da Bahia pode significar a perda de investimentos feitos em hotéis, pousadas e restaurantes, construídos no litoral.

Quem tinha planos de começar a construir este ano quer vender a terra e não acha comprador.

As duas áreas estão nos municípios de Porto Seguro, Itamaraju e Prado. Uma delas já está com a área pré-delimitada: Barra Velha, com 52.748 hectares e perímetro de 137 km. Esta é a nova demarpara cação da secular Aldeia Barra Velha, onde vivem cerca de 4,5 mil índios nos atuais 8.627 hectares, medida pela FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO (FUNAI), em 1981.

A outra área, que engloba as aldeias Kay e Pequi e cujo laudo tem previsão para ser publicado em setembro, abrange cerca de 28 mil hectares, incluindo 40 km de praia, onde estão os hotéis.

Em relação ao estudo sobre Barra Velha, os proprietários das cerca de 90 fazendas que ficaram na área demarcada têm até o dia 16 de setembro para contestar a medida. E enquanto o laudo da outra área não é publicado oficialmente, os empresários do turismo decidiram parar tudo.

RISCO -Caso a FUNAI decida que a área é de fato a prevista nos dois laudos da antropóloga Leila Sotto Maior, que é vinculada dos quadros do órgão, sobrarão apenas pequenos lugares para o turismo no litoral abaixo de Trancoso, como a área urbana de Cumuruxatiba, distrito de Prado (a 796 km de Salvador), com menos de 20 estabelecimentos que não atendem à demanda, sobretudo no verão.

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Índios querem mais terrenos

A antropóloga Maria Rosário Gonçalves de Carvalho, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), que fez levantamento da área indígena em torno do Monte Pascoal, defende que haja um território contínuo, sem a divisão que há atualmente entre Barra Velha e Kay e Pequi. Ele diz ter dado entrada em uma contestação administrativa junto à FUNAI contra a demarcação feita pela antropóloga Leila Sotto Maior.

Rosário afirma que fez seu relatório com base no que os índios pediram: cerca de 120 mil hectares.

"Prefiro não comentar sobre o laudo da antropóloga Leila Sotto Maior. Deixo isto para a FUNAI", frisou. O chefe da FUNAI em Itamaraju, Zezito Ferreira dos Santos, conhecido como Zezito Pataxó, foi esta semana a Brasília pressionar o órgão na aceleração da demarcação das aldeias de Kay e Pequi.

Um dos coordenadores do Conselho Indigenista Missionário (CIM) em Eunápolis (643 km de Salvador), Sumário Santana, também defende que a área demarcada para a Aldeia de Barra Velha seja ampliada.

A proposta de ampliação da terra indígena de Barra Velha inclui o Parque Nacional do Monte Pascoal, em área de 25.492 hectares, e mais 27.250 hectares de terra de propriedades particulares.

A aldeia-mãe é composta ainda pelos grupos da Boca da Mata, Meio da Mata, Guaxuma, Trevo do Parque, Pé do Monte, Aldeia Nova, Águas Belas, Corumbauzinho, Craveiro, Cassiana e Bugigão.

8 comentários:

Anônimo disse...

Olá Mércio, como vai?
ando tão decepcionada com alguns antropólogos que se dizem compromissados com os índios...
A Sra. Rosário passou 9 anos enrolando os Pataxó agora vem com esse discurso! você bem sabe tudo que passei e lutei para que esse processo fosse adiante...as batalhas com IBAMA, MMA, CIMI, ANAI, fazendeiros, amesças e tantos outros...agora todos querem levar algo.
Pretendo até o final do ano entregar o relatório do Cahy e para isso tenho trabalhado dia e noite.
Até outra hora

Anônimo disse...

Prezada Leila, por acaso alguma vez entrou em contato com as comunidades do Corumbau, Veleiro e Cumuruxatiba, indígenas e não indígenas para se inteirar da realidade que hoje se vive na região e que será colocada em questão com essa demarcação??
Sabe da vontade dos índios da região??? o que realmente pretendem??? pois pelo que sei, não pretendem uma demarcação nos moldes que a Senhora insiste em fazer.

Anônimo disse...

Mércio, por que não modificar a idéia de "reservas" (que leva o indígena a sobreviver como na era de Cabral - idéias de antropólogos conservacionistas) para a idéia de "comunidades-colônias" no qual o indígena seria inserido na sociedade contemporânea conjuntamente com as comunidades não-indígenas, assegurando o fomento público para o seu desenvolvimento educacional, econômico e cultural (como é para os negros africanos ou colônias japonesas, italianas).

Anônimo disse...

Senhor Edsom Almeida, desculpe meter a colher mas quem foi que disse que existe essa idéia de manter os índios "como na era de cabral"? O mais próximo que existe disso é a política de proteção aos índios isolados, para evitar que sejam dizimados por nossas doenças e garantir que entrem em contato quando assim acharem melhor. No mais, o que se quer é apenas que os índios possam ter um espaço territorial seguro para que o contato inevitável com nossa "civilização" não signifique necessariamente a desagregação das comunidades. Sua idéia de "comunidades-colônia" é lamentável, algo como um curso intensivo de aculturação e assimilação. Os Pataxó da Bahia, meu caro, estão em contato com nossa sociedade há 500 anos, falam português, estudam, etc, etc. Seu esforço atual é justamente para recuperar parte de suas tradições perdidas. Quanto à minha amiga Leila Maior ( é mesmo a Maior, rsrsrs)assino embaixo de sua dedicação e compromisso. É muito fácil alguém propor 120 mil hectares contínuos no sul da Bahia, dizendo que "os índios pediram" e depois malhar uma funcionária da FUNAI que enfrentou as maiores pressões para definir os limites atuais. Mande um Rosário para a dona Maria.

Anônimo disse...

todo mundo come o dinheiro público e não estão nem aí para os índios. são mentirosos e ordinários e devem receber seu castigo não das mãos dos homens, e sim das suas conciencias egoistas e sujas. enquanto voces gastan dinheiro do contribuinte para dizer que estão estudando a mentira da perambulação, deixam os pobrezinhos morrerem de fome, disenteria, malária, bicho de pé, sífilis e tuberculose. usam eles como carne de canhão, para sair invadindo os lugares mentindo que são antigos. lavam o cérebro deles. voces merecem viver em uma aldeia, ver suas filinhas se prostituirem com gringos e depender de vender colarzinho para sobreviver. palhaços. Assinado: Flor de Ingá. India Pataxó por adoção.

Anônimo disse...

Senhor anônimo conservacionista, a idéia de comunidades colônia já foi praticada no Brasil pelos missionários e tentadas por alguns militares reacionários.
A evolução do pensamento sobre o Estado não permite mais idéias como essa, estão ultrapassadas e desfavoráveis aos avanços conquistados pelos Direitos Humanos...

Anônimo disse...

Meus caros colegas...meu caro amigo Cavaleiro...não entro definitivamente em certas discussões! Conheço toda região em que trabalho, conheço indios e não-índios de Corumbau, Cumuruxatiba, Caraíva, Veleiro, Japara, e todos os pontos imites das propostas!
Longas entrevistas, conversas, dias, meses, anos convivendo no dia a dia de todos...
Sei o que cada um deles pensa, ah isso sei mesmo!!!!
Também sei o que cada um faz...Se uma Portuguesa que chegou no Brasil a menos de 5 anos e constroe uma pousada (1 ano) e fecha todo acesso, utilizando os índios como mão de obra barata (quase escrava) pode mais que tudo!!!
Agora se acham que estou sendo irresponsável posso deixar o caso para Sra. Rosário e o CIMI que sem conhecer de fato as reivinidações de todos índios jogam no ar falas irresponsáveis e absurdas.
Gostaria apenas de dizer uma coisa, se as pousadas, fazendas, hoteis e casas de gringos não fechassem (posses de menos de 15 anos) a passagem impedindo o direito de ir e vir dos índios e até de nós pobres mortais que não temos 1.200 dólares para pagar em uma pousada, nada disso estaria acontecendo!!!! Os índios sempre viveram ali...quem chegou depois foram eles gringos que chegam no Brasil lavar seu dinheiro sujo e acham que tem direito sobre as terras dos verdadeiros donos delas...os índios (verdadeiros brasileiros) que são impedidos de andar livremente pelas estradas e prais que durante séculos usaram para pescar e sobreviver. Sei das mazelas da política indigenista mas apenas quem paga por elas são os índios!!! Trata-se de uma divida histórica e tenham certeza que durmo em paz, pois sei que faço minha parte...amigo carrano quem tem essas idéias reacionárias e conservacionistas tenho a certeza que nunca nem estudou história na escola primária...

Anônimo disse...

Prezados,
será possivel que alguém me informe se a Leila que fez o último comentário neste blog é a Leila Silvia Sotto-Maior que está a fazer o Estudo para demarcação da TI Comexatiba?
Muito Obrigada.

 
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